terça-feira, 18 de abril de 2023

A imagem do dia


Não é frequente ver a França como o lugar onde a Formula 1 escolha para ser a sua porta de entrada na Europa, porque normalmente - pelo menos nestes anos 80 do seculo XX - o lugar escolhido para isso era Imola, palco do GP de San Marino. Mas esse iria acontecer dali a duas semanas, a 1 de maio, e o circuito de Paul Ricard, que normalmente tinha corridas em julho, iria ser o palco dessa corrida.

No fundo, era uma experiência. E iriam repetir no ano seguinte, em Dijon. Somente em 1985 voltariam a colocar a corrida em julho, onde sempre foi tradição. Mas numa corrida onde a Renault dominou e Alain Prost levou a melhor sobre Nelson Piquet e Eddie Cheever, essa foi a corrida onde regressou um velho apelido local: Schlesser.

Jean-Louis Schlesser era sobrinho de Jo Schlesser, um piloto que tinha feito nome nos anos 60, e tinha duas coisas interessantes. Guiava carros da Ford, e era amigo pessoal de Guy Ligier. Quando sofreu o seu acidente mortal, a 7 de julho de 1968, no circuito de Rouen-Les Essarts, a bordo do Honda RA302, na segunda volta dessa corrida, as imagens dele a ser arrastado do seu chassis em chamas, marcaram muitos que assistiram no cinema e na televisão. 

Mas claro, isso não impediu Jean-Louis, que crescera em Marrocos, de correr, com bons resultados nas competições de promoção. Por exemplo, em 1978, foi um dos rivais de Alain Prost para o campeonato francês de Formula 3. Em 1981, correu nas 24 horas de Le Mans num Rondeau, ao lado de Jacky Haran e Philippe Streiff, e acabou em segundo lugar, e no ano seguinte, competiu na Formula 2 europeia pela Maurer, ao lado de Stefan Bellof... e não conseguiu qualquer ponto. 

 No ano seguinte, tinha deberes de piloto de testes na Williams e decidiu experimentar a Formula 1. Arranjou dinheiro para correr na RAM, e começou na Race of Champions, em Brands Hatch, a última corrida extra-campeonato na história da competição. Com 13 carros, foi o último na grelha, sem marcar tempo, e acabou em sexto, a uma volta do vencedor, o Williams de Keke Rosberg

A seguir, Schlesser tentou a sua sorte na corrida caseira. E enquanto Alain Prost e Eddie Cheever monopolizavam a primeira fila da grelha - só voltariam a fazer isso 20 anos depois, com Fernando Alonso e Jarno Trulli ao volante - o RAM, um chassis derivado do March 182, e só com um motor Cosworth aspirado, num circuito onde a velocidade dos Turbo fazia imensa diferença - o melhor aspirado foi o McLaren de Niki Lauda, 12º a 4,3 segundos do poleman! - Schlesser conseguiu o tempo de 1.45,866, um segundo mais lento que Chico Serra, no seu Arrows e 26º na grelha, e... 9,194 segundos mais lento que a pole-position. Ou seja, iria ber a corrida das bancadas, porque só alinhavam 26 dos 29 carros inscritos. 

E assim acabava, ingloriamente, a sua primeira experiência na Formula 1. Prosseguiria a sua carreira nos Sport-Protótipos, acabando campeão Mundial em 1989 e 90, num Sauber-Mercedes, com bons resultados em lugares como Le Mans, e mais tarde, em 1999 e 2000, seria duplo vencedor do Dakar. Mas pelo meio, ainda faria outra incursão pela Formula 1. E isso... é para mais tarde.  

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