Na existência do automobilismo, muitos foram os pilotos versáteis em duas e quatro rodas, com carreiras bem sucedidas. John Surtees e Mike Hailwood são os exemplos mais óbvios, mas muitas outras pessoas fizeram também carreira nas duas e quatro rodas, com resultados mais modestos. Um deles foi o britânico Bob Anderson, que teve uma carreira interessante, primeiro em finais dos anos 50 no motociclismo e depois no automobilismo, em plenos anos 60, num carro privado. E é ele que vou falar no dia em que se comemoraria, se estivesse vivo, 79 anos de idade.
Nascido a 19 de Maio de 1931 em Hedon, nos arredores de Londres, era alguém com sede de aventura. Demasiado novo para participar na II Guerra Mundial, buscou aventura na adrenalina da velocidade. Em meados dos anos 50 começou a correr no motociclismo, primeiro na Grã-Bretanha, mas no final da década já estava a correr no Mundial, nas categorias de 350 e 500cc, aos comandos de uma Norton. Em 1958 alcança o que foi o seu melhor resultado de sempre, um segundo lugar no GP da Suécia, batido por milésimos pelo seu compatriota Geoff Duke. Obteve o mesmo resultado na Isle of Man TT, dando um bom inicio de carreira para o jovem piloto.
Ao longo do final da década de 50 e inicio dos anos 60, Anderson competiu contra piltotos como Geoff Duke, John Surtees, Mike Hailwood, Gary Hocking, John Hartle, entre outros. apesar de não ter vencido oficialmente corridas, era frequente andar entre os primeiros.
Contudo, um acidente no inicio da década de 60 o faz pensar na possibilidade de se transferir para as quatro rodas. John Surtees tinha feito esa transição com sucesso, e Anderson pensava na ideia. Sendo assim, em 1963, com um Lola MK4, constituiu a sua própria equipa e começou a correr em algumas provas. Quando venceu o GP de roma, uma prova extra-campeonato, aventurou-se ainda mais na tarefa, adquirindo no inicio de 1964 um Brabham BT11, equipado com um motor Climax V8 de 1.5 litros.
Sem muito dinheiro, mas com uma vontade enorme de correr, Anderson bons resultados, começando com um sexto lugar em Zandvoort, e o seu primeiro ponto. Mas a sua coroa de glória aconteceu a meio da temporada, em Zeltweg, palco do GP da Austria. O seu carro conseguiu aguentar o asfalto ondulante do aeródromo austriaco e levou o seu Brabham até ao lugar mais baixo do pódio, atrás do Ferrari de Lorenzo Bandini e do BRM de Richie Ginther. Esse resultado fez com que fosse galardoado com o Von Trips Memorial Trophy, atribuido ao privado com melhores resultados naquele ano.
A temporada de 1965 saiu-lhe pior, sem conseguiu pontuar uma unica vez, resultado do facto da concorrência ter melhorado os seus bólidos, algo que Anderson não podia fazer, dado que o dinheiro era pouco para fazer tais altrações. E para piorar as coisas, em 1966 entraria um novo regulamento, obrigando os carros a terem motores de três litros.
Anderson, sem ter muito dinheiro, decidiu arranjar um motor Climax de quatro cilindros em linha, que se baseava em dois motores de 1.5 litros colados um ao outro. Aproveitava sempre as oportunidades que tinha para brilhar, e foi por isso que conseguiu um inesperado sexto lugar no GP de Itália de 1966, conseguindo o seu unico ponto da época. E no inicio de 1967, deslocou-se à Africa do Sul para conseguiu um quinto lugar na prova de Kyalami, um resultado não tão surpreendente, se tivermos em linha de conta que o vencedor foi Pedro Rodriguez, num Cooper-Maserati e o segundo classificado era o local John Love, num motor de 2.8 litros da Tasaman Series...
Mas Anderson era um espirito indomável. Certamente a sua insistência, num mundo que mudava rapidamente, que tinha o topo da tecnologia, onde começavam a aparecer mais equipas de fábrica, deixando cada vez menos espaço para as pequenas equipas privadas, era incrivel ver Anderson "tirar leite de pedra" num carro com três anos de idade, o que já era muito no mundo da Formula 1.
