Pensei seriamente em não escrever nada esta semana, porque achava que não existia nada que valesse a pena escrever. OK, teremos as movimentações e especulações sobre a situação de Lewis Hamilton, e a luta entre McLaren e Mercedes para tê-lo em 2013, mas eu creio que no final, tudo vai ficar na mesma, com o britânico com um salário melhorado, agora que e,e venceu em Monza e provavelmente clareou a situação em relação à hierarquia na luta pelo título em 2012.
Também se poderia falar sobre as negociações do Acordo de Concórdia, que parece depender da palavra da Mercedes para que este seja devidamente assinado, mas sobre isso já escrevi muito nos últimos meses e provavelmente escreverei mais nas semanas que aí virão. Aliás, sobre isso, li ontem no blog do Joe Saward uma matéria interessante sobre o relatório e contas da Williams, que afirma neste ano, graças aos acordos com patrocínios e as maiores receitas que negociou com Bernie Ecclestone, tem em caixa - ou seja, dinheiro imediatamente disponível - cerca de 36 milhões de libras, muito mais do que os 2,8 milhões disponíveis dois anos antes. É um pequeno artigo muito interessante de se ler, mas creio que sobre isso, pode-se discutir noutra altura.
Mas depois achei que um bom pretexto seria falar sobre o Professor Sid Watkins, morto ontem aos 84 anos. Porque de uma certa forma, é uma parte da história da Formula 1 que se vai. Num dos muitos tributos que li, o que mais me impressionou foi o de Ron Dennis, que escreveu o seguinte:
"Hoje, o automobilismo perdeu dos seus grandes nomes: Professor Sid Watkins. Nâo, não era um piloto, não era um engenheiro nem designer. Era um médico, e é justo dizer que fez mais do que muitos de nós, durante muito tempo, para transformar a Formula 1 num lugar mais seguro. Assim sendo, muitos pilotos e ex-pilotos devem as suas vidas graças ao seu trabalho, que resultou em enormes avanços ao nível da segurança, ao qual os pilotos hoje dão por garantidos. Mas acima de tudo, Sid era um grande amigo meu, e vou sentir imenso a sua falta. Para a sua mulher Susan e para a sua familia, expresso as mais sinceras condolências. Era verdadeiramente um grande senhor e o mundo do automobilismo não vai ser o mesmo sem ele."
E é isso que ando a ler ao longo deste dia. Todos falam com carinho sobre esta personagem que andou pela Formula 1 ao longo de vinte e muitos anos, uma geração. Toda a gente reconhece que foi um médico com a paixão pelo automobilismo - li ontem à noite o facto de ele levar equipamento médico para o circuito de Watkins Glen, em meados/finais dos anos 60, onde fazia trabalho voluntário nas pausas do seu tempo no Hospital de Syracuse, onde tinha ido lá para fazer o seu doutoramento em neurocirurgia.
Entrou no mundo da Formula 1 em 1978, através de Bernie Ecclestone, que já começava a gatinhar no seu plano para o controlo da competição. O caso do GP de Itália daquele ano, em que a desorganização causou demasiados prejuízos humanos - o mais grave a morte do sueco Roiine Peterson - levou a que Watkins tivesse exigido meios médicos mais fortes à sua disposição, como um carro médico que seguisse atrás dos bólidos de Formula 1 na primeira volta, para eventuais carambolas, bem como um posto médico de emergência imediata, para primeiros socorros, e mais importante ainda: um helicóptero para levar os feridos para o hospital mais próximo. Foi assim que começou a ganhar respeito no meio e a segurança se tornou prioridade. Os resultados são o que sabemos: não há mortes na Formula 1 há dezoito anos.
No lado humano, toda a gente gostava dele. Muitos tomavam um copo de whisky e ouviam os sábios conselhos do "Tio Sid", quer ele andasse no paddock, quer quem aparecesse no seu consultório, no Hospital de Londres, para os exames médicos necessários para que a FIA pudesse passar a Super-Licença. A amizade com Ayrton Senna deve ser a mais mediática, pelo facto de ele ter contado, na sua autobiografia "Viver nos Limites", as suas reações quer quando ele soube do acidente de Martin Donnelly, em Jerez, em setembro de 1990, quer quatro anos depois, quando ele viu o acidente de Rubens Barrichello, na sexta-feira, quer no dia seguinte, o acidente fatal de Roland Ratzenberger. E como ele tentou persuadir Senna a largar tudo para ir pescar. O resto da historia, infelizmente nós conhecemos.
Existe algo que todos agradecerão para toda a eternidade: é que por causa dele e dos seus sábios conselhos, estamos no 19º ano sem uma morte na Formula 1. E creio que esse deverá ser o maior legado que o Professor Sid Watkins poderá dar a todos nós, e do qual agradecemos para toda a eternidade. Obrigado, Professor.
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