Esta é a biografia de um senhor alto, bem-educado e bonito, com enorme talento automobilistico. Os seus jeitos cavalheirescos e as suas boas roupas, tipicos de quem veio de uma familia abastada, e dpeois o seu namoro com a cantora e atriz Delia Scala lhe deram fama. Amigo pessoal de Alberto Ascari e Luigi Villoresi, aliado com o seu talento no automobilismo, tornou-se num dos melhores pilotos da sua geração. Contudo, a sua carreira na Formula 1 foi demasiadamente curta para poder demonstrar todo o seu potencial. Primeiro, quando o acidente de Alberto Ascari e a consequente retirada da Lancia, a meio de 1955, lhe inviabilizou usar o modelo em todo o seu potencial, e depois, na Ferrari, o destino encarregou de terminar abruptamente a sua carreira ascendente.
Mas para além da Formula 1, correu nos Turismos, alcançando vitórias em corridas importantes como as Mille Miglia, as 12 Horas de Sebring e os 1000 km de Buenos Aires. No dia em que faria oitenta anos, caso estivesse vivo, falo de Eugenio Castelotti.
De uma familia abastada de Milão, Eugenio Castelotti nasceu na cidade de Lodi a 10 de Outubro de 1930. Com uma infância confortável, apesar de ter crescido durante a II Guerra Mundial, comprou o seu primeiro carro em 1950, aos vinte anos. Era um Ferrari de Sport, e ao longo de 1951 e 52, competiu nos vários eventos um pouco por toda a Itália e na Europa, de forma entusiasta. A mais importante vitória desse ano talvez tenha sido o GP de Portugal, em 1952. Em 1953, participou nas Mille Miglia, uma prova com mais de 1600 km ao longo do centro de Itália. Num carro privado, dá nas vistas ao terminar a corrida na segunda posição. Isso foi mais do que suficiente para que a Lancia o contratasse para a Carrera Panamericana, onde acabou na terceira posição, atrás dos Mercedes de Juan Manuel Fangio e Piero Taruffi. Ainda teve tempo para vencer o campeonato nacional de Montanha.
Chegado o ano de 1954, a Lancia decidiu seguir a Maserati e a Ferrari e desenhar um carro para a Formula 1. Graças a Vittorio Jano, surgiu o modelo D50, mas este só apareceu tarde na temporada, e com Villoresi e Ascari à sua frente em termos de antiguidade e experiência, Castelotti só guiou esse modelo em 1955. Entretanto, corria em outras provas como as Mille Miglia, onde conseguiria bons resultados. contudo, muitas vezes, o seu estilo veloz que imprimia, destruia os seus pneus, e cedia muitas vezes a liderança ou a vitória em favor de pilotos mais inteligentes.
Por fim, chegou a temporada de 1955, e os Lancia eram provavelmente a melhor arma contra o dominio das Mercedes, já que a Ferrari estava em dificuldades. Na Argentina, foi um dos que sucumbiu ao calor intenso do Verão sul-americano de Janeiro, mas na segunda corrida, no Mónaco, foi o melhor dos Lancia, ao ser segundo. Mas o vencedor foi Maurice Trintrignant, no seu Ferrari, algo inesperado, numas corrida onde tudo aconteceu, desde a quebra dos Mercedes até à queda do seu companheiro Ascari à água.
Poucos dias depois, Castelotti estava a testar um Ferrari 650 Supperleggera na pista de Monza quando chegou Ascari e pediu para dar umas voltas antes da hora do almoço. Este acedeu e Ascari pegou no capacete de Castelloti. Partiu e poucos minutos depois teve o seu acidente mortal. Ele ficou inconsolável com a morte do seu amigo e mentor, pois tinha acontecido com o seu carro. Poucos dias depois, a Lancia, que se via com dificuldades financeiras, decidiu sair da Formula 1. Mas não sem antes Castelotti levar um dos seus chassis para o GP da Belgica, em Spa-Francochamps e fazer a pole-position. Infelizmente, a corrida não durou muito tempo e retirou-se com problemas na caixa de velocidades.
A Ferrari decidiu ficar com os chassis e os pilotos da Lancia, devido ao acordo que tinham, e Castelotti entrou na marca de Maranello. Conseguiu mais um pódio, em Monza, quando terminou em terceiro lugar atrás dos Mercedes de Juan Manuel Fangio e Stirling Moss, que faziam ali a sua última com os "Flechas de Prata" em 55 anos.
Em 1956, Castelotti estava na equipa principal, mas os resultados não foram excepcionais. Não venceu e o melhor que conseguiu foi um segundo lugar em Reims, no GP de França, atrás do seu companheiro Peter Collins, numa chegada encenada pela marca. No final desse ano, terminou na sexta posição. Nos Turismos, o ano foi um pouco melhor, ao vencer as Mille Miglia e as 12 Horas de Sebring, ao lado de Juan Manuel Fangio, ambos a bordo de modelos Ferrari.
Em 1957, ele era um dos seus pilotos que foram a Buenos Aires para disputar o GP da Argentina, a primeira corrida do ano. Sem a BRM e a Vanwall, era essencialmente um duelo entre Ferrari e Maserati. Apesar do quarto lugar na grelha e do facto de ter andando entre os da frente, a sua corrida acabou na volta 76, quando o seu carro perdeu uma roda. Por essa altura, era o unico que conseguia acompanhar os Maserati, e após a sua desistência, a equipa do tridente ficou com os quatro primeiros lugares.
A sua carreira na Formula 1: 14 Grandes Prémios, em três temporadas (1955-57), uma pole-position, três pódios, 19,5 pontos.
Os detalhes do seu acidente mortal mostram de uma certa forma o caractér de Enzo Ferrari e a sua maneira intimidadora de pedir aos seus pilotos para que dsessem ao máximo. Quando passava alguns dias de férias com a sua namorada Delia Scala em Florença, recebeu um telefonema do Commendatore para que viesse a Modena o mais rapidamente possivel para que entrasse dentro de um carro e impedisse o francês Jean Behra de bater o recorde da pista de Modena. A razão? Puramente egocêntrica. O recorde de pista era da Ferrari, e vê-lo suplantado por um Maserati 250F, guiado pelo temperamental francês, era uma afronta pessoal para o homem de Maranello.
Saindo de casa pelas cinco da manhã do dia 14 de Março de 1957, colocou-se à estrada o tempo suficiente para chegar a modena pelas oito da manhã, ainda ensonado. A pista estava húmida, e após uma volta de aquecimento, tinha assinalado às boxes que ia começar a fazer algumas voltas rápidas. Contudo, quando passava pelo Circolo della Biella, despistou-se e bateu contra o muro de cimento, tendo morte imediata.
Pouco depois, quando lhe telefonaram para lhe dar a má noticia, Enzo Ferrari teria dito algo como: "Castelotti? No, noo... e la macchina?" Mais tarde, Luigi Villoresi, amigo pessoal de Castelotti, disse que toda aquela competição tinha a ver com uma aposta no Biella Club, em Modena. E quem fosse melhor, pagaria o café. "Valia a pena arriscar a vida de um piloto somente por uma chavena de café?", questionou Villoresi. Pouco depois, este retirou-se definitivamente de competição e não mais falou com Enzo Ferrari.
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