Naquele inicio de 1967, com 36 anos, Anderson considerava abandonar a sua carreira competitiva. Contudo, o resultado da Africa do Sul o fez continuar ao longo da época no seu carro. Em Silverstone, palco do GP da Grã-Bretanha, Anderson foi o 17º na grelha, abandonando na volta 67 devido a problemas de motor. Ia participar na prova seguinte, no Canadá, mas antes disso iria fazer uma sessão de testes um mês depois da corrida, a 14 de Agosto.
Nesse dia tinha chovido na pista, e apesar de estar seco em algumas partes, havia ainda algumas poças de água. Numa sessão de voltas rápidas, Anderson passa por cima de uma dessas poças na curva Woodcote, perde o controlo do seu carro e bate fortemente num posto de comissários, que não estava ocupado na altura. O impacto causou-lhe um forte traumatismo no torax e foi levado para o hospital.
Contudo, o socorro foi mal feito e o transporte mal organizado, dois factores a que levaram ao seu trágico desfecho. Vendo que Bob tinha saído ainda consciente do seu carro, quando na realidade tinha fraturas nas costelas que lhe tinham perfurado os pulmões, o socorro não foi suficientemente rápido, e para piorar as coisas, demorou imenso tempo para chegar ao hospital de Northampton. Quando lá chegou, já estava inconsciente e apesar dos esforços dos médicos, não o conseguiram salvar. Tinha 36 anos.
O legado de Anderson, e de todos os que correram na Formula 1 em equipas privadas foi o daquele que, movido pela paixão da velocidade e imbuido de um espírito indomável, consegiu construir uma carreira interessante, sem o auxilio de organizações maiores ou de equipas de fábrica. Caso tivesse tido esse apoio, provavelmente a sua presença na categoria máxima do automobilismo teria sido mais brilhante, para além daquilo que fez nas duas rodas. No final, passou para a história como um dos últimos verdadeiros pilotos amadores do automobilismo.
Fontes:
http://www.grandprix.com/gpe/drv-andbob.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Bob_Anderson_(racing_driver)
http://formula-1.suite101.com/article.cfm/bob_anderson_formula_1_privateer
Nascido a 19 de Maio de 1931 em Hedon, nos arredores de Londres, era alguém com sede de aventura. Demasiado novo para participar na II Guerra Mundial, buscou aventura na adrenalina da velocidade. Em meados dos anos 50 começou a correr no motociclismo, primeiro na Grã-Bretanha, mas no final da década já estava a correr no Mundial, nas categorias de 350 e 500cc, aos comandos de uma Norton. Em 1958 alcança o que foi o seu melhor resultado de sempre, um segundo lugar no GP da Suécia, batido por milésimos pelo seu compatriota Geoff Duke. Obteve o mesmo resultado na Isle of Man TT, dando um bom inicio de carreira para o jovem piloto.
Ao longo do final da década de 50 e inicio dos anos 60, Anderson competiu contra piltotos como Geoff Duke, John Surtees, Mike Hailwood, Gary Hocking, John Hartle, entre outros. apesar de não ter vencido oficialmente corridas, era frequente andar entre os primeiros.
Contudo, um acidente no inicio da década de 60 o faz pensar na possibilidade de se transferir para as quatro rodas. John Surtees tinha feito esa transição com sucesso, e Anderson pensava na ideia. Sendo assim, em 1963, com um Lola MK4, constituiu a sua própria equipa e começou a correr em algumas provas. Quando venceu o GP de roma, uma prova extra-campeonato, aventurou-se ainda mais na tarefa, adquirindo no inicio de 1964 um Brabham BT11, equipado com um motor Climax V8 de 1.5 litros.
