Daniil Kvyat (esq.) e o seu sucessor, Max Verstappen (dir.) |
Helmut Marko acrescentou mais algumas coisas sobre a decisão: “Esta é uma medida para, principalmente, tirar pressão ao Daniil. Esta pressão existe nesta temporada e ele não está tendo o mesmo rendimento do ano passado. Ele vem sendo entre 0,3 e 0,5 segundos mais lento que Ricciardo. Em 2015 ele estava ao mesmo nível”, começou por comentar o dirigente ao site ‘MotorSport Total’.
“Ele está sendo muito inconsistente e a ter muitos altos e baixos. Tem vezes que vai bem, como se viu na China, mas ele mesmo se colocou debaixo de muita pressão. O acidente em Sóchi é uma consequência da pressão interna que ele mesmo construiu. Não veio da nossa parte. Nossa ideia agora é que possamos recuperar a sua moral na Toro Rosso”, concluiu.
Estas são as justificações oficias sobre esta decisão. Contudo, se queremos ir um pouco mais longe e mais fundo, veremos que há mais coisas dignas de especulação. Há uma em particular: que a Ferrari sondou Max Verstappen para que ele fosse para a Ferrari a partir de 2017. E há quem jure a pés juntos que foi isso que Sebastian Vettel disse a Christian Horner nas boxes de Sochi, depois de ele ter sido empurrado pelo russo... duas vezes. E que fez com que a casa-mãe agisse rapidamente, quando também se fala que a Mercedes também estava interessado nos serviços do holandês.
Contudo, essas "teorias da conspiração" não tem muito cabimento quando sabemos da politica da Red Bull de "queimar talentos". Esquecem-se que a marca austríaca anda há muito à procura de um novo Vettel, para voltarem a ser campeões do mundo, e esquecem-se da quantidade de pilotos que eles já "queimaram" ao longo do caminho. Sebastien Buemi, Scott Speed, Jaime Alguersuari, Jean-Eric Vergne... até pilotos que andaram perto, mas não tiveram chances, como Neel Jani, Lewis Williamson, e até António Félix da Costa, passando pela holandesa Beitske Visser. A ideia de que assinar pela Red Bull é um "Pacto com o Diabo" muitas vezes é esquecida, mas é um ponto forte e assente.
Aliás, se formos ver as carreiras desta gente toda, poucos sobreviveram após a sua passagem pela Red Bull. Pode ser a equipa que mais apoia talentos para os colocar na Formula 1, mas também é uma destruidora de carreiras. Pode ter olho para talento precoce, mas é o sitio onde se acaba a carreira mais cedo. Alguersuari, que só tem 25 anos, quase a idade que tinha Ayrton Senna quando começou na Formula 1, já pendurou o capacete de vez, por exemplo.
Só os (muito) fortes mentalmente é que sobrevivem a esta máquina trituradora.
Agora, foi dada a chance ao filho de Jos Verstappen de brilhar ao mais alto nível. Tem "apenas" 18 anos, mas parece que tem todas as condições para ser campeão. Conseguiu os melhores resultados na Toro Rosso desde a passagem do alemão na equipa, incluindo dois quartos lugares, nos GP's da Hungria e dos Estados Unidos de 2015. Este ano, neste tempo na Toro Rosso, já conseguiu um sexto posto no GP do Bahrein, estando agora no décimo lugar da geral, com 13 pontos.
Terá estofo para isto? Bom, tem de ter. Talento tem, é filho de um veterano de dez temporadas na Formula 1 - e a sua mãe tinha talento no karting - e a sua ascensão foi notável. Há dois anos e meio, ele ainda corria... de karting. E claro, não se pode esquecer que bateu recordes de precocidade quando chegou à categoria máxima do automobilismo, depois de ter sido vice-campeão de Formula 3 europeia (e rookie do ano) em 2014.
Mas essa ascensão meteórica também tem dedo do pai. O jornalista Mark Hughes, da Motorsport britânica, fala sobre o papel de Jos teve no meio disto tudo:
"Houve também pressões vindas de outra direção - a partir do campo Verstappen - para que lhe dessem a Max esta oportunidade, num momento em que a Ferrari e Mercedes já terem dito que estavam muito interessados em atraí-lo para o seu lado, talvez já na próxima temporada. A promoção para a equipa principal, ao lado de Daniel Ricciardo, pode ser suficiente para satisfazer os Verstappens - especialmente o pai, Jos Verstappen - e que os interesses de Max a longo prazo ficariam melhor servidos por ficar dentro da família Red Bull.
É um modus operandi familiar na gestão do filho de Jos. Ele usou uma tática semelhante para ajudar a colocá-lo num Formula 1 em primeiro lugar. Na época [por volta de 2014], a Red Bull estava mostrando interesse nele, então com 16 anos de idade, para que se juntasse ao grupo Red Bull Júnior, ele que estava na sua primeira temporada de Formula 3. Jos insistiu que se Max era para se juntar à família seria apenas na Formula 1: eles não estavam, insistiu ele, interessados em apenas se tornar num dos vários colocados nas categorias júnior, disputando uma possível oportunidade na Formula 1 num futuro distante. Era a Formula 1 ou não, obrigado.
A Mercedes estava interessado em um acordo de longo prazo e também Jos jogou isso nas suas negociações. A veloz ascensão de Max Verstappen na hierarquia, tem dedo na gestão astuta e "tudo ou nada" de Jos, e tem sido tão importante quanto os feitos de Max na pista. Max tem talento, Jos tem apostado nisso com efeito máximo. Esta última promoção é apenas mais um exemplo disso." conta.
Em suma, a decisão de hoje foi uma combinação de fatores. Não foi só a "fome", como também "a vontade de comer", digamos assim. A Red Bull e os seus dirigentes podem ser pessoas algo inescrupulosas, mas também tem medo de perder algo. E para Daniil Kvyat, creio que os seus tempos na Red Bull, e até na Formula 1, poderão ter chegado ao fim. E poderá ser mais um caso de piloto "triturado" pelos energéticos austríacos...
Quanto a Max, veremos se ele consegue aproveitar a oportunidade concedida. Daniel Ricciardo não é um piloto qualquer. Boa sorte para ele. Se o conseguir, estarão reservadas páginas douradas e uma muito longa carreira.
Sem comentários:
Enviar um comentário