sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Porquê defendo o novo sistema de pontuação

Nesta altura em que não acontece nada de especial em termos de entradas e saídas de pilotos, foi a própria FIA que decidiu agitar as águas, ao propor um novo sistema de pontuação aos pilotos. Sete anos depois das últimas alterações, que alargaram o sistema pontual até ao oitavo classificado a hipótese de marcar pontos, na próxima temporada, caso o sistema seja aprovado pelo organismo agora liderado por Jean Todt, os dez primeiros classificados irão pontuar. Num ano onde a grelha de partida se alargará até 26 carros, é um bom incentivo ás novas equipas.


Quero esperar até amanhã, para saber o que irá ser publicado, mas fala-se que o sistema será idêntico ao Moto GP: o primeiro recebe 25 pontos, o segundo 20, o terceiro 15, por aí adiante, até ao décimo posto. Acho bom esse sistema, porque premeia mais equipas, numa altura da Formula 1 onde os regulamentos premeiam a resistência dos carros. Como sabem, os motores actualmente tem de resistir mais de quatro Grandes Prémios, e a tendência é para aumentar, e as caixas de velocidades (câmbios) também têm de resistir mais tempo. Aliás, é do conhecimento de todos que há um número limitado de motores e caixas por época. Sendo assim, as quebras mecânicas tendem a ser raras, e em 2010 arriscas-te a ter, (aliás, é essa a tendência) de veres a cortar a meta dos mesmos 26 carros que largaram o Grande Prémio. O tempo das hecatombes (exceptuando qualquer carambola na largada) típico dos anos 80, chegou ao fim.


Sei que muitos não concordam com esta nova medida. Muitos defendem o regresso ao antigo sistema dos seis primeiros, outros temem que a Formula 1 fique com um sistema de pontuação “nascarizado”, em que todos pontuam, outros ate acham que devem fazer um sistema onde se premeie um vencedor em detrimento da regularidade.


Rebato estas críticas com o seguinte: a Formula 1 é uma coisa completamente diferente da que se via nos anos 70 e 80. Já não há mais corridas onde partiam 26 e chegavam seis ou oito. Os carros são muito mais resistentes do que eram há vinte anos, as quebras mecânicas são muito menos. Aliás, quem estiver atento aos regulamentos, devia saber que as quebras mecânicas valem, a partir de determinado momento, penalizações na grelha. E isso, quer queiramos, quer não, é importante para as equipas.


Segundo rebatimento: as equipas vêm aqui para ganhar algo, sejam elas “garagistas” ou construtoras. Querem chegar ao final do ano com meia dúzia de pontos no bolso, não tem a paciência de Giancarlo Minardi, que esteve anos a fio sem conseguir pontos. E num ano de 2010, onde o sistema de reabastecimento será proibido, teremos a hipótese de ver corridas em autênticas filas indianas, caso não se elabore um sistema aerodinâmico que favoreça as ultrapassagens.


Terceiro ponto, e este um pouco mais polémico: deve-se escolher um sistema equilibrado de pontuação. É certo que muitos queriam ver valorizadas as vitórias, em vez da regularidade. Então, vou vos refrescar a memória: o sistema de pontos foi alterado em 2003, quando foi alargado até ao oitavo posto, para evitar que pilotos como Michael Schumacher, decidissem o campeonato de 2002 no GP de França, em Julho, quando ainda faltavam seis ou sete provas para o final dessa temporada. Com um sistema onde se premeia a regularidade, teremos a certeza de emoção até ao final do campeonato. Não existem e nunca existirão sistemas perfeitos. Portanto setamos sujeitos a uma escolha: queremos campeonato até final, em Abu Dhabi, ou querem tudo decidido em Silverstone, por exemplo? Não se esqueçam: ter um piloto dominante, como aconteceu a Jenson Button este ano no seu Brawn GP, é mais fácil do que julgam…


