terça-feira, 5 de junho de 2007

GP Memória: Canadá 1982

Uma semana depois de se terem estreado nas ruas de Detroit, máquinas e pilotos rumavam a Montreal, para o GP do Canadá disputado na ilha de Nôtre-Dame, e que tinha sido mudado de calendário, passando de setembro para junho, no sentido de aproveitar o bom tempo que habitualmente se fazia sentir naquela altura do ano.

Contudo, aquele inicio de junho de 1982, ao mesmo tempo que o Mundo vibrava com o Mundial de Espanha, e todos viam equipas de sonho a jogar em campo, como o Brasil de Telé Santana, que tinha jogadores como Zico, Sócrates, Falcão, Toninho Cerezo, Júnior… contra selecções como a Argentina de Maradona, Kempes e Passarella; a Itália de Paolo Rossi, Dino Zoff e Mauro Tardelli; e a França de Platini, Amoros, Battiston, Tigana e Trésor, entre outros, a sombra de Gilles Villeneuve, morto pouco mais de um mês antes, pairava por aquelas bandas. As autoridades tinham decidido que o circuito de Notre-Dâme, seria rebaptizado de Circuito Gilles Villeneuve, mas temia-se que os espectadores deixassem de comparecer ao Grande Prémio, agora que o seu ídolo tinha desaparecido.

A Ferrari já tinha anunciado o seu substituto: o francês Patrick Tambay, mas ele não iria aparecer neste Grande Prémio, decidindo que a Scuderia alinhasse com apenas um carro pela terceira corrida consecutiva. Na Theodore, porém, o britânico Geoff Lees iria correr no lugar do holandês Jan Lammers, acidentado uma semana antes em Detroit. A Toleman continuava ausente, pois estava em testes a melhorar o seu carro.

Após as duas sessões de qualificação, o Ferrari de Didier Pironi tinha conseguido levar a melhor sobre o Renault de Alain Prost. O segundo Renault de René Arnoux era o terceiro, seguido pelo brasileiro Nelson Piquet, no seu Brabham-BMW, a vingar-se da não-qualificação da corrida anterior, em Detroit. Bruno Giacomelli era o quinto, no seu Alfa Romeo, seguido pelo McLaren-Cosworth de John Watson. Keke Rosberg era o sétimo, na frente de Riccardo Patrese, no Brabham-Cosworth. A fechar o "top ten" estavam o segundo Alfa Romeo de Andrea de Cesaris e o Lotus-Cosworth de Elio de Angelis.

Três pilotos tinham falhado a qualificação: o March de Emilio de Villota, o Fittipaldi de Chico Serra - que tinham andado à briga nas boxes com... o seu compatriota Raul Boesel, no seu March - e o ATS de Manfred Winkelhock.

A pole-position de Pironi era um resultado irónico, principalmente quando se sabia que a zanga de Imola e a memória de Villeneuve ainda estava fresca na memória de todos. Apesar de Pironi ter dito que dedicava este feito a ele, muitos entre os pilotos e a imprensa sabiam que aquelas declarações tinham algum sabor a hipócrisia.

O tempo no dia da corrida, 13 de Junho de 1982, estava nublado e muito frio, mas não ameaçava chuva. A tensão era alta, como seria de esperar, ainda por cima quando uma greve de máquinistas do Metro de Montreal tinha ameaçado a realização do Grande Prémio, em termos de espectadores, mas todos pensavam que não se iria passar nada de especial.

Contudo, no momento da partida, o Ferrari de Didier Pironi queima a embraiagem e fica parado na grelha. Todos tentam evitar o Ferrari, mas numa grelha de 26 carros e com uma pista estreita, é quase impossível evitar o choque. Boesel toca de lado no carro de Pironi, causando confusão no fundo da grelha, envolvendo o ATS de Eliseo Salazar. Quase de imediato, o Osella do jovem piloto italiano Riccardo Paletti, de 23 anos, bate em cheio na traseira de Pironi, a cerca de 130 km/hora, fazendo com que o Ferrari saísse do lugar e ainda batesse no Theodore de Lees. O chassis Osella recua assustadoramente com o impacto e Paletti fica com ferimentos graves nas pernas e no peito, devido à violenta projeção do seu volante.

Os socorros são velozes e tentam retirar o piloto italiano de 23 anos do carro - iria fazer 24 dali a dois dias - mas este, cheio de gasolina, pega fogo devido às altas temperaturas do carro e os danos, que causaram uma faísca. O incêndio é controlado com alguma dificuldade, e consegue-se tirar Paletti do carro, mas os seus ferimentos já eram fatais. A sua morte foi confirmada cerca de duas horas mais tarde, quando chegou ao hospital. Iria ser a segunda naquela temporada, a segunda em pouco mais de um mês.

