E dessas seis vitórias, a primeira, de 1982, foi alcançada graças à desclassificação de Nelson Piquet e Keke Rosberg, porque o então piloto da Renault tinha chegado na terceira posição. E na última, já em São Paulo, o triunfo caíu do Céu, contra uma multidão hostil, que desejava muito a vitória do "homem da casa", Ayrton Senna. Contudo, este bateu na traseira do Tyrrell de Satoru Nakajima e com o bico danificado, apenas conseguiu o terceiro posto...
Aliás, muitos dos triunfos de Prost parece que foram à custa das pressas e das faltas de paciência de outros. E hoje falarei de 1988. A primeira corrida do mítico MP4/4.
Era domingo de Páscoa, e o Autódromo de Jacarépaguá estava cheio para receber os pilotos na prova inaugural daquele ano. Claro, a expectativa era ver Senna no seu novo carro, o McLaren, e que tinha o novo motor, o Honda. Mas aquele era o último ano dos Turbos e estes tinham um regulamento especial: uma válvula "pop-off" que atuava sempre que passavam dos 4.5 bar de pressão. Ferrari e Honda eram daqueles que ainda tinham os Turbo, e isso serviria como "equalizador" - o avô do "Balance of Performance" dos dias atuais - para os motores aspirados que a Ford e a Judd apresentavam, antecipando 1989, o primeiro ano dos motores de 3.5 litros.
Mas isso nem era assunto: as pessoas falavam mais nos insultos que Nelson Piquet mandava a Ayrton Senna, insinuando que ele era homossexual - não era, simplesmente era uma provocação - porque nos bastidores falava-se que ele, o caçador, tinha sido "caçado" pelo seu maior rival, e o "troféu" tinha sido... a mulher do campeão do mundo! Claro, tudo "hush, hush", boataria...
E nem tinha sido o único alvo: Piquet também tinha dito que a mulher do Nigel Mansell era "feia". Gostos não se discutem...
Maldecências à parte, Senna partia da pole, tendo a seu lado Mansell, num Williams-Judd, o melhor dos aspirados, batendo até o outro McLaren de Prost, o terceiro. Gerhard Berger era o quarto, na frente do Lotus-Honda de Piquet e do segundo Ferrari de Michele Alboreto.
No dia da corrida, catástrofe para Senna. O selector de caixa quebrou-se e ele somente tinha a primeira velocidade. No momento da partida, ele teve de agitar as mãos e esta acabou por ser abortada, obrigando-o a trocar de carro, logo, obrigando-o a largar das boxes. Só que a troca de carros tinha sido feita depois da amostragem da bandeira verde, logo, era ilegal. Mas não o avisaram na altura.
Sem esse aviso, Senna largou das boxes e efetuou uma recuperação sensacional. Era 21º no final da primeira volta, 15º quatro giros mais tarde, e já estava nos pontos na 13ª passagem pela meta. E ultrapassava facilmente os concorrentes, fosse na Reta Oposta, ou na travagem para as curvas. Se Prost tinha a tarefa facilitada -liderou do princípio ao fim, sem ser contestado - era o seu companheiro de equipa e futuro rival que mostrava as virtudes do carro.
Na volta 20, Senna tinha passado Piquet, apenas na velocidade de ponta, e era segundo. A cavalgada estava completa, e iria ser a primeira de algumas - lembramos fortemente a do Japão, mas esta também deveria ser lembrada.
Contudo, como tinha dito atrás, Senna tinha cometido uma ilegalidade. E esta iria apanhá-lo na volta 31, quando uma bandeira negra foi mostrada e uma placa com o número 12. Era o carro dele e acabou por encostar às boxes de forma definitiva, perante a desilusão dos fãs. No final, Prost ainda se deu ao luxo de abrandar o ritmo para poder ter gasolina para chegar à meta, permitindo a aproximação de Gerhard Berger, enquanto Nelson Piquet era terceiro. Um pódio todo cheio de motores turbo, mesmo com as limitações da então FISA.
No final, foi mais uma tarde no escritório para o francês, o Professor que se consolidava como o Rei do Rio. Mas seria a última ocasião que ganharia ali.
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