domingo, 10 de setembro de 2023

A imagem do dia




Foi ontem, mas ainda estou a tempo de contar a história. 

Há meio século, em Monza, enquanto os Lotus conseguiam uma dobradinha com Ronnie Peterson na frente de Emerson Fittipaldi, o escocês Jackie Stewart alcançava o seu terceiro título mundial a bordo do seu Tyrrell 006. Contudo, ao contrário das suas vitórias conseguidas naquela temporada, nunca os pontos necessários para alcançar esse título foram tão suadamente merecidas. Isto porque não esperava alcançá-las. 

Tudo começou nas primeiras voltas, quando começou a perder o controlo do seu carro, por causa de um furo no pneu traseiro esquerdo, quando seguia os Lotus. Trocou de pneus e quando regresso, era apenas 19º e as chances de pontos pareciam ter-se evaporado. Mas o que se seguiu foi a demonstração de uma grande condução, batendo o recorde da pista, andando em ritmo de qualificação. Algo do qual tinha paralelos com uma outra condução, de outro escocês, na mesma pista, seis anos antes: Jim Clark.

Acho que Ken [Tyrrell] pensou que daquele ponto em diante eu iria perder o interesse [na corrida]. Sabíamos que tínhamos um pouco de velocidade e estávamos alcançando a todos e comecei a fazer voltas muito boas, mas acho que ele pensou que eu poderia ter começado a ficar entediado, então ele começou a me dar sinais do género '-45 Fangio!' Foi tudo muito engraçado.

"Eu estava escolhendo as pessoas volta por volta e quebrando o recorde de volta uma após a outra, e continuei ultrapassando. A última pessoa que passei foi meu companheiro de equipa François [Cevert] e terminei em quarto. Eu até pensei que poderia subir ao pódio."

De facto, era verdade. A coisa chegou ao ponto de, quando se chegou à traseira de Francois Cevért, ele pura e simplesmente colocou-se de lado para não o incomodar. E na parte final, ganhando dois segundos por volta a Peter Revson, parecia que o pódio poderia estar ao seu alcance. Não conseguiu, por meros 4,4 segundos, ou seja, umas três voltas, ao seu ritmo.

Na frente, Fittipaldi esperava por um sinal que acabou por não acontecer: o de Peterson o deixar passar para ele ser o vencedor, como tinha acontecido no ano anterior, e ter uma chance para lutar pelo título, ou então, prolongá-lo mais uns tempos. Não aconteceu. Creio que Colin Chapman tinha visto que a luta pelo título estava mais que perdido, e o melhor seria acabar por ali, pensando no ano que vem, em mais uma chance, quando tudo voltasse à estaca zero. Até poderia acontecer, mas o brasileiro decidira que iria recomeçar noutra escuderia. 

Ken Tyrrell comemorava com uma garrafa de champanhe na mão e um charuto na outra. O difícil 006, no qual apenas Stewart sabia guiar como ninguém, era o carro perfeito para ele. Aos 34 anos, era o escocês mais titulado, batendo Jim Clark.

Aliás, por estes dias, disse à Autosport britânica que esta foi a corrida da sua vida. E foi ali que contou como foram os momentos a seguir à corrida, e a loucura dos tiffosi locais:

Todos estavam pulando [de alegria] quando entrei [nas boxes], mas eu não tinha certeza se havíamos vencido o campeonato. Eu disse por três vezes 'tens a certeza?' Então a multidão veio e como eu não estava no pódio eles cercaram-me. Acabei indo para a casa de banho com minha esposa Helen e todos batiam na porta, então abrimos a janela e fugimos para o paddock, mas eles nos encontraram lá também."

O que poucos sabiam - e muitos desconfiavam - é que ele tinha cumprido a sua missão e iria embora da Formula 1. Apenas queria ir embora com um número redondo no braço: cem Grandes Prémios. Só faltavam duas para lá chegar.   

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