Ganhar um ponto ou alguns pontos é uma vitória para algumas equipas. Ver equipas que vieram para aqui e não ter qualquer tipo de recompensa é tão mau como o ridículo sistema de medalhas proposto no pano passado pelo Bernie Ecclestone. Alargar o critério até ao décimo posto é um gesto de generosidade para algumas equipas, principalmente as mais novas. Dão um alento quer a eles, quer aos seus pilotos. O grande defeito, na minha opinião, é que a categoria máxima do automobilismo habituou-se a um sistema de pontuação que foi válido durante tempo demais. Um sistema que foi introduzido em 1960 e não teve qualquer tipo de alteração até 1990, quando acrescentaram um ponto ao vencedor, e só viu mudanças reais em 2003. Somando isto tudo, foram 43 anos com o mesmo sistema. Tempo demais, na minha opinião. A mudança para o sistema actual, por exemplo, deveria ter acontecido em 1980. O Mundial de Ralies teve um sistema semelhante ao proposto durante a década de 80 e 90, e nunca existiram grandes queixas sobre ela. Aliás, até acho que saíram a perder com o actual sistema, que imita a Formula 1.


No final, acho que o sistema deve acompanhar os tempos. Que deve haver uma estabilidade nos regulamentos e nos sistemas de pontuação, concordo. Mas não pode haver um congelamento eterno, à semelhança que existe actualmente no futebol. Ali, os regulamentos são tão desajustados com a realidade, numa altura em que existe uma câmara para cada ângulo, que existem sistemas tecnológicos capazes de detectar qualquer erro em segundos. Contudo, o facto da FIFA e o International Board resistirem à mudança, ou seja à entrada em força da tecnologia como forma de menorizar os erros ao mínimo, como fazem noutras modalidades (e com bons resultados), leva depois a aberrações como a que aconteceu recentemente com Thierry Henry e a qualificação da França ao Mundial de 2010. E pior: não permitem uma ratificação administrativa desse erro, alegando proteger a decisão dos árbitros. Mas isso é outra conversa, para outra altura.


Uma coisa é certa: esta mudança eu aprovo. Porque sei ler as tendências do nosso tempo e vejo que, apesar da história poder se repetir, o tempo não volta para trás. Os anos 80 morreram há muito. Mas esta aprovação tem condições: tem de durar algum tempo, e não ser modificado a cada dois ou três anos. Tem de ser um sistema que dure uns dez ou quinze anos, no mínimo. E nunca deverá passar por uma “nascarização”. Aí seria tão mau como o ridículo sistema de medalhas do Tio Bernie.

4 comentários:

Ridson de Araújo disse...

ola paulo..qto tempo! Preciso seu texto, abordando melhor alguns pontos que eu não abordei mais por falta de paciencia para digitar com uma mão só (mão enfaixada)do que flta de reflexão.

premiar novas equipes é bom, e isso deve ser colocado em perspectiva..acho apenas injusto com os plotos do passado.

contribuo com o debate nesse texto, confere lá! abraços

http://historiasevelocidade.blogspot.com/2009/12/nova-pontuacao-poderiam-fazer-melhor.html

Daniel Médici disse...

Concordo também, com o novo modelo de ontuação: em parte, porque considero o atual péssimo, um arremedo que deve ser descartado.

Mas, para mim, o ideal seria retirar as medidas que restringem o uso de motores e caixas de câmbio por corridas a fio. O abandono é parte da gramática da Fórmula 1. Se ele deixar de existir, é como se Brasil e Portugal trocassem o português pelo... inglês...

João Carlos Viana disse...

Como conversamos ontem, não há sistema perfeito, mas esse parece ser melhor que o atual.

Anónimo disse...

gostei da coluna, mas que a nova pontuação foi feita às pressas e sem um estudo decente isto ninguém pode negar, note o erro grosseiro da FIA onde a diferença entre o sexto e o sétimo é de 1 ponto, e a diferença entre o sé timo e o oitavo é de 2 pontos.