segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O piloto do dia - Alfonso de Portago

Nasceu num berço de ouro. Entre os seus antepassados conta-se um explorador do século XVI. Experimentou tudo que era desporto. Era aquilo que hoje chamaríamos um "viciado em adrenalina", pois ele é um dos poucos espanhois que conseguiu medalhas em desportos de Inverno. O automobilismo foi mais um dos que experimentou, mas foi nela em que morreu, num dos acidentes mais horriveis do automobilismo italiano, e que causou o final das Mille Miglia. Se estivesse vivo, faria hoje 82 anos, e é dia de falar de Alfonso de Portago, o homem que deu nome à Espanha no automobilismo de pista antes de Fernando Alonso.

Alfonso Antonio Vicente Eduardo Angel Blas Francisco de Borja Cabeza de Vaca y Leighton, Marquês de Portago, nasceu em Londres a 11 de Outubro de 1928. Filho de Antonio de Portago e da americana Olga Leighton, teve como padrinho de batismo, o próprio rei Alfonso XIII, amigo pessoal do seu pai. Antonio era um desportista nato, e na Guerra Civil Espanhola, enquanto que a sua familia vivia em Biarritz, o seu pai combatia nas forças Nacionalistas, tendo entre os seus feitos, alegadamente ter afundado um submarino republicano, colocando-lhe uma bomba no seu casco depois de ter nadado até ao local. Contudo, apesar dos seus feitos, Antonio morre em 1941 quando teve um ataque cardíaco após um jogo de polo, tendo herdado o título com doze anos.

Com a adolescência, o gosto pelo desporto e pelo risco veio ao de cima. A sua primeira paixão foi a aviação, quando começou a pilotar aviões com tenra idade. A primeira noticia dos seus feitos foi quando tinha 17 anos, e passou por debaixo de uma ponte sobre o Rio Tamisa, num vôo clandestino. A razão por este feito? Tinha apostado quinhentos dólares em como fazia tal coisa.

Ao chegar à idade adulta, tornou-se num homem admirado. Era alto (1.81 metros), bonito e apaixonado por mulheres. Mas ainda era mais apaixonado pelo risco. Certo dia, afirmou: "Apreciamos imenso a vida porque vivemos muito perto da morte". Começou a experimentar todo o tipo de desportos. Foi jóquei, correndo em algumas dos mais prestigiadas corridas britânicas como o Grand National, e experimentou os desportos de Inverno como o "bobsleigh", um desporto que ninguém praticava em Espanha, e que ele teve conhecimento em 1953, quando viajou para os Estados Unidos. Nessa altura, também conheceu o homem que o iria colocar no automobilismo e estaria no seu lado no dia do seu acidente mortal: o americano Edmund Nelson.

Algum tempo depois, deslocou-se a Nova Iorque, onde a sua paixão pelos automóveis o levou ao concessionário da Ferrari, onde conheceu Luigi Chinetti. Este, impressionado pelo marquês, o convidou a correr com um dos seus carros na Carrera Panamericana de 1953, que aceitou. Contudo, algum tempo depois, quando foi correr nos 1000 km de Buenos Aires de 1954, descobriu que afinal não era assim tão experiente, e combinou com Harry Schell, o seu companheiro, que ele iria dirigir na maior parte do seu tempo. Schell aceitou e ambos acabaram a corrida na segunda posição. Após isso, Portago comprou um Maserati de 2 litros e começou a participar em provas como o GP de Nassau, obtendo bons resultados por si mesmo. E também os seus primeiros acidentes. Um deles foi em Silverstone, onde quebra uma perna. Contudo, em vez de abrandar, Portago descobre que adora a adrenalina e o perigo que estas corridas lhe proporcionam.

Por essa altura, Enzo Ferrari, que a principio o desprezava, começava a mudar de opinião a seu respeito, e em 1956 convida-o a correr na equipa oficial, ao lado de Peter Collins, Luigi Musso, Eugenio Castelotti e Juan Manuel Fangio. Estreou-se em Reims, no GP de França, onde desiste à 20ª volta devido a problemas na caixa de velocidades. Na corrida seguinte, em Silverstone, consegue o seu unico pódio, numa corrida que nos dias hoje pode ser considerada como... estranha.

Correndo na maioria das voltas, teve de ceder o seu carro na parte final para o britânico Peter Collins, que o levou até ao final da corrida, a uma volta do vencedor, Juan Manuel Fangio. Até lá, foi buscar o carro de Eugenio Castellotti, que estava parado, e foi correr até ao final da corrida. No final, foi á mesma ao pódio, e recebeu três dos seis pontos normalmente atribuidos ao segundo posto. Até ao final da época, desistiu em todas as corridas. Nas corridas de Sport, contudo, Portago tinha melhores resultados, nomeadamente no Tour de France Automobile de 1956, ao volante de um Ferrari 250.

