terça-feira, 12 de junho de 2007

Crónica: Os substitutos

Ao ver esta bela charge do Sebastien Vettel, no Blog F-1, do Filipe Maciel, que já esfregava as mãos de contente por ir correr em Indianápolis sem ser para exibição (e depois soube de uma iniciativa semelhante por parte de Timo Glock, o actual lider da GP2), lembrei-me de um facto histórico:


A 8 de Maio de 1982, com um grande estrondo, Gilles Villeneuve deixava o mundo dos vivos, não só deixando órfãos os adeptos da Formula 1, como causando um novo probelma para o velho Commendatore: tinha que aranjar um substituto. Só que não teve pressa, pois queria alguém que fosse bom piloto. Tinha muitas hipóteses na mesa, entre os quais Nelson Piquet, o então campeão do Mundo. Só que a Brabham não quis libertá-lo. E quando falou com o piloto, este recusou, argumentando que "não queria guiar um caixão voador" (não sei se isso aconteceu, se sim, confirmem-no). Enzo Ferrari não teve pressa em encontrar um piloto, nem foi buscar uma alternativa: andou três Grandes Prémios (Mónaco, EUA Leste e Canadá) só com Pironi a defender as cores da Scuderia, e depois escolheu Patrick Tambay, grande amigo de Gilles e padrinho de Jacques Villeneuve. O francês ajudou a Ferrari a conquistar o título, com uma vitória na Alemanha, no mesmo dia que outra tragédia abalava a equipa, com o acidente grave de Didier Pironi.


Quando isso aconteceu, mais uma vez, a Ferrari não teve pressa em arranjar substituto. Em Zeltweg e Dijon-Prenois, somente Tambay defendeu a "rossa". Em Monza, Ferrari pediu a Mario Andretti para que se juntasse à Scuderia, e este deu um ar da sua graça (então com 42 anos) ao conquistar a "pole-position" (a última até agora de um piloto americano). Em suma: mesmo com seis corridas correndo com um só carro, a marca do Cavalino Rampante ganhou o título de construtores.


Em 1994, Ayrton Senna foi-se do mundo dos vivos, num dia ensolarado de Maio. Frank Williams decidiu que não iria arranjar um substituto até ao GP espanhol, quase quatro semanas depois. Logo, no Mónaco, correu com um só carro.


Agora, a Formula 1 é diferente, mesmo no tratamento em relação a casos difíceis. Como não morre ninguém há anos, parece que aquele temor e respeito que havia pela competição e pelos perigos a que isso acarreta desapareceram. Por um lado, é bom, mas pelo outro é mau, pois estamos sujeitos a um rude despertar. E isso aconteceu na tarde deste Domingo, Dia de Portugal: o acidente do polaco Robert Kubica (lê-se Kubitza) só não teve maiores consequências devido à segurança que rodeia o carro: uma célula de sobrevivência (que custa meio milhão de Euros), o dispositivo HANS (que poderia ter salvo Dale Earnhardt, o herói da NASCAR, no seu acidente fatal, em 2001) e o chassis de fibra de carbono.

Kubica safou-se com contusões, mas inicialmente falou-se de uma perna fracturada. A poeira ainda não tinha assentado, e já tinhamos outros, quais abutres à volta da carniça, a oferecerem os seus serviços. Sei que a Formula 1 é a actual montra do automobilismo, algo que muitos sonham e poucos acedem a ela, mas vendo estas situações, lembro-me que 25 anos é mais do que muito tempo na Formula 1. É uma eternidade.

4 comentários:

Felipão disse...

Fantástico texto, Speeder...

Speeder, quanto ao Piquet, eu acho que ele pode ter dito sim. Ele e o Enzo estavam sempre trocando farpas, que culminou com o Piquet chamar o Enzo de "velho gaga" pouco antes do velho morrer.

E as coisa são mesmo ironicas. Quem diria que o melhor amigo do Gilles o substituiria. O destino as vezes é muito ingrato.

Eu lembro também do caso do De Angelis. Ele foi substituido pelo Dunfries, depois que o Senna vetou o Warwick. Como não tinham mais vagas, o Derek teve que se contentar em correr de protótipo.

Depois, o De Angelis morreu e o Ecclestone contratou justamente o Warwick.

Você disse tudo. A BMW, por exemplo, teria até que correr atrás de alguém pros EUA, se o Kubica fosse vetado.

O piloto reserva ainda é muito jovem e até cogitaram o Glock...

Felipe Maciel disse...

Speeder,

bela coluna, rapaz, excelente! Foi um tema bastante interessante que você abordou aqui, grande idéia e parabéns pela forma de expressão!

Ainda bem que você me despertou lá no blog, meus dias de cão voltaram, ando com certa pressa ultimamente. Mas sem dúvida, você merece uma coluna do site do Groo. Não sei se vc falou com ele mas com certeza ele deve deixar. Você mandou muito bem.

É isso aí, a F1 mudou. Até nisso...

abraços

Rogério Magalhães disse...

Amigo Speeder, mandou muito bem... a verdade é que esta é mais uma situação a mostrar que vivemos em novos tempos, muito mais diferentes, a celeridade tomou a frente da contemplação... não se sente mais o respeito como antigamente... tudo é banalizado... esse é só mais um caso dentre tantos em tantos momentos de nossas vidas atuais... mas parabéns pela reflexão... conforme for, quero aproveitá-la em meu Muquifo...

Ah, e sobre os episódios da saga da Lusa, o problema é que a maioria dos relatos escrevo na pressa em casa, muitas vezes, como o de ontem, na calada da madrugada, então acabo não tendo tempo para garimpar alguma imagem, até porque muitas vezes são raras. E o complicador é que não tenho ainda uma máquina digital, mas pretendo ainda comprar uma quando o "tempo" ($$) deixar, hehehe... mas quando consigo algo bom, eu coloco, como as cenas do título que ganhamos...

Speeder76 disse...

Rogério: Força aí, tás à vontade! E vê lá se compras essa máquina logo...