Confesso que andei a tarde inteira de domingo com os olhos pregados ao meu computador portátil, a ver cada passo da aventura de Felix Baumgartner de fazer o salto mais alto de sempre com um paraquedas, tentando bater o recorde de Joe Kittinger, establecido 52 anos antes, tentando saltar a 120 mil pés, ou 36,5 quilómetros, acima da Terra, e tentando ser o primeiro ser humano a bater a velocidade do som, sem necessidade de qualquer aparelho para fazê-lo. E também queria ser o ser humano que ficou mais tempo em queda livre até alcançar o solo.
Era uma aventura arriscada, mas muito bem delineada. Baumgartner, um austríaco de 43 anos, "Base Jumper" de profissão e de vicio, planeava isto há quase quatro anos. Com a benção de Kittinger, que fazia parte desta expedição e era ele que comunicava com Baumgartner, dando-lhe as instruções, elevou-se num balão de hélio, numa cesta pressurizada, numa ascensão que durou umas lentas duas horas e vinte minutos, até alcançar uma altitude de 38 quilómetros, mais 1500 metros do que inicialmente previsto, onde se preparou para despressurizar a cabina, desligar os fios, abrir a porta, elevar-se e saltar dali, rumo ao vazio, mais rápido do que o som.
Sabia que isto, a ser bem sucedido, não só bateria recordes de altitude, de velocidade e de queda, mas também ilustraria um "dia perfeito" para a Red Bull, a marca de Salzburgo que patrocinava esta aventura. Horas antes, o mundo tinha visto os seus carros de Formula 1 a fazerem dobradinha em Yeongam, com Sebastian Vettel e Mark Webber, e o alemão a ficar com o comando do campeonato, sabendo que à tarde, muitos deles iriam seguir, passo a passo através do seu canal no Youtube, a lenta ascensão do balão até à estratosfera e a rápida queda de Baumgartner até ao solo.
Um dia perfeito, uma operação de marketing perfeita. E com um pico de cinco milhões de pessoas a visualizarem tudo em direto, tornou-se na emissão em direto mais vista de sempre por esse canal de video.
Mas indo para além da operação de marketing, eis a essência do feito, e essa é a parte que mais me fascina. Bater recordes, mesmo arriscando o pescoço, faz parte da natureza humana. Somos curiosos e os desafios foram feitos para ser superados. E foram esses desafios, impostos pela curiosidade humana ou pelo desafio da sobrevivência, nos fizeram evoluir desde o tempo das cavernas até aos dias de hoje.
Os "impossíveis", que muitos gostam de dizer da boca para fora, servem mais para aqueles que se querem acomodar no seu canto. Para sair da "zona de desconforto" é preciso uma boa dose de loucura, no sentido de provar aos outros que é possivel. E quando se junta mais do que uma vontade, o resto vem por acrescimo, incluindo o dinheiro. Porque como disse George Mallory, em 1924, quando lhe perguntaram porque queria escalar o Monte Evereste, então um pico por conquistar, apenas respondeu: "porque está lá".
Portanto, vistas as coisas, adorei ver Felix Baumgartner a dar este grande passo. É isto que o fez sentir vivo, e nos faz acreditar mais que na capacidade do ser humano fazer coisas maravilhosas.
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