Foi uma loucura, a semana que passou, quando as pessoas acompanharam os feitos de Alex Zanardi nos Jogos Paralimpicos de Londres. Para terem uma ideia: no dia em que ele alcançou a sua primeira medalha de ouro, este cantinho teve 5700 visitas, o equivalente a quatro dias visitas, pulverizando o anterior recorde. Cheguei a ter duas horas seguidas com uma média de 900 visitas, só porque as pessoas procuravam artigos sobre o piloto italiano que perdeu ambas as pernas em Lausitzring, a 15 de setembro de 2001. No final, Zanardi conquistou duas medalhas de ouro e uma de prata, a última dos quais conquistada neste domingo, na estafeta mista na classe H4, para amputados profundos, como Zanardi.
Com isto, o ex-piloto italiano de 45 anos fecha brilhantemente a sua participação nos Jogos Paralimpicos de Londres, em corridas que aconteceram numa pista de automóveis. Mas não quer ficar por aqui. Numa conversa que teve tempos antes com o seu amigo e ex-companheiro na Chip Ganassi, Jimmy Vasser, ele afirmou que em caso de vitória, lhe iria arranjar um carro adaptado para que ele tentasse participar nas 500 milhas de Indianápolis em 2013. Apesar do imenso sucesso que teve na sua primeira passagem nos Estados Unidos, nunca tentou a clássica americana porque nesse tempo, tinha havido a cisão entre a IRL e a CART.
Caso ele consiga, será mais uma prova de que "impossiveis não existem", e será aplaudido por todos, como sinal de que é mesmo um "ser excepcional".
Este domingo, enquanto muitos viam o GP de Itália de Formula 1, em Monza, noutro ponto de Itália, um ex-piloto fazia o seu regresso às competições, através de um carro de rali. Num velho Subaru Impreza WRC, o polaco Robert Kubica participava no Rali Comitolo di Lanna, uma curta prova de um dia, e acabaria por vencer, conseguindo também quatro vitórias em classificativas.
No final, Kubica, de 28 anos, afirmava estar contente com o resultado: "Estar aqui já é um bom passo, mas eu preferia estar em outro lugar. Ainda tenho um longo caminho a percorrer e talvez nunca mais esteja no mesmo nível físico de antes. Mas não pretendo desistir. O objetivo continua a ser retornar à Fórmula 1 e os próximos meses dirão se eu posso fazer isso já no próximo ano ou esperar até 2014", afirmou.
Pelo que eu falo com pessoal na Polónia, Kubica ainda vai ter de fazer mais uma pequena cirurgia por causa da acumulação de tecido nos tendões, que lhe estão a prejudicar os movimentos. Se não está a cem por cento, então deverá estar a noventa e muitos por cento, dada a facilidade que ele teve em ganhar este pequeno rali, e vai participar noutro em breve. E pelo que me contam também, Kubica pode estar a fazer um "plano B", que será o de fazer uma carreira nos ralis. O teste com a Ford no WRC poderá servir como introdução a uma "meia temporada" no Mundial, tal como fez Kimi Raikkonen em 2010 e 2011, no tempo sabático da Formula 1.
O seu grande teste, diz ele, será quando ele se sentar dentro de um carro de Formula 1, algures no ano que vêm. ele quer ir para a Formula 1 em 2014, mas não é fácil. Mas creio que só o facto de estar dentro de um carro de ralis, um ano e oito meses depois do seu grave acidente no Rali Ronda di Andora, a bordo de um Skoda Fabia S2000, já é uma grande vitória, e mais uma prova e que os imposiveis não existem, e de que colocar o "caixão à porta", como li em muitos sítios, é sinal da ignorância das pessoas.
Primeiro que tudo, porque os pilotos são seres competitivos em si, e encaram qualquer contrariedade como uma prova para se superar e para se fortalecer, fisica e mentalmente. Stirling Moss sofreu vários acidentes ao longo da sua carreira, um dos quais no GP da Belgica de 1960, onde partiu as pernas, mas ao fim de mês e meio, ainda combalido, estava de volta a um carro de Formula 1. Só por aí, temos de afirmar que eles não são seres como nós, que demoramos anos para recuperar de uma rotura de ligamentos de um joelho, por exemplo. Um futebolista consegue recuperar em quatro, cinco, seis meses, e não vejo os adeptos de futebol a colocar "caixões à porta", fazendo funerais às suas carreiras. Só por aí é que se vê a ignorância de muita gente nesse aspecto.
Segundo aspecto tem a ver com os avanços na cirurgia. É certo que um braço não é uma perna, e a cirurgia de Robert Kubica é bem mais complexa do que, por exemplo, a que Didier Pironi passou ao longo de quatro anos após o seu acidente no "warmup" do GP da Alemanha de 1982. Mas em 30 anos, muito se avançou nessa área. Se Pironi ainda teve a capacidade de entrar num carro de Formula 1 e dar algumas voltas em mais do que um teste, contrariando as probabilidades - e no final, acabou por não correr na Formula 1 porque caso fosse considerado apto, teria de pagar o dinheiro dado pela seguradora para financiar as suas oprerações, pois acreditavam que Pironi não voltaria a correr - creio que Robert Kubica terá a capacidade para se sentar dentro de um carro e fará tempos competitivos. Se antes tinha uma crença, agora fico com certezas.
Em suma, o que as pessoas deveriam reter como lição - mas suspeito que as suas 'memórias de peixe' não o fazem... - é que os impossiveis não existem. As mentes é que criam esses impossiveis, seja por preguiça, baixa auto-estima ou descrença, entre outros. O verdadeiro teste ao caractér, à fibra das pessoas só é verdadeiramente testado numa situação limite. Pessoalmente estive numa e safei-me. Conheço algumas histórias pessoas de pessoas que vocês conhecem na blogosfera e passaram por situações-limite ainda maiores e mais fortes do que eu e superaram com cinco estrelas. Um deles até corre de vez em quando de "kart", anos depois de ter tido um acidente de viação onde quebrou as pernas. E da última vez que soube, até ganhou uma corrida...
E por ter estado numa situação-limite e ter safado, é que acredito que ainda voltarei a ver Robert Kubica num carro de Formula 1, ou Alex Zanardi de novo num carro competitivo, provavelmente a marcar tempos no "Brickyard". Os pilotos de automobilismo são obcecados, e têm o céu como limite. Maurice Greene, atleta americano, campeão mundial e olimpico dos 100 e 200 metros, dizia que "os que acham que isto é impossivel, então saiam da frente e deixem que os outros derrubem essa impossibilidade". E isto ele dizia antes de aparecer Usain Bolt...
1 comentário:
Zanardi foi pra outra esfera de realidade competitiva, já do Kubica, ainda duvido de uma volta de verdade;
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