Ontem à noite fui ao cinema para ver "A Invenção de Hugo", do Martin Scorcese. Curiosamente, foi o meu primeiro filme em 3-D que fui ver ao cinema e confesso que sei o que andei a perder. O filme é magnifico, e recomendo-o a todos os que não tiverem muito com que fazer no Carnaval. Quem já viu - e vou tentar não contar muito - é a aventura de um orfão numa estação de Paris que conhece o dono de uma loja de brinquedos, que não é nada mais, nada menos, do que Georges Meliés, um dos pioneiros do cinema, e um dos mestres da fantasia. Mágico como era, Meliés foi o primeiro que entendeu que o cinema pode ser a transposição das nossas fantasias para a realidade.
Curiosamente, na realidade pura e dura, estamos a assistir a um "Hugo" na vida real. Não é numa estação de comboios de Paris, mas é num circuito de Formula 1 no Bahrein. Depois de ontem as autoridades terem anunciado que os bilhetes para o Grande Prémio, marcado para o dia 22 de abril, já estão à venda, agora as autoridades locais começam a armar-se em "formiga com catarro" e reclamam que querem ser a primeira corrida da temporada, a exemplo do que foram em 2006 e 2010, e que iria acontecer em 2011, antes do seu cancelamento. Isa al Khalifa, o diretor executivo da corrida, reclama isso, baseado num conceito... fantasioso.
“Eu acho que a Formula 1 deveria começar num fuso horário que fizesse sentido. Temos muito apoio da Europa e começar na Austrália, onde são duas ou três horas da manhã na Europa, não tem nenhum sentido para mim“, reclamou.
“Começar no Bahrein faria mais sentido porque é o horário perfeito. Não se tem que oferecer nada [financeiramente]“, afirmou o dirigente. “Abrigando a primeira corrida, beneficia-se obviamente pelas pessoas as falar de si logo no começo da temporada. Agora vamos ser depois da China, por isso o nosso evento vem só depois da terceira ronda. Para nós é importante organizar esta corrida e pretendemos fazer dela um sucesso“, finalizou.
Já vos contei que o GP do Bahrein não é mais do que o "sonho molhado" do principe herdeiro do emirado. Gastou já centenas de milhões de euros na construção e manutenção do Grande Prémio, e o fato de ser um grande "petrolhead" fez com que comprasse importantes participações na McLaren - cerca de 50 por cento - e também o fato de eles terem gasto em 2010 60 milhões de dólares para ter a corrida como a inaugural do Mundial de Formula 1, e outro fato. Num país onde a maioria xiita e discriminada em termos de emprego, habitação, saneamento, entre outros, pois a família real pertence à minoria sunita.
Curiosamente, esta segunda-feira, o Joe Saward contou um pormenor pessoal: ele afirmou que por esta altura, já deveria estar a receber as ofertas dos hotéis em relação a preços para uma estadia naquela meia dúzia de dias essencial para cobrir o Grande Prémio. Só que este ano, está tudo calado e não recebeu nada de lá. Das duas uma: ou os locais querem organizar tudo para que se concentrem as pessoas num único local, fortemente escoltados para que façam apenas o trajeto hotel-circuito, ou então estão ainda ocupados a dar um ar de normalidade para aqueles dias de abril.
Uma coisa é certa: vê-los a reclamar, quase arrogantemente, o seu lugar no mundo - comprado, é certo - numa altura em que os esqueletos no armário ainda continuam a fazer barulho, querendo sair de lá, não parece boa politica. Até diria mais: mais parece coisa do mundo da fantasia, como vi ontem à noite com o "Hugo". Não fiquem admirados se isto acabe num desastre de relações públicas, caso a corrida aconteça. O assunto do Bahrein será sempre um fantasma a pairar nas cabeças de todos até que isso se resolva. A bem ou a mal.
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