Se em alguma altura alguém escrever algo sobre a curta e trágica história da Simtek, há personagens que merecem ser referidos, para além de Brabham e Ratzenberger, entre outros. E nesse curto período, entre 1994 e 1995, para além de Nick Wirth, a figura de Barbara Behlau merece ser contada. E a sua história apareceu por estes dias no muito interessante site de origem neerlandesa chamado unracedf1.com. É que ela não foi só a manager de malogrado piloto austríaco, ajudando-o na sua carreira. A certa altura, chegou a ser dona de um terço da sua equipa e a que mais acreditou nela até ao momento em que faliu, após o GP do Mónaco.
Não é por nada que o título usado é "a salvadora da Simtek". E a história merece ser contada.
Filha de uma neerlandesa e de um monegasco, nasceu nessa cidade em 1944, e cresceu por ali. Fascinada por desportos, mais concretamente a Formula 1, fundou uma agência de relações públicas na década de 80 chamada "Agence Barbara M.C", de Monte Carlo, a cidade onde trabalhava. Não era só desporto onde trabalhava, também tinha alguns artistas de cinema e televisão - Cannes não é longe dali. Cruzou-se com Ratzenberger no início da década de 90, pois ambos moravam na cidade, e ela decidiu agenciá-lo. Com o sucesso dele no Japão, na Formula 3000, bem como as suas participações na Endurance, quando ele conseguiu o lugar na Formula 1, pagou do seu próprio bolso os 500 mil dólares suficientes para correr nas cinco primeiras corridas: Brasil, Japão, San Marino, Mónaco e Espanha. E até lá, tentaria arranjar dinheiro para mais.
A história é conhecida: apesar da não-qualificação no Brasil, terminou em Aida, no Japão, e tinha um lugar na grelha em Imola, quando teve o seu acidente mortal no Sábado. Por esta altura, parecia que poderia arranjar mais patrocinadores para que ele ficasse por mais algumas corridas, pelo menos existiam conversas nesse sentido.
A equipa continuou, em honra a ele, e o seu envolvimento tornou-se maior, num verdadeiro espírito de "equipa de garagem". Behlau chegou a ter 30 por cento da equipa, procurando por dinheiro para o manter a flutuar. Ao longo de 1994, tiveram mais pilotos como Andrea Montermini, Jean-Marc Gounon, Domenico "Mimo" Schiartarella e Taki Inoue.
Em 1995, tinham três pilotos no alinhamento: Jos Verstappen, Mimo Schiartarella e outro japonês, Hideki Noda. O neerlandês foi um empréstimo da Benetton, onde tinha corrido por 10 corridas na temporada anterior, enquanto os outros dois iriam partilhar o lugar. Contudo, em janeiro de 1995, há um terramoto de Kobe, no centro do Japão, e as finanças sofrem um abalo, porque os patrocinadores são de lá e são afetados pelos estragos. Behlau e outros tem de arranjar rapidamente dinheiro, porque sem ele, não acabariam a temporada.
Apesar de um bom chassis, e alguns resultados interessantes na Argentina, no Mónaco, não havia nem dinheiro, nem patrocinadores. Após essa corrida, e apesar da procura incessante, decidiram encerrar as suas participações após a corrida monegasca. Os bens foram vendidos em leilão.
De Bahlau, sabe-se dela em 1997, quando ajuda a arranjar patrocinadores para a Tyrrell, e lá ficou até ao ano seguinte, quando Ken Tyrrell vende a equipa à British American Tobacco para ela virar BAR. Depois, foi para a Arrows, onde ajuda a arranjar patrocinadores para Verstappen, no ano 2000. Acabaria por morrer em 2006, aos 62 anos, em Monte Carlo. Como o autor do artigo que li dizia, algo mais do que uma nota de rodapé na Formula 1, especialmente por causa do espírito de luta de Ratzenberger, que mostrou a Formula 1 como mais do que um desporto.
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