A corrida ficou naturalmente parada, retirados os destroços, deu-se nova partida por volta das seis da tarde. Sem o Theodore de Lees e os dois Osellas, e com Pironi a largar com o carro sobressalente, a segunda partida é dada com Pironi na frente, seguidos por Prost, Arnoux, Piquet, Watson e Lauda, que dá um pulo da 11ª posição para chegar ao sexto lugar ao fim de uma volta. Contudo, o Ferrari começa a ter problemas de direção e cedo cede o lugar aos Renault, caindo primeiro para o quarto lugar, e depois desaparecendo no meio do pelotão.

Arnoux e Prost começaram a abrir vantagem sobre os demais, graças ao seu carro com motor Turbo, mas Piquet, também com motor Turbo, mas da BMW, cedo assediou Arnoux e o passou na nona volta. Atrás, Patrese começava a fazer uma corrida de recuperação e na volta 27, tinha conseguido passar Prost e era o terceiro classificado, fazendo com que Renault e Brabham ficassem com os quatro primeiros lugares. Mas na volta 28, Arnoux despista-se e Patrese herda o segundo posto. Pouco depois, a corrida de Prost termina em fumaça, graças ao motor.

A partir daqui, a corrida é um passeio dos Brabham, com Piquet a liderar sobre Patrese e a caminho de uma dobradinha. Na fase final, as boxes tem de ordenar a Patrese para que abrande o ritmo, pois este ia apanhar Piquet na liderança e convinha que a vitória fosse a primeira do motor BMW Turbo em vez do mais fiável Cosworth, que equipava o carro de Patrese.

Mas se tudo estava bem na frente, atrás havia drama: o Alfa Romeo de Andrea de Cesaris ia a caminho de mais um pódio quando ficou sem gasolina na última volta, e a mesma coisa tinha acontecido ao Ligier de Eddie Cheever e ao Williams de Derek Daly, evitando que pontuassem. No fim com Piquet vencedor e Patrese em segundo, o lugar mais baixo do pódio ficou nas mãos do McLaren de John Watson. O Lotus de Elio de Angelis era quarto, seguido pelo Arrows de Marc Surer e apesar de ter ficado sem combustível... o Alfa Romeo de Andrea de Cesaris.

Estava construída uma dobradinha da Brabham, a primeira desde o GP de Itália de 1978, e iria ser a primeira vitória do motor BMW Turbo. Mas todas estas alegrias, estavam definitivamente marcadas por mais uma trágica morte em corrida, numa época que já estava a ser demasiado conturbada.

4 comentários:

Mauro Cesar Costa disse...

Comunicado! A F BUS Teresina mudou de data pra saber mais, passa lá no Conte de Vista. Um Abraço

Felipão disse...

Eu tenho até uma história bacana sobre esse GP que envolve o meu pai. Ele, meu pai, se vangloria de nunca ter perdido nenhum GP, desde a época em que eles começaram a ser transmitidos por aqui. Ele só perdeu uns que não passaram na tv mesmo. No dia do GP da Itália de 1999, tinha um casamento pra ir. Eu lembro como se fosse hoje, ele vira pra minha mãe e diz: -"Olha, eu não vou não. Você dá uma desculpa qualquer lá e fala que não deu pra mim ir. Da última vez que quase perdi o GP, o Paletti morreu e quase não assisti". (hehehe, como se minha mãe soubesse a real importância de Riccardo Paletti para nós fãs.)Aliás a maior parte das histórias da F1 dos anos 70 até 84, quem me contou foi meu pai. Esse vício passa de pai pra filho, já que meu avô era viciado também...

Abração!!!

Mura disse...

Outros tempos... eu não imaginava que uma equipe corresse com motores de marcas diferentes e totalmente diferentes entre si. Como o regulamento engessou a F1 de hoje.
E Felipe Midea, muito bacana sua história... foi assim comigo também, por causa de meu pai o gosto da F1... mas o meu pai não é extremo como o seu... acho que eu sim, quase...vejo a F1 desde 1993 e se perdi 5 corridas até hoje, foram muitas.

Unknown disse...

O Piquet ja deu entrevistas essa corrida, como uma das maia especiais. A Brahbam penava para testar o BMW Turbo, e o Piquet a frente do desenvolvimento, e o Patrese correndo de motor Ford. No GP anterior em Detroit, as Brahbam nao atingiram tempo, devido os testes com o BMW Turbo. Patrese havia dado uma declaraçao que "qualquer macaco" ganharia um campeonato com a Brahbam-Ford Cosworth, e Piquet nao digeriu bem, uma vez que ele era o atual campeao do mundo. No GP do Canada, Piquet declarou que colocaram um radiador na frente dos pedais, o que causou um esquentamento anormal dos pedais, o que causou uma dor insuportavel ao Piquet, e ele nao deixaria corrida ao Patrese, de jeito nenhum pela declaracao dele. Piquet correu com uma temperatura beirando 100c, por mais de 70 voltas e conseguiu ganhar a corrida.