segunda-feira, 15 de abril de 2019

A imagem do dia

Algures do GP da Grã-Bretanha em 1975. Da esquerda para a direita: Lord Hesketh, James Hunt, Alexander "Bubbles" Horsley e Harvey Postlethwaithe., o projetista do Hesketh 308.

"Embebedaram-me", ele contou um dia, quando lhe perguntaram sobre a razão pelo qual acabou na Hesketh, em 1973. Aquela equipa tinha tudo para não dar certo, pois era uma tropa fandanga: um aristocrata excêntrico, Lord Hesketh, um piloto que era a antitese do seu tempo, James Hunt, sem patrocinadores e mais preocupado em festas do que na competição. Viver o momento porque a seguir, poderiam morrer. Ou o dinheiro poderia acabar, como acabou no final de 1975.

Mas passada a bebedeira e a festa, tinha de mostrar serviço. E mostrou: em menos de um ano, transformou um chassis March de tal maneira que quando Hesketh vendeu tudo a Walter Wolf, tinha vencido uma corrida, sete pódios e uma volta mais rápida. e era apenas o principio.

Harvey Postlethwaite nasceu a 4 de março de 1944 em Barnet, na Grã-Bretanha. Tirou engenhearia mecânica no final dos anos 60, mas arranjou emprego na ICI, um complexo quimico e industrial. Cansou-se e em 1970 foi para a March. Nos dois anos seguintes, andou a desenhar chassis para a Formula 2 e a Formula 3, e quando Lord Hesketh adquiriu um chassis dessa marca para a sua equipa, convidou Postlethwaithe para desenhar uma evolução do carro. Elas foram tantas que no final do ano, já era um chassis autónomo.

O mais interessante é que ficou no mesmo lugar entre 1973 e 1980. Só que durante esse tempo, mudou três vezes de equipa. A Hesketh foi comprada pela Wolf, e três anos depois, esta foi comprada pelos irmãos Fittipaldi por 750 mil libras. E nesse ano, conseguiu mais dois pódios para os brasileiros e acolheu um jovem projetista, que queria um estágio na Formula 1. Chamava-se Adrian Newey. Só se mudou a sério em 1981, quando a Ferrari o contatou para fazer um cisne lindo dos patinhos feitos com turbo que se tinham tornado os carros de Maranello. O 126C2 foi o primeiro carro sob a sua alçada, e poderia ter dado o título se não fosse tão frágil, e acabasse por matar Gilles Villeneuve e acabasse com a carreira de Didier Pironi. Moralmente, foram os campeões do mundo, embora tenham ficado com o dos Construtores.

Ficou na Ferrari até 1988, quando foi para a Tyrrell, e ainda teve a genialidade de tirar um coelho da cartola com o 019, o primeiro carro com o nariz levantado da história da Formula 1. E logo na sua segunda corrida, deu um segundo lugar a Jean Alesi, no Mónaco. E para provar a integridade estrutural do carro desenhado para o Velho Lenhador, ficou em cima da asa.

Como acontecera uma década antes, acolheu novo talento quando via. E desta vez foi Mike Gascoyne, que foi com ele quando em 1992, foi para a Sauber, que mal iria comear a sua aventura na Formula 1. Voltou à Tyrrell em 1994 e lá ficou até ela ter sido comprada pela British American Tobacco. Depois, a Honda convidou-o para desenhar o carro para uma eventual entrada na Formula 1, e estava a ser testado por Jos Verstappen. Contudo, a 15 de abril de 1999, em Barcelona - ha precisamente vinte anos - sofreu aos 55 anos um ataque cardíaco fatal.

Sem comentários: