terça-feira, 5 de maio de 2015

Höttinger e Bürger: a história de dois talentos perdidos em 1980

O automobilismo foi sempre perigoso e ao longo da história, teve os seus mártires, pilotos que deram a sua vida a fazerem aquilo que mais gostavam. Mas no meio de muitos desses pilotos que morreram, há um grupo de pilotos que deixaram o seu potencial nas categorias de acesso, mas a morte os impediu de ter a oportunidade que mereciam de se mostrar na Formula 1. Há alguns exemplos conhecidos, como os de Stefan Belllof ou de Roger Williamson, mas há outros menos conhecidos como os do francês Daniel Dayan, que morreu numa prova de Formula 2 em Rouen, em 1970, ou do escocês Gerry Birrell, morto no mesmo local e também numa prova de Formula 2, mas três anos depois.

Contudo, a temporada de 1980 de Formula 2 ficou na história como sendo uma das mais mortiferas devido às mortes de dois pilotos, um austríaco e outro alemão. Ambos pilotos ajudados pela BMW no inicio das suas carreiras, e sendo contemporâneos de pilotos como Marc Surer, Manfred Winkelhock e Stefan Bellof, hoje em dia andam um pouco esquecidos. Trinta e cinco anos depois das suas mortes, é tempo de recordar - ou então contar - a história destes dois pilotos: Markus Hottinger e Hans-Georg Burger.

(...)

Por essa altura, Burger cruzou-se e fez amizade com outro piloto, este austríaco: Markus Höttinger. Nascido a 28 de maio de 1956 em Neunkirchen, começou a correr em 1977 na Renault 5 Cup local, onde foi topado por Helmut Marko, que por essa altura já tinha sido "manager" de pilotos como Helmut Koinigg. No ano seguinte, Marko tinha convidado Höttinger para a BMW, onde correu na equipa de jovens talentos da BMW, que anteriormente tinha acolhido pilotos como Marc Surer, Manfred Winkelhock e Eddie Cheever. Em 1978, Höttinger correu no campeonato alemão de Turismos, onde acabou no quarto lugar da classificação, e nas Nove Horas de Kyalami ao lado de Cheever, sem acabar a corrida.

(...)

Em 1980, ambos os pilotos apostaram forte na Formula 2. Höttinger iria para a Maurer, uma das melhores equipas do pelotão, que tinha motores BMW na altura (seria a equipa que iria acolher Stefan Bellof dois anos mais tarde), e as expectativas para o austríaco eram altas. Já Bürger tinha um chassis Tiga, também com um motor BMW, ajudado pela fábrica, mas as suas ambições eram mais modestas.

Havia altas expectativas para Höttinger. Aos 23 anos de idade, e apoiado pela marca de licores Mampe, corriam fortes rumores de que poderia se estrear na Formula 1 no GP da Austria, que iria acontecer em agosto daquele ano, mas não se sabia em que equipa. Contudo, na primeira corrida do ano, em Thruxton, a prova de Höttinger só durou uma volta, devido a problemas de motor.

A segunda corrida da temporada era em Hockenheim, mais concretamente o Memorial Jim Clark, que se realizou a 13 de abril. Höttinger conhecia bem o circuito e aproveitou a potência do Maurer-BMW para ficar bem classificado na grelha, no sexto posto. À sua frente estavam pilotos como o italiano Andrea de Cesaris, o alemão Manfred Winkelhock, o britânico Derek Warwick e o neozelandês Mike Thackwell, todos eles tiveram depois carreiras mais ou menos vistosas na Formula 1.

A corrida começou com Winkelhock a liderar a corrida, com De Cesaris a pressioná-lo, no seu carro da Project Four, de Ron Dennis. Höttinger era quinto, atrás de Warwick e Thackwell, e as coisas começaram a complicar-se na terceira volta, quando o carro de Winkelhock começou a perder óleo, e De Cesaris tentou ultrapassá-lo. Contudo, a ultrapassagem foi mal calculada e ambos bateram no final da reta da meta, dando o comando a Warwick. (...)


Markus Höttinger e Hans-Georg Bürger eram dois jovens pilotos que tinham prometido velocidade e capacidade de vencer nas pistas europeias. E no primeiro caso, Höttinger poderia ser o próximo austríaco na Formula 1, depois de Jochen Rindt, Niki Lauda, Helmut Marko e Helmut Koinigg. Contudo, em menos de três meses, as carreiras de ambos os pilotos tiveram um final trágico na Formula 2 devido a graves acidentes, um deles por manifesto azar, pois no caso de Höttinger, foi atingido pelo pneu do Toleman de Derek Warwick. Caso não tivesse acontecido, ele estaria a caminho de uma possível estreia na Formula 1 a meio desse ano, em Zeltweg.

E é sobre as curtas carreiras que é o assunto que escrevo este mês no site Nobres do Grid.

Sem comentários: