Antes de "Grand Prix", Garner tornou-se famoso graças à série televisiva "Maverick", um western com elementos de comédia, sobre a história de um jogador profissional. A série durou de 1960 a 1963, altura em que ele saiu da série devido a disputas com a Warner Brothers sobre os salários que ganhava na série. Mais de 30 anos depois, quando "Maverick" foi adaptado ao cinema, ele fez o pai de Bret Maverick, interpretado por Mel Gibson.
Mas a vida dele começou bem antes, a 7 de abril de 1928, em Norman, Oklahoma. Nascido James Scott Bumgarner, perdeu a mãe aos quatro anos e odiava a madrasta, o que fez com que saísse de casa cedo para ir para a Marinha Mercante, no final da II Guerra Mundial. Ainda combateu na Guerra da Coreia, onde foi ferido por duas vezes, uma delas... por fogo amigo. Mas mesmo assim, foi condecorado com duas "Purple Heats" pelos seus feitos na Coreia do Sul.
Terminada a guerra, recolocou-se em Hollywood, onde fez a escola e começou a fazer trabalhos de modelo e de teatro, antes de conseguir a sua sorte numa série de televisão da Warner Brothers chamado "Maverick". Por essa altura, tinha deixado cair o seu apelido original para um mais americanizado "Garner", algo que o seu irmão mais velho também o fez, pois também abraçou a carreira de ator.
Depois de "Maverick" fez filmes como "A Grande Fuga" e "Grand Prix", e foi no primeiro que conheceu Steve McQueen, do qual ficaram amigos e partilhavam o seu amor pelo automobilismo. Nos anos 70, ambos viviam na mesma rua e Hollywood, e quando McQueen via o jardim de Garner, totalmente arranjado e limpo, ele fazia forma de, sempre que este se ausentava, estragasse o jardim atirando latas para a relva, sem que ele soubesse.
"Costumava ver o jardim dele e estava tudo arrumadinho: relva tratada, flores plantadas... tudo direitinho. Então, só para o lixar, comecei a atirar latas vazias de cerveja rua abaixo, para o seu quintal. Ele saia para o trabalho com o quintal arrumadinho, mas quando regressava, ele encontrava todas essas latas vazias. Demorou tempo até que ele descobrisse que era eu que fazia isso", contou certo dia. Apesar de zangado, isso não impediu que os dois continuassem com uma amizade que durou até McQueen morrer, em 1980.
Outra história bem interessante envolvendo os dois atores aconteceu em julho de 1964, quando ambos estiveram em litigio com um vereador da Câmara de Los Angeles, Karl Lundberg, quando discutiam um plano de desenvolvimento na zona de Santa Mónica. Ambos estavam contra o plano, e em dois dias seguidos, os três entraram em altercação com ele, acabando numa briga bem feia, onde tiveram de ser separados pela policia. No final, o plano não avançou, e Lundberg foi mais tarde acusado de corrupção e perdeu o seu mandato no ano seguinte, quatro anos de ele morrer, em 1969.
Garner cultivou ainda mais a sua faceta de "petrolhead" depois de "Grand Prix". Entre 1967 e 1969 fez a American International Racers (AIR), onde competiu em várias corridas em Endurance, como Le Mans, Daytona e Sebring. Garner, apesar de não correr, fazia as suas aparições, onde atraía púbico. Para além disso, participou num documentário chamado "The Racing Scene" e fez um contrato com a AMC (American Motors Corporation) no sentido de ele e a sua equipa preparasse dez modelos Rambler para a Baja 500. Apesar de não ter guiado os carros, porque na altura fazia um filme em Espanha, os seus carros foram longe: sete acabaram, e cinco deles foram os melhores na sua classe.
Para além disso, James Garner guiou o Pace Car por três vezes, nas 500 Milhas de Indianápolis, em 1975, 1977 e 1985, uma das celebridades que mais vezes se sentou num carro numa das provas mais importantes do automobilismo americano.
