Costuma-se dizer que dos derrotados, não reza a história. Depende sempre se o perdedor sobrevive, pois caso isso aconteça, ele têm o poder de contar a sua versão dos acontecimentos. E sempre que o conta, se o faz com graciosidade e bom humor, sem ressentimentos, é capaz de conquistar a audiência. Napoleão Boanaparte fê-lo nos seus dias de exílio perpétuo em Santa Helena, e deu o mote para que outros contassem as suas versões. Reparem na equipa de futebol holandesa: nunca venceu um campeonato do mundo de futebol, mas o encanto que deixam nos relvados do mundo inteiro, e graças a pessoas como Johan Cruyff, o colocam no panteão dos gloriosos. Derrotados, mas gloriosos na mesma.
De uma certa forma, foi assim que se encarou Stirling Moss. Um piloto que se tornou no favorito de toda uma geração, os seus feitos nas pistas de todo o mundo, ao volante de diversos carros ao longo de uma década, fê-lo cair no goto dos fãs de automobilismo e o seu charme e bom humor foi suficiente para conquistar o carinho dos fãs, suficiente para compensar os títulos mundiais que poderia ter tido, mas não teve. E os campeonatos de 1956 e 58 poderiam ter sido dele, se tivesse tido mais sorte.
Mas os campeonatos que perdeu são compensados com muitas vitórias. E uma delas, para ele se tornou a sua favorita: o GP do Mónaco de 1961, prova de abertura do campeonato desse ano.
Moss tinha tido uma temporada de 1960 atribulada. Vencera no Mónaco com autoridade, mas duas corridas depois, sofreu um grave acidente nos treinos do GP da Bélgica, onde ficou em coma por algumas semanas, recuperando totalmente e correndo a tempo de vencer na última prova desse ano, em Riverside, palco do GP dos Estados Unidos.
Em 1961, os carros iriam adoptar os novos regulamentos, com os motores de 1500cc aspirados, e os Ferrari, com o modelo 156, parecia que tinha o favoritismo. E a sua equipa tinha alguns dos pilotos do momento: os americanos Phil Hill e Richie Ginther e o alemão Wolfgang Von Trips. Com a Lotus a alinhar com Jim Ckark e Innes Ireland, e a Cooper com Jack Brabham e Bruce McLaren, Rob Walker alinhava com Moss e o veterano francês Maurice Trintignant. O favoritismo dos Lotus foi abalado por ele, que conseguiu a pole-position.
Na corrida, as coisas começaram com Clark e Ginther a ficar com o comando, deixando Moss no terceiro posto. Mas cedo do escocês da Lotus teve problemas com a sua bomba de gasolina, e acabou com onze voltas de atraso. Moss, no seu Lotus-Climax com menos potência, conseguia converter fraquezas em forças, e foi para a frente, depois de passar Ginther para ficar com o comando, enquanto os Ferrari se viam aflitos para passar o Porsche do surco Jo Bonnier. Por causa disso, Moss conseguiu um avanço de dez segundos antes dos Ferrari se livrarem do sueco e se aproximarem do britânico.
A corrida no Mónaco era exaustiva. Eram cem voltas no principado, e os pilotos mexiam na caixa de velocidades mais de 1500 vezes para trocar de marchas, e isso fazia cansar os pilotos. A sua concentração no final da prova não era a mesma do inicio, e o cansaço por vezes traía-os a eles batiam no muro, que não os perdoava. E para piorar as coisas, nessa tarde estava calor, e Moss tinha pedido aos mecânicos para que tirassem os painéis laterais do carro, para poder arrefecer. Que poderia fazer tal coisa agora?
Na parte final da prova, a partir da volta 58, Moss, para além do cansaço natural, estava a lidar com um Ginther que se aproximava perigosamente. A potência dos Ferrari levava o seu melhor e pensavam que com o tempo, iriam levar a melhor.
Enganaram-se: sempre que eles se aproximavam, Mosse reagia, sendo mais veloz nas curvas, digamos assim. Ginther queria ganhar, e tentou a partir da volta 91 atacar decisivamente a liderança do britânico, mas este aguentou firme as investidas do americano, acabando por sair vencedor, pela terceira vez nas ruas no Principado e logo na primeira corrida do ano, nos novos regulamentos. Contrariando as expectativas, e deixando toda a gente agarrado à pista, quase sem respirar, Moss era o vencedor.
Claro, o resto da temporada pertenceu aos carros de Maranello, mas quando as coisas pareciam mais duras, onde o estilo de pilotagem contava, Moss conseguia ser melhor, e provou isso no GP da Alemanha, no Nurburgring Nordchleife, com mais uma excelente condução. E tudo isto a caminho dos 32 anos, e com dez anos de Formula 1 pelas costas, num tempo onde um erro e era literalmente, a morte do artista.
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