Já se sabia que, na primavera de 1985, os dias dos motores Cosworth atmosféricos estavam contados, e em Ockham, sede da Tyrrell, já se construía o carro que iria acolher os Renault Turbo, os primeiros de sempre, depois de 15 anos de lealdade para os Cosworth atmosféricos. E enquanto isso não acontecia, o calendário continuava, com a Formula 1 em paragens americanas. E a 23 de junho, corria-se em Detroit, a capital do automobilismo americano.
Uma pista citadina, algo estreita, travada, de baixa velocidade, era um bom local para os carros mais lentos brilharem. E desde 1982, ano em que a Formula 1 chegou a aquela pista, a Tyrrell sempre se dera bem. Em 1983, Michele Alboreto ganhou o que viria a ser a última vitória para a equipa do velho lenhador. Mas também foi em Detroit que se descobriu o esquema que os viria a serem excluídos da Formula 1, em 1984, depois de Martin Brundle ter conseguido um segundo lugar na corrida.
Numa corrida onde Keke Rosberg triunfou sobre o Ferrari de Stefan Johansson, onde parou para tirar papeis dos radiadores do seu Williams, e onde os travões foram penalizados até ao limite, os Tyrrell até se derem bem. Beneficiaram da chuva que caíra no sábado para conseguirem o 18º e 19º tempo, com Martin Brundle na frente de Stefan Bellof, na corrida, as coisas foram melhor, suportando uma corrida de sobrevivência. Na partida, se Nigel Mansell superou Ayrton Senna nos primeiros metros, para depois ser passado pelo piloto da Lotus, atrás, os Tyrrell arrancaram muito bem, passando cinco carros na primeira volta.
Contudo, nas voltas seguintes, os pilotos começaram a sofrer com o asfalto, que derretia com o calor. Os pilotos começaram a ir constantemente para as boxes, trocar de pneus, e a partir da volta 10, quando Lauda desistiu com problemas de travões, as coisas começaram a piorar um pouco para o pelotão. Prost teve o mesmo destino na volta 19, batendo no muro na curva 2, por causa dos travões. No meio disto tudo, os Tyrrell subiam posições sem problemas, e na volta 29, Bellof já era quarto, com Brundle atrás, em quinto. Mas quando dobrava o RAM de Philippe Alliot, depois de ter deixado passar o Ferrari de Michele Alboreto, ele não viu o Tyrrell e acabaram por colidir. As corridas de ambos os pilotos acabaram ali.
A curva 2 era um lugar perigoso. A superfície estava a estalar, com a constante passagem dos carros, e indo fora da trajetória era o ideal para evitar bater no muro. Alboreto e Rosberg faziam uma trajetória diferente, mas Senna não. Na volta 51, cometeu o mesmo erro de Mansell e Prost e a sua corrida acabou ali.
Foi nessa altura que na frente, Rosberg começava a ver a temperatura do seu motor a aumentar. Alertado pelas boxes que tinha algo agarrado aos radiadores, foi para lá trocar de pneus e tirar as impurezas. Johansson passou para a frente, mas o finlandês, com pneus novos, carregou a passou o piloto da Ferrari em três tempos. Logo a seguir entraram em duelo, que acabou quando um disco dos seus travões quebrou e limitou a aceitar o segundo posto. Alboreto, entretanto, tentava salvar os travões e o seu terceiro posto... do Tyrrell de Bellof. Manos potente, mas mais "fresco", o alemão tentou a sua sorte, e a duas voltas do final, parecia que o lugar iria ser seu, porque estava na traseira do Ferrari. Mas por essa altura, a sua embraiagem começou a falhar e se calhar o melhor seria ficar com o pássaro na mão e cortar a meta.
Todos sabiam que quando ficou com o quarto posto, eram os últimos pontos de um motor Cosworth na Formula 1, depois de uma aventura que tinha começado em 1967, no GP dos Países Baixos, com uma vitória de Jim Clark, no seu Lotus 49. Dali a umas semanas, em Paul Ricard, um novo carro, com um novo motor, iria aparecer, encerrando uma era que rendeu 155 vitórias.
O que não se sabia era que Bellof tinha pouco menos de oito semanas de vida, e tinha conseguido ali os seus últimos pontos da sua carreira, e claro, a sua melhor posição de sempre num Grande Prémio de Formula 1.
Ali fechava uma era. Só regressaria dois anos depois, em 1987, e - se calhar, sem surpresa - com um Tyrrell pelo meio.




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