quinta-feira, 3 de abril de 2014

Os Pioneiros: Parte 6, pequenas corridas, simbolismo grande

(continuação do capitulo anterior)

1897: A ÚLTIMA VITÓRIA A VAPOR

Depois de dois anos de grandes corridas, o Automobile Club de France decidiu que seria interessante fazer pequenas corridas, mais curtas e mais localizadas, aproveitando alguma da paisagem existente. No inicio da primavera, decidiram marca uma prova na mais soalheira Côte D'Azur, uma prova de 235 quilómetros com inicio em Marselha, passando por Nice e terminando em La Turbie, nos arredores de Monte Carlo, num percurso de 245 quilómetros, polvilhado com alguns obstáculos, entre os quais uma formidável subida de 19 quilómetros, um grande teste para as máquinas.

Sabendo do potencial, De Dion decidiu inscrever duas das suas máquinas a vapor, numa ficha de inscrições cheia de Peugeots e Panhard-Levassor, para além de dois Benz e três Landrey et Beyroux, e um novo competidor: a Mors. Ao todo, eram 26 os pilotos inscritos, entre os quais o Conde Gaston de Chauseloup-Laubat (num De Dion a vapor), Fernand Charron (num Panhard), Auguste Thibaut (num Peugeot) os irmãos Edouard e André Michelin (o primeiro num Mors, o segundo num Bollée), entre outros. Por aqui já se via que as pessoas começavam a levar a sério: os pilotos profissionais começavam a andar com o minimo possivel, ao contrário dos mais amadores, que já sentiam algum ressentimento. A competição começava a entrar no sangue...

Com Émile Levassor a assistir à partida (vai ser uma das suas últimas aparições públicas antes da sua morte), máquinas e pilotos preparavam-se para uma corrida que teria três dias. O primeiro dia teve um grande incidente, quando Charron exagerou na aproximação de um gancho à direita. Indo em excesso de velocidade, derrapou e capotou, ejectando o seu mecânico. Charron ficou no carro, mas o seu braço ficou partido e foi o mecânico - apenas com escoriações - a levá-lo para o hospital mais próximo. Contudo, depois de lambidas as feridas, continuaram até ao final da primeira etapa, em Frejus.

Aí, o líder de De Chaseloup-Laubat, no seu mais pesado De Dion a vapor, onde a potência nas subidas era bem mais do que suficiente para superar os carros a gasolina. E no segundo dia, enquanto que a concorrência sofria com as avarias e acidentes - entre os quais Thibaut e Edouard Michelin - Chaseloup-Laubat, apesar de uma avaria no eixo, chegou ao final da segunda etapa ainda no comando.  

O último dia de prova foi dedicado à rampa. André Michelin foi o melhor, com um tempo de 31 minutos e 50 segundos, seguido de Gaston de Chaseloup-Laubat, com 37 minutos e 55 segundos, mas por causa da vantagem acumulada, este último foi declarado o vencedor, com uma velocidade média de 32,6 quilómetros por hora. Poderá ter sido ótimo para os jornais, mas o que não sabiam era que seria a última vitória de um carro a vapor numa competição.

QUANDO O CARRO BATEU O COMBOIO

Em julho, o ACF volta`a carga com uma corrida de um dia entre Paris e Dieppe, no Canal da Mancha. A corrida atraiu 59 inscritos, que incluiam os irmãos Bollée (Amédée Bollée e Camile Bollée), o Conde De Dion, o Visconde de Soulier, Fernand Charron, entre outros. A corrida pode não ter tido grande história - o senhor Jamin foi o vencedor, num triciclo Bollée - mas ficou marcado por aquilo que aconteceu aos comissários de pista. Mal se deu a partida, todos embarcaram num comboio que os deixaria em Dieppe plo meio dia e meia, bem antes da chegada dos primeiros carros. 

Contudo, o comboio atrasou-se e ele ainda não tinha chegado pelas 13:25, quando o primeiro dos automóveis aparece. Era o de Jamin, seguido de muito perto pelo Conde De Dion. Mais dois carros apareceram em Dieppe quando, por fim o comboio chega à cidade. Felizmente, os tempos tinham sido oficiosamente registados e nada foi perdido.

Mas no dia a seguir, a noticia espalhou-se pela França inteira: "CARROS BATERAM COMBOIOS" era o título habitual, e foi tema de conversa por algumas semanas. Em menos de três anos, a velocidade dos automóveis aumentou exponencialmente, como prova a média final desta corrida: 42,8 km/hora. O automóvel e o automobilismo começava a ser um assunto cada vez mais atraente, e o ACF prometia que em 1898, iriam voltar às corridas longas, de cidade a cidade. E os novos construtores queriam estar à altura do desafio.

(continua no próximo episódio)

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