terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Sempre teremos hidrogénio?


Há mais de uma década - desde 2013, para ser mais concreto - que o Automobile Club de L'Ouest, o ACO, está a aplicar os seus conhecimentos num projeto de um protótipo de Endurance a hidrogénio, para correr nas 24 Horas de Le Mans. E na semana passada, mostrou a sua mais recente evolução do seu carro.

O seu grande objetivo será de mostrar um carro completo capaz de correr a totalidade da distância a partir da edição de 2029, aproveitando a evolução da tecnologia deste tipo de combustível na Europa. Aliás, fontes da FIA afirmam que o regulamento está avançado e poderá ser apresentado ainda este ano.

Contudo... será que teremos carros a hidrogénio nessa data? Ou em tempo algum? 

É que, ultimamente, no paddock da competição de Endurance, o WEC, acham que este prazo começa ser irrealista, e há mais razões porque acreditam que essa aposta não acontecerá no final da década. Razões técnicas, de engenharia... e ultimamente, politica. 


É verdade que a aposta no hidrogénio atraiu algumas marcas como a Toyota (a grande incentivadora dessa tecnologia) e a Hyundai, através da sua marca "premium", a Genesis, mas a maneira como querem colocar nos carros varia. Inicialmente, a ideia da ACO era na tecnologia das células de combustível, mas agora são motores a combustão, convertidos para serem adaptados a esse tipo de combustível, ou seja, hidrogénio liquido.

Contudo, construir toda uma estrutura é demasiado complicada. Para além de toda uma estrutura que tem de ser construída - especialmente no capitulo do hidrogénio verde - está-se a descobrir que os protótipos já construídos são em média 400 quilos mais pesados que os Hypercar das classes LMH e LMDh. Ou seja, a ideia de serem tão pesados quanto os carros a combustão, ideia por trás de todo este projeto, não está a acontecer. Aliás, recentemente, a Hyundai decidiu congelar o seu projeto de hidrogénio nos seus carros de estrada, por achar que é muito complicado em termos de estrutura técnica. 

Por outras palavras, tinha de construir refinarias para transformar hidrogénio em combustível, construir carros e toda uma infraestrutura de abastecimento deste tipo de carros. Milhares de milhões de dólares que poderão ser desperdiçados se um bloco de países desistir dessa tecnologia, por exemplo. 

Para piorar as coisas, entrou um novo componente: a politica. Com o novo presidente dos Estados Unidos em ação, armando-se em "elefante numa loja de porcelana", a prometer tarifas de 25 por cento na União Europeia, aliado com a revisão do "Green Deal" europeu por parte da União Europeia, no sentido de proteger a industria automóvel do Velho Continente se as nações decidirem adiar o final dos motores a combustão para além de 2035, todos os projetos de hidrogénio deixam de fazer sentido. Ou seja, o risco deste regulamento ficar "vazio" de concorrentes é bem real, e todo o dinheiro gasto no avanço dessa tecnologia arrisca a se tornar um desperdício.


Resta esperar no que irá acontecer no futuro, afinal de contas, 2029 "está à esquina". Mas o risco de deitar fora centenas de milhões de euros já aplicados nesta tecnologia é bem real.

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