Mas fora do automobilismo, Portago continuava a ser um desportista nato. Apaixonado pelo "bobsleigh", decidiu formar uma equipa com os seus primos com o objectivo de representar o seu país... nos Jogos Olimpicos. Participa no bobsleigh de dois e de quatro, e é neste último que termina a corrida na quarta posição, ficando muito perto de alcançar uma medalha, o que seria inédito, pois nenhum piloto de Formula 1 ganhou medalhas olimpicas. No ano seguinte, participou no bobsleigh de dois nos campeonatos do mundo, onde aí conseguiu a medalha de bronze, até agora a unica que a Espanha conquistou nesta modalidade.

No início de 1957, Portago era cada vez mais um piloto a ter em conta. No GP de Cuba, conseguira acompanhar e mesmo passar a Juan Manuel Fangio, que corria contra ele num Maserati 300S. Liderou, mas depois teve problemas na válvula de admissão de combustível, que o fizeram atrasar. Pouco depois, no GP de Caracas, na Venezuela, Portago fica em segundo, atrás de... Fangio.

Continua a correr na Ferrari, onde participa no GP da Argentina, primeira prova do ano, acabando no quinto lugar... partilhado pelo argentino Froilan Gonzalez. Apesar disto, o seu prestigio aumentava cada vez mais dentro da equipa, tornando-se num dos melhores. Portanto, não foi de estranhar que Enzo Ferrari o tivesse chamado para correr com um dos seus carros nas Mille Miglia, no inicio de Maio. De Portago não gostava muito da corrida nem das decisões de Enzo Ferrari, e desabafou isso numa carta mandada para o seu amigo, Roberto Mieres:

"Ferrari me forçou a correr as Mille Miglia. Primeiro me disseram que ia correr com um Gran Turismo, mas após a minha volta de aquecimento, me disseram que afinal tinha de correr no 3800 Sport. Hoje, eu e o Taruffi, afirnal, teremos os novos 4000 cc. Que m****, mas penso em ir na categoria Turismo em vez dos GT's"

Contrariado, acatou as ordens de Enzo Ferrari. A corrida aconteceu sem problemas aparentes, e no dia 12 de Maio, esta estava a chegar rapidamente ao seu fim. De Portago, que tinha como navegador o seu amigo Edmund Nelson, ia no terceiro posto (outra imprensa da época dizia que era quarto) quando lhe avisaram de que os seus pneus já acusavam o desgaste fora do comum. Portago, sabendo que a sua corrida estava a chegar ao fim, não ligou muito aos avisos e continuou.

Quando chegou perto da localidade de Guidizzolo, a 68 quilómetros de Brescia, local onde a corrida terminaria, um dos pneus do Ferrari 335S rebentou a alta velocidade, depois de ter batido contra uma pedra, e deu várias cambalhotas no ar, de um lado e do outro da estrada, antes de atingir um grupo de pessoas que estava nas bermas. De Portago, Nelson e mais dez pessoas, cinco dos quais crianças, tiveram morte imediata. Tinha 28 anos. A corrida acabou na mesma, mas devido ao impacto que este acidente teve, bem como o longo inquérito judicial contra Enzo Ferrari, as Mille Miglia não se realizaram mais.

A sua carreira na Formula 1: Cinco Grandes Prémios, em duas temporadas (1956-57), um pódio, três pontos.

A sua vida pessoal foi tão agitada como a sua vida de piloto. Foi casado uma vez, com uma corista bem mais velha do que ele, que lhe deu dois filhos: Andrea, uma fotógrafa, e Antonio, que depois se tornou corretor em Nova Iorque. Contudo, Alfonso iria ter casos com personalidades famosas, primeiro com Dorian Leigh, uma das mais famosas modelos de então (e aparentemente foi a inspiração de Truman Capote para o livro "Boneca de luxo") e depois com a atriz Linda Christian, então casada com Tyrone Power. Aliás, quando de Portago acabasse a corrida, tinha à sua espera os papéis de divórcio da sua mulher, para que pudesse casar com Christian. Contudo, a sua morte cancelou esses planos. Mais tarde, quando morreu, soube-se que de Portago tivera um filho de Leigh, chamado Kim Blas, que iria matar-se aos 21 anos, depois de tentar livrar-se do vicio das drogas.

Até à chegada de Fernando Alonso, os feitos de Alfonso de Portago foram os maiores que a Espanha teve em termos de automobilismo de pista e estrada. Houve vários pilotos, desde Emilio de Villiota até Luis Perez-Sala, passando por Adrian Campos e Pedro de la Rosa, mas nenhum conseguiu fazer o que Alfonso de Portago fez. E por causa disso, uma das curvas do Circuito de Jarama tem o seu nome.

Fontes:

http://es.wikipedia.org/wiki/Alfonso_de_Portagohttp://forix.autosport.com/8w/portago.html
http://www.automovilismoblog.com.ar/alfonso-de-portago-el-ultimo-gentleman-driver/
http://www.as.com/motor/articulo/formula-automovilismo-deportes/dasmot/20090929dasdaimot_3/Tes

Sem comentários: