quarta-feira, 19 de maio de 2010

Para Colin Chapman

Dear Colin:

Ao contrário de alguns podem querer passar, eu tenho a certeza que estás morto, e bem morto, fulminado por aquele ataque cardíaco que tiveste naquele já longo 14 de Dezembro de 1982, depois de teres vindo de Paris. Contudo, posso te dizer que de vez em quando, especialmente nos 1º de Abril, soltamos umas risadas quando escrevemos aquelas noticias de que tu estás vivo, algures no Mato Grosso, e és instrutor de vôo, com um filho chamado Clarque... as risadas que mandamos aqui na Terra!

Mas enfim, escrevo-te isto para dizer o quanto é que te admiro. Pelo projecto que ergueste, pelas ideias que tu tiveste, pela extraordinária contribuição que deste ao automobilismo em geral e à Formula 1 em particular. Foste tu que nos abriste um novo capitulo, totalmente diferente daquele que as pessoas julgavam não existir. Podes não ter sido o primeiro, mas tu escancartaste a porta, no dia em que começaste a usar aquelas asas, e depois decidiste fazer um carro totalmente dependetne da aerodinâmica, aquilo que todos nós chamamos de efeito-solo. Uma asa invertida num carro para o agarrar no solo. Que ideia genial, Colin!

Tinhas jeito para a mecânica e quiseste um sitio para passar as tuas ideias do papel para a prática. Foi por isso que fizeste a Lotus, para construir os teus carros para a competição e vendê-los ao público em geral. Hoje em dia os teus carros continuam a ser vendidos e admirados um pouco por todo o mundo. E a um preço acessível, pois é mais barato ter um Lotus Elise do que ter um Porsche 911 ou um Ferrari qualquer. Nâo querias mostrar elite (apesar de teres um modelo com esse nome) mas querias que o dono do carro tivesse orgulho em ser proprietário de um carro que vencesse corridas, como acontecia a cada 15 dias, com modelos de competição lendários como o 49, 72, 79 ou depois de tu morreres, o 98T.

O chato é que as tuas ideias faziam arriscar os pescoços dos teus pilotos. Deve-te ter sido díficil que uma das tuas criaçõester matado um dos teus melhores amigos, o Jim Clark. Ou a tua nova obcessão, o Jochen Rindt. E mais tarde outro dos teus pilotos mais queridos, o Ronnie Peterson. E foi pena não teres conhecido e trabalhado com o Ayrton Senna. Acho que terias gostado desse génio das pistas, terias ficado imediatamente atraído por ele e não deixasses largar por nada deste mundo...

Mas não te compreendo outras facetas tuas. Estavas assim tão desesperado para assinares um "pacto com o Diabo", na forma de John DeLorean? Ou ainda antes, com aqueles milhões que tinha o David Thieme, um tipo tão misterioso aos olhos de todos, que apareceu da noite para o dia com milhões a especular petróleo da sua Essex? estavas assim tão desesperado para salvar a tua equipa, ou era mais uma das tuas facetas, de uma personalidade tão complexa que tu eras, com tantas vidas duplas?

Se calhar, a tua loucura era o preço a pagar por tal genialidade.

Não sei se gostarias desta Formula 1 actual. Decerto tu não permitirias o desaparecimento da tua equipa por 15 anos na categoria máxima do automobilismo, recuperada por entusiastas malaios que anos antes, salvaram a tua companhia automobilistica da extinção. Acho que não ias gostar de ver esta gente toda, que está sedenta de dinheiro, de vitórias, de um regulamento cada vez mais apertado, de ser queixinhas cada vez que qualquer um aparece com um novo gadget aerodinâmico, afirmando que não está de acordo com o regulamento, porque assim se gastaria mais e mais, só para conseguir aquele milésimo de segundo que prmita bater a concorrência. Tu fazias isso, lembras-te? E a concorrência punha as mãos à cabeça sempre que aparecias com mais uma das tuas invenções.

Tens sorte. Hoje em dia continua a haver entusiastas pela tua equipa e mesmo os mais emperdenidos, quando souberam do regresso da tua marca à cena da Formula 1, hoje em dia reconhecem que as pessoas que estão à sua frente são altamente profissionais e altamente competentes, dispostas a honrar o teu nome e o teu legado. Eles estão ansiosos por ver mais uma vez o chapéu que levavas colocado, e que o atiravas ao ar sempre que um dos teus bólidos, conduzidos por Clark, Rindt, Hill, Fittipaldi, Peterson, Andretti e De Angelis, cruzasse a meta em primeiro lugar. Foram 79 vezes, todas elas inesquecíveis. E a cada corrida que passa, acham que a 80ª está para breve.

Caso aconteça, cá estaremos para a comemorar. E tu, onde quer que estejas, espero que sorrias perante mais uma das tuas máquinas.

Sincerly yours, from a truly fan.

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