quinta-feira, 10 de novembro de 2022

A imagem do dia


Como sabem, Alain Prost é o Rei do Rio, o maior vencedor em terras brasileiras, com seis triunfos entre 1982 e 1990. E desses, cinco foram em Jacarépaguá, praticamente o seu "quintal". Mas poderia ter tido um sétimo triunfo. E não aconteceu porque a sua "kriptonita" entrou em ação, e estragou os seus planos de vitória... a favor do seu rival. Claro, em Interlagos.  

Estamos em 1993. Prost comemora o seu regresso a bordo do Williams FW15C, o sucessor do mítico FW14 dominador da temporada passada, do qual o francês assistiu de camarote, porque decidira fazer uma sabática. No seu regresso, tinha ganho sem problemas na prova de abertura, em Kyalami, na África do Sul. 

Em Interlagos, a Williams ficou com a primeira linha, e Senna era terceiro, com quase 1,8 segundos de atraso sobre aqueles carros, aparentemente imbatíveis. E depois, na partida, o francês assumiu a liderança, com Senna atrás dele, porque Hill, no seu segundo Grande Prémio da sua carreira, largou pior. Mas todos evitaram o acidente aparatoso de Michael Andretti e Gerhard Berger, logo na travagem para o S de Senna. 

O brasileiro fez o melhor para aguentar Hill, mas na volta 11, o britânico conseguiu passá-lo, relegando o piloto da McLaren para o terceiro posto, e parecia que iria ser assim até ao final, numa corrida aparentemente aborrecida. Pior ainda: na bolta 25, os comissários deram uma penalização de 10 segundos por ter ultrapassado um piloto atrasado debaixo de bandeira amarela. Tudo parecia conspirar contra ele, naquela tarde. 

Mas depois... apareceu a chuva. Algo do qual Prost nunca se deu bem - há quem fale que tinha a ver com o acidente de Didier Pironi, dez anos antes - mas o que era facto é que tinha dificuldades, especialmente contra o "rei da chuva" que era Senna. E no Brasil, era uma carga de água tal que todos foram surpreendidos. E ele foi um deles. Na volta 30, o Minardi de Christian Fittipaldi despistou-se e ficou parado no meio da pista, sem bater em nada. E quase a seguir, assistiu e camarote ao Williams de Prost vindo na sua direção, acabando por bater nele e parando na gravilha. Tudo isto na reta da meta. 

Por esta altura, víamos pela primeira vez em quase 20 anos a entrada do Safety Car. Uma corrida neutralizada não com uma bandeira vermelha, mas com um carro mais lento. E Senna, que tinha tudo para dar errado naquela tarde, passou para o outro lado da moeda: tudo para dar certo. Trocou para pneus de chuva quando foi necessário, e estava em segundo, atrás de Hill. A chuva parou, a pista secou rapidamente, e quando esta recomeçou, na volta 41, Senna passou-o com relativa facilidade, comandando até ao fim.

A vitória foi das mais populares da história do GP brasileiro. A multidão invadiu a pista, envolveu o carro de Senna, e depois o Fiat Tempra que o levou até ao pódio, onde o troféu foi oferecido por Juan Manuel Fangio, cinco vezes campeão e lenda eterna da Formula 1. O gesto de Senna, que saiu do seu lugar no pódio para o abraçar, ficou na História. Mas também ficou na História à reação do público, que se alegrou com o desastre do "nemesis" do seu herói. E naquele dia, foi Carnaval e "triunfo da Copa" no mesmo dia. 

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