quinta-feira, 14 de outubro de 2010

5ª Coluna: Receios sobre um circuito virgem

Um dos meus melhores amigos trabalhou até há pouco tempo numa construtora civil especializada em estradas, nomeadamente britagem e colocação de asfalto em estrada. Ele me disse que cada caso era um caso, e que mormalmente quando se coloca uma camada nova em estrada, a ideia é fazer um composto que sirva para que no dia seguinte esta seja usada por carros e camiões.

Conto esta história por causa do GP da Coreia do Sul e da grande dúvida que paira no ar: a qualidade do asfalto. Digo isto porque ele deixou-me uma ressalva importante, que aquilo que se coloca nos circuitos não é o mesmo tipo que se coloca numa estrada que usamos no dia-a-dia. Em suma, em vez de me tranquilizar, fez o contrário.

Quero acreditar que a FIA sabia do que fazia quando Charlie Whitting andou em Yeongnam nesta segunda-feira e deu o "selo de aprovação" o circuito. Mas também sei, pelo que oiço e vejo, que existe um enorme ponto de interrogação em relação ao circuito e aquilo que existe à sua volta. Se calhasse ir no próximo fim de semana de 22 a 24 de Outubro à Coreia do Sul, iria com o coração nas mãos. Não seria por causa dos Kim's do norte, não seria pelo desconhecimento da lingua ou do local, mas pelo facto de aquilo tudo ter um ar de estaleiro. Temo que as pessoas que vão lá irão passar por um inferno: instalações por acabar, dificuldades em instalar todos os equipamentos, dificuldades de acesso, dificuldades em pernoitar (pelo que me contam, aquilo tem mais moteis por metro quadrado...) e para piorar as coisas, o asfalto.

Há dois anos, acompoanhei as obras do Autódromo de Portimão, e sei que havia uma prova marcada para a primeira semana de Novembro, e a pista tinha de estar pronta pelo menos na segunda metade de Outubro. E sabia também que o asfalto seria a última coisa que iriam colocar. E colocaram a primeira camada em finais de Agosto, para acabar tudo no inicio de Outubro, afirmando que teriam de esperar três semanas, no minimo, até que a camada se assentasse.

Em Yeongnam, pelo contrário, a última camada de asfalto foi colocada há cerca de dez dias. Muito curto para assentar devidamente. O cenário de ver o asfalto a desfazer à medida que os bólidos circulam nas zonas mais criticas é o maior fantasma que paira sobre os organizadores, e se o pior acontecer, os criticos irão apontar baterias à FIA, FOM e Bernie Ecclestone e gritarão que tinham razão.

Eu estou convencido que eles queriam a corrida na Coreia porque sim. Não interessava quais eram as condições, não interessavam os atrasos, não lhes interessa se o palco à volta seja um autêntico estaleiro de obra, sem condições para os 80 mil ou 90 mil espectadores que lá forem, ainda por cima, se o boletim meteorológico lhes der um fim de semana chuvoso, como foi agora em Suzuka. Queriam a corrida porque estavam no calendário e estão "nas tintas" como é que vão fazer. Isto demonstra o estilo de governo e de escolha de Bernie Ecclestone e da FOM: só lhes intererssam os espectadores, desde que paguem. O resto que se lixe.

Claro, se o pior acontecer, poderemos esperar... o inexpectável. Uma Twilight Zone abaixo do paralelo 38 é uma possibilidade real, dado que num asfalto demasiado novo, e não sabendo como é que os pneus se irão comportar, não se pode contar como garantida uma vitória dos Red Bull e o tal "passo de gigante" rumo ao título. E também não se pode dizer que este será o momento do dia para Fernando Alonso e a sua Ferrari. Esta incerteza tão grande colocada sobre esta pista virgem dá um cunho ainda maior sobre a luta pelo título, que matemáticamente é a cinco, mas por esta altura é mais a três.

Apesar de todas as garantias que dão sobre a Coreia, tenho mais receios do que certezas.

1 comentário:

bet's disse...

Essa tbm está sendo meu medo em relação a Coréia. Não acredito que tenha algo realamente pronto. E essa informação sobre o tempo para asfalato assentar só piora as coisas. Mas acho que isso é flexo do modelo de F1 que Bernie quer. A impressão é que pra F1 é um negócio apenas. Uma grande empresa que tem de ir atrás de onde tem mais lucro. Chega a ser assustador a perspectiva de que os circuitos estão migrando para locais sem estrutura, sem condições, sem tradicionalidade apenas pela ganancia de Bernie e cia.