Sem muito dinheiro, mas com uma vontade enorme de correr, Anderson bons resultados, começando com um sexto lugar em Zandvoort, e o seu primeiro ponto. Mas a sua coroa de glória aconteceu a meio da temporada, em Zeltweg, palco do GP da Austria. O seu carro conseguiu aguentar o asfalto ondulante do aeródromo austriaco e levou o seu Brabham até ao lugar mais baixo do pódio, atrás do Ferrari de Lorenzo Bandini e do BRM de Richie Ginther. Esse resultado fez com que fosse galardoado com o Von Trips Memorial Trophy, atribuido ao privado com melhores resultados naquele ano.
A temporada de 1965 saiu-lhe pior, sem conseguiu pontuar uma unica vez, resultado do facto da concorrência ter melhorado os seus bólidos, algo que Anderson não podia fazer, dado que o dinheiro era pouco para fazer tais altrações. E para piorar as coisas, em 1966 entraria um novo regulamento, obrigando os carros a terem motores de três litros.
Anderson, sem ter muito dinheiro, decidiu arranjar um motor Climax de quatro cilindros em linha, que se baseava em dois motores de 1.5 litros colados um ao outro. Aproveitava sempre as oportunidades que tinha para brilhar, e foi por isso que conseguiu um inesperado sexto lugar no GP de Itália de 1966, conseguindo o seu unico ponto da época. E no inicio de 1967, deslocou-se à Africa do Sul para conseguiu um quinto lugar na prova de Kyalami, um resultado não tão surpreendente, se tivermos em linha de conta que o vencedor foi Pedro Rodriguez, num Cooper-Maserati e o segundo classificado era o local John Love, num motor de 2.8 litros da Tasaman Series...
Mas Anderson era um espirito indomável. Certamente a sua insistência, num mundo que mudava rapidamente, que tinha o topo da tecnologia, onde começavam a aparecer mais equipas de fábrica, deixando cada vez menos espaço para as pequenas equipas privadas, era incrivel ver Anderson "tirar leite de pedra" num carro com três anos de idade, o que já era muito no mundo da Formula 1.
Naquele inicio de 1967, com 36 anos, Anderson considerava abandonar a sua carreira competitiva. Contudo, o resultado da Africa do Sul o fez continuar ao longo da época no seu carro. Em Silverstone, palco do GP da Grã-Bretanha, Anderson foi o 17º na grelha, abandonando na volta 67 devido a problemas de motor. Ia participar na prova seguinte, no Canadá, mas antes disso iria fazer uma sessão de testes um mês depois da corrida, a 14 de Agosto.
Nesse dia tinha chovido na pista, e apesar de estar seco em algumas partes, havia ainda algumas poças de água. Numa sessão de voltas rápidas, Anderson passa por cima de uma dessas poças na curva Woodcote, perde o controlo do seu carro e bate fortemente num posto de comissários, que não estava ocupado na altura. O impacto causou-lhe um forte traumatismo no torax e foi levado para o hospital.
Contudo, o socorro foi mal feito e o transporte mal organizado, dois factores a que levaram ao seu trágico desfecho. Vendo que Bob tinha saído ainda consciente do seu carro, quando na realidade tinha fraturas nas costelas que lhe tinham perfurado os pulmões, o socorro não foi suficientemente rápido, e para piorar as coisas, demorou imenso tempo para chegar ao hospital de Northampton. Quando lá chegou, já estava inconsciente e apesar dos esforços dos médicos, não o conseguiram salvar. Tinha 36 anos.
O legado de Anderson, e de todos os que correram na Formula 1 em equipas privadas foi o daquele que, movido pela paixão da velocidade e imbuido de um espírito indomável, consegiu construir uma carreira interessante, sem o auxilio de organizações maiores ou de equipas de fábrica. Caso tivesse tido esse apoio, provavelmente a sua presença na categoria máxima do automobilismo teria sido mais brilhante, para além daquilo que fez nas duas rodas. No final, passou para a história como um dos últimos verdadeiros pilotos amadores do automobilismo.
Fontes:
http://www.grandprix.com/gpe/drv-andbob.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Bob_Anderson_(racing_driver)
http://formula-1.suite101.com/article.cfm/bob_anderson_formula_1_privateer
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