sábado, 11 de agosto de 2007

Extra-Campeonato: Tony Wilson (1950-2007)

Em criança, costumava ver na televisão aqueles programas de musica que haviam nos Sábados à tarde, numa altura em que a MTV era algo que se ouvia à distância (cresci em meados dos anos 80), e uma das bandas no qual fiquei imediatamente apaixonado foram os New Order. Gostava especialmente (e ainda gosto) de ouvir o "True Faith", ou o "Blue Monday". Para mim, a sonoridade deles tinha uma espécie de efeito magnético, parecia que tocavam no nervo certo, soava a irresistível.


Com o correr dos anos, comprei os CD's deles, e passei a ter sobre eles uma admiração que não esmoreceu até hoje. Descobri o grupo que se tinha formado antes, os Joy Division, de Ian Curtis, mas não gostava do som que eles tinham. Quando alguém me disse que o "Love Will Tear Us Apart" era uma das músicas mais tristes que já tinha ouvido, concordei plenamente. E o fim que o Ian Curtis teve ajudou a convencer-me de que a sonoridade deles não era para os meus ouvidos...


Também com o correr dos anos ouvi vozes distantes sobre uma "Hacienda" e uma "Madchester" e uma "Factory", mas eu na altura estava ligado a outras frequências. Estava mais para o lado "grunge" (embora não gramasse Nirvana por causa do meu irmão), mas era fã de R.E.M, Pearl Jam ou Smashing Pumpkins...


Mas à medida que cresco, descubro um filme: 24 Hour Party People. Foi rodado em 2002 e fala de um homem que afinal, tinha marcado uma era numa cidade cinzenta do Norte de Inglaterra chamada Manchester. E que teve uma "club house" chamada Hacienda. E que teve tudo e acabou falido porque não teve controlo nas coisas que fazia. Esse homem chamava-se Tony Wilson.


E porque falo dele? Porque já não existe mais. Morreu ontem aos 57 anos, vítima de um ataque cardíaco. Era empresário musical (fundou a Factory), jornalista, apresentador televisivo e «guru» de bandas como Joy Division, Happy Mondays ou New Order. Era o homem ideal para mostrar ao mundo aquelas bandas todas e mostrar uma certa cidade, num certo tempo, os anos 80. Contudo, não conseguiu manter-se no inicio dos anos 90, quando os New Order ficaram sem inspiração em Ibiza (e só voltaram em 2002 com o "Get Ready"), e quando os Happy Mondays estavam em desagragação, nos Barbados. Depois, voltou ao que sabia fazer melhor: jornalista e apresentador de rádio.


A Factory, a "experiência na natureza humana", como ele chamava, será porventura a maior editora alternativa alguma vez fundada, o que acabou por ser a sua perdição. Afinal de contas, quem mais iria colocar os catálogos nas mãos das bandas? Enquanto muito outros ganhavam dinheiro à custa das bandas, o Tony Wilson não. Porque o que importava era a música. Sempre foi e sempre será. Enquanto houver pessoas como ele.


Claro, a influência dele vai além da música. A recuperação de Manchester a partir dos anos 80 deve-se muito a ele, já que a popularidade da Haçienda no auge de Madchester transformou a cidade num importante centro estudantil e dinamizou a zona em que foi construído. Basta ver que a fábrica abandonada onde foi construída deu 15 anos mais tarde lugar a prédios de luxo.


De uma certa forma, foi-se um visionário. "Ars Lunga, Vita brevis".

1 comentário:

Unknown disse...

Confesso que esta é uma das poucas vezes em que vejo alguém dizer que gosta de New Order, mas não do Joy Division.

Também fui marcado pela sonoridade do New Order durante minha adolescência, nos anos 80, descobrindo o Joy Division um pouco depois. Adoro as duas bandas até hoje e lamento muito por não ter ido ao show do New Order nas duas vezes em que a banda esteve aqui no Brasil, em 1988 e em 2006.

Quanto ao Tony Wilson, só nos resta agora agradecer por ter sido o mentor de bandas tão marcantes quanto as que você citou neste post.