Mas o mais interessante da sua faceta de "petrolhead" é uma história que contei aqui neste blog em 2012. Em 1974, ele decidiu construir - e deu a cara para isso - um carro de quatro lugares para demonstração, semelhante aos carros de dois lugares que já existiram na Formula 1 e existe hoje em dia são usadas na IndyCar, guiados por Mário Andretti. Coloco aqui uma parte dessa história, contada por um senhor, de seu nome Pete Phelps, que ajudou a construir o carro:
"Como você escreveu no texto, o carro foi construído por volta de 1974. Mike Haas da Concord California era o proprietário e fabricante. Eu o conheci graças às atividades com Hot Rods e o Oakland Roadster Show. Mike construía carros para demonstração e fazia pinturas especiais para rods na época e creio eu que Mike construiu o carro para uma turnê pelo ‘Circuito de apresentações dos EUA’".
"O chassis do carro foi esticado para acomodar os assentos laterais pelo que me lembre. O motor era um Chevy small block. A carroceria era uma obra de arte, com um belo trabalho manual. Depois da montagem (sem a pintura), eu fui chamado para fazer a fiação do carro em sua oficina. Numa das noites, o piloto Bob Bondurant passou por lá para conferir o andamento do carro.
"Mais tarde, Mike contou que o carro foi levado para a Sears Point Raceway em Sonoma (atualmente conhecido como Infineon) onde Bob deu algumas voltas (imagino que sem pisar fundo) depois que os mecânicos ajustaram a suspensão para a pista (Bob Bondurant era o proprietário da pista na época). Acredito que Bondurant foi o elo entre James Garner e Mike Haas, o que resultou no nome de Garner à frente do carro. Quer forma melhor de chamar a atenção para o carro que o ligando a uma celebridade?
Mike me contou uma vez sobre um “teste” do “James Garner Special”. Ele, sua esposa e um outro casal pegaram o carro e saíram com ele, do jeito que você vê nas fotos, por vias locais na cidade e voltaram sem problemas. Ele comentou que apesar da emoção do passeio, ele duvidou que as moças fossem andar novamente no carro. Os pneus aderentes as massacraram com pequenas pedras enquanto estavam nos assentos laterais!
Depois de exposto na região da baía de São Francisco, Mike disse que o carro foi levado para o leste por um caminhão para outras apresentações. Esta foi a última vez em que ouvi a respeito do carro até ler o seu texto. Depois que o projeto foi completado, me enviaram estas fotos de um ensaio profissional feito em Sears Point como lembrança do carro, com Garner e uma adorável (e desconhecida) modelo com trajes de chamar a atenção."
Depois de "Rockford Files", Garner fez alguns filmes interessantes, como "Victor, Victória", em 1982, ao lado de Julie Andrews, e "O Romance de Murphy", em 1985, onde conseguiu a sua unica nomeação para os Óscares como ator principal, como um viúvo de 60 anos que se apaixona por uma pessoa trinta anos mais nova. Nos anos 90, para além de algumas séries, participou na versão cinematográfica de "Maverick", e em 2000 esteve ao lado de Clint Eastwood, Tommy Lee Jones e Donald Sutherland no filme "Space Cowboys" sobre um grupo de velhos astronautas que vão para o Espaço. Garner já tinha atuado com Eastwood, quando este também era um jovem ator procurando reconhecimento, numa cena de pugilato que se tornou famosa.
A última grande participação cinematográfica foi com "Diário da Nossa Paixão", em 2004, quando ele fazia o papel do velho Noah, que conta a história da paixão com a sua mulher, Allie que na sua idade é interpretada por Gena Rowlands. O jovem Noah é interpretado por Ryan Gosling, e a interpretação de ambos foi elogiada tanto pelo público como pela critica.
Nos últimos anos, o seu reconhecimento para o cinema levou a que na sua terra natal se erguesse uma estátua de si mesmo como Bret Maverick, e a publicação da sua autobiografia, onde falava da sua carreira e da sua pessoa, e dos seus problemas de saúde, onde teve várias operações aos seus joelhos, nos anos 80 - e depois colocou próteses, em 2000; bem como um ataque cardíaco que o obrigou a fazer um quintuplo "bypass", em 1988, e outra operação, vinte anos depois.
Para além disso, Garner era um afiliado do Partido Democrata, colaborando e contribuindo com muitas somas de dinheiro, e chegou a considerar uma carreira politica, em 1990, para ser senador. Contudo, desistiu da ideia.
Em suma, eis alguém que teve uma vida cheia e plena, fazendo aquilo que mais gosta. Ars lunga, vita brevis, James. E vida longa para Pete Aron!
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