A noticia de hoje até virou a "meme" em mais um dia deste Mundial: Michael Schumacher saiu do coma para ver jogar a sua "Mannschaft" contra Portugal. Sabine Kehm disse esta manhã, em comunicado, que o ex-piloto de 45 anos já abandonou o Hospital Universitário de Grenoble, confirmando as noticias que circulavam há mais de um mês que já saiu do coma.
“Continua a longa fase de reabilitação. A sua família gostaria de agradecer aos médicos que tratam o Michael, enfermeiras e terapeutas do Hospital de Grenoble, bem como os primeiros socorristas no local do acidente, que realizaram um magnífico trabalho. A família também quer agradecer a todos os que desejaram uma boa recuperação ao Michael, temos a certeza que isso ajudou-o”, pode se ler no comunicado.
“Pedimos compreensão a todos para este processo de reabilitação, que terá lugar fora da esfera pública”, conclui.
Contudo, apesar de a família não ter dito à imprensa onde é que ele iria ficar a partir de agora, surgiu logo a informação de que ele estaria no Centro Hospitalar Universitário de Vaudois, em Lausanne, na Suiça. "Ele está aqui", confirmou o porta-voz do hospital à agência Reuters. A escolha não é por acaso: para além da especialidade de neurologia existente, fica perto da casa da família.
Se é certo que todos comemoram este feito - e merece ser comemorado - há que ser mais realista, pois noticias sobre o seu acordar já têm mais de um mês e meio. Desde meados de abril que os rumores sobre ele falavam disso, apesar dos desmentidos oficiais. Isso significa que, a ser verdade, esteve mais de quatro meses em coma, mais do que suficiente para que possa existir graves danos cerebrais.
Aliás, ao ler a reação do Dr. Gary Hartstein sobre este assunto, só reforça o meu cepticismo em relação a uma completa recuperação. Ali, ele escreve o seguinte:
"Por causa do tempo que passou desde a lesão de Michael, e do papel específico de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na reabilitação dos principais sistemas do organismo, é quase certo que Michael simplesmente não teve alta para uma reabilitação, sem ter tido uma "transição" intermédia numa enfermaria regular. Eu nunca vi nenhum paciente com ferimentos na cabeça com cinco meses de UTI ser imediatamente transferido para uma clínica de reabilitação... mas tudo é possível. (...)
Lembre-se que existem muitas instalações de reabilitação que podem lidar com pacientes ventilados, para que esta transferência não esclarece se Michael está - ou não - respirando de forma espontânea.
No momento em que Sabine anunciou que Michael teve momentos de consciência, sabíamos que ele não estava mais em coma. Por definição: Coma = sem consciência, sem abrir os olhos. Abrir os olhos, mas de forma inconsciente, é um estado vegetativo. Se o fizer com sinais de interação com o ambiente, isso é um estado de consciência mínima.
E o que isso significa? Sabine é uma profissional. No início de abril, ela nos disse que Michael teve momentos de despertar e de consciência. Mais uma vez, ao dizer isso, ela nos disse numa linguagem clinicamente perfeita que Michael não estava em coma. Ela usou dois termos que só os especialistas realmente distinguem. Para um leigo, estar acordado e consciente são a mesma coisa. Esta linguagem, então, foi claramente usada com base em discussões com a equipa que está a cuidar Michael, e reflete uma descrição muito precisa de um estado de consciência mínima.
Agora eles dizem, com um ar que parece ser um pouco triunfal, que Michael não está mais em coma. Como dito acima, isso não é novidade. Eu não posso ajudar, mas acho que este é um uso altamente cínico da linguagem, usando a verdade para transmitir uma informação de que é quase certamente falsa. Não posso deixar de pensar que, se Michael tinha saído do estado minimamente consciente de que Sabine tinha descrito com tanta precisão em abril, ela estaría a dizer que Michael está deixando para reabilitação, que ele está tendo problemas em expressar-se e vai trabalhar duro para falar melhor. Ou que ele estaria a reaprender a andar, ler, escrever, etc. Mas não, somos informados de algo que já sabiamos, e praticamente disse para não esperemos por mais atualizações. Era algo que esperava.
Isso tudo deixa um gosto amargo na minha boca. E muita tristeza para a família de Michael e para os seus fãs."
Em suma, esta aparente boa noticia, lida nas entrelinhas e ouvidos nos especialistas, carrega uma enorme desilusão: a ideia de voltaremos a ver o "velho" Schumacher, por muito boa reabilitação que se faça ali ou noutros lados, poderá nem acontecer. Aliás, atrevo-me a dizer que poderemos nunca mais ver Michael Schumacher vivo. A atitude da família ao longo deste tempo todo demonstra isso: uma proteção à pessoa de forma muito cerrada contra as tentativas de intromissão à imprensa mais sensacionalista, por exemplo.
Vai ser um final triste, por muitos mais anos que ele viva.
4 comentários:
Como eu li hoje: Qualquer notícia sobre Schumacher que não seja "ele morreu" já é boa, mesmo a gente sabendo que ele nunca mais vai ser o mesmo...
Interessante observar o hospital para o qual ele foi transferido, Hospital Universitário de Vaud, pois vejam essa notícia, mais antiga, de 2005:
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Interior.aspx?content_id=527628
Esse é um dos poucos hospitais no mundo que praticam a "morte assistida", para pacientes terminais...
Cazarré..apesar das sérias restrições a essa situação de morte assistida, não deixa de ser assustador essa informação que você passou.
Pois é meu caro Silvestre Zanon, também fiquei preocupado com essa constatação.
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