sexta-feira, 27 de junho de 2025

Apreciação critica sobre "F1, o Filme"


Chegado o verão ao Hemisfério Norte, Hollywood dá a esta altura a prioridade a filmes que deseja que sejam "blockbusters". E a grande maioria desse tipo de filmes são essencialmente estes: espetáculos visuais cujo conteúdo argumentativo seja menor. É uma formula de sucesso que funciona há cerca de meio século - os primeiros exemplos são "Tubarão" e "Guerra das Estrelas" - e aproveitam bem o facto de, estando calor lá fora, dão-se às salas de cinema todos os pretextos para escapar do calor. Ar condicionado, sistemas de som de última geração, bebidas frescas e mais recentemente, IMAX: um ecrã enorme que nos envolve, como se fosse a realidade.

Na última década, fomos bombardeados até à exaustão de filmes de heróis da banda desenhada e "spinoffs" da Guerra das Estrelas, como se fossem vaquinhas que tinham de ser ordenhadas até à exaustão porque eles, praticamente, ficaram preguiçosos e sem imaginação. Mas no meio de fantasias espaciais e afins, houve excepções, como "Top Gun: Maverick", filme de Joseph Kosinski que, com Tom Cruise na frente do espetáculo, fez mais de mil milhões de dólares de receitas de bilheteira. E com a ajuda das suas técnicas cinematográficas e do IMAX, as pessoas saíram do cinema envolvidas num delírio visual do qual tão rapidamente não largariam. 

E no verão de 2025, o próximo delírio visual chama-se "F1, o Filme". Mas se acham que é o "Top Gun" com carros, com Brad Pitt no lugar de Tom Cruise, bem... aí é que acabam as semelhanças.  

Sem querer dar "spoilers", eis o seguinte: a Apex GP, equipa que está no fundo da tabela, precisa de um piloto que a faça dar a volta, caso contrário, o seu fundador, Ruben Cervantes, seja obrigado pela direção a vender. Afinal de contas, tem 350 milhões investidos num buraco sem fundo. E o desespero faz com que se encontrem soluções desesperadas. Entra Sonny Hayes, um... "lobo solitário" que entra em corridas como um "freelancer", correndo num fim de semana nas 24 Horas de Daytona, noutro, na Baja California. Vive numa caravana, gosta de jogar, e em tempos correu na Formula 1. Porquê Cervantes se lembrou de Hayes? Porque em tempos, correram juntos. 

Claro, Hayes tem uma montanha para escalar. Uma montanha cheia de céticos. E ele tem de os escalar, e tem o tempo contado para o conseguir chegar ao topo. E eis a permissa de "F1". 


Como é isto? Vi-o no IMAX e saio do cinema a pensar que houve momentos em que senti estar dentro do cockpit, a acelerar no carro. Nisso, Kosinski conseguiu cumprir, tão bem como Top Gun". Mas, bem pensado, se visualmente consegue ser fantástico, em termos de profundidade é... o equivalente a uma espetacular piscina do parque aquático, mas com a profundidade de uma criança de três anos. Para os conhecedores da Formula 1, os veteranos, os puristas, os preconceituosos, fiéis à História... não recomendo. Sinceramente, fujam. Irão odiar. Se sai do guião da realidade pura e dura, irão reclamar o tempo todo, desculpem.

Contudo, é fantástico para a geração "Drive to Survive". É um orgasmo visual. Precisamente aqueles que foram ao cinema ver os filmes da Marvel ou da DC. Afinal de contas, cumpre a cem por cento os critérios do "blockbuster" de verão, e ainda por cima, sem CGI. O realismo visual das cenas é orgásmico.      

E eis os aspectos positivos deste filme. Sim, Kosinski sabe do que faz, mas o fato de termos Lewis Hamilton como um dos produtores executivos do filme e conselheiro, que lhe disse para que as cenas não fossem irrealistas, impediu disto ser um "shitshow", deixado à mercê dos delírios de argumentistas com LSD a mais no cérebro. A Liberty Media é americana, tem um produto que deseja valorizar, e o seu grande objetivo é que, depois dos espectadores terem visto o filme, irem para os circuitos ou assinarem o "streaming" para poderem ver mais da competição. E se puderem gastar algumas centenas ou milhares de dólares para irem a Austin, Miami ou Las Vegas para verem uma corrida ao vivo, tanto melhor. Os cofres agradecem. a Liberty fica feliz. 


Em suma, é um belo espetáculo visual. Mas se disserem que é pobre em termos de argumento, eu posso argumento de defesa: o "Grand Prix", filme de John Frankenheimer de 1966 sobre uma temporada de Grande Prémio com James Garner e Yves Montand, também não. E quase 60 anos depois, graças às suas técnicas inovativas de filmagem das cenas, ganhou três Óscares e é dos melhores filmes de automobilismo de sempre, que marcou uma geração. 

O que poderei dizer? Tirem um tempo no fim de semana para irem ver o filme, peguem nas pipocas e na Cola e ver no IMAX é melhor que ver em casa.  

Sem comentários: