sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O homem do dia - John Wyer

Provavelmente, muito poucos saberão hoje quem é este senhor. Mas todos conhecerão as suas criações. Especialmente quando juntar duas máquinas lendárias, uma combinação de cores tão lendária como o "Black and Gold" da John Player Special e um conjunto de pilotos que alimentaram essa lenda, como Jo Siffert, Jacky Ickx, Brian Redman e Pedro Rodriguez. E a cereja no topo do bolo é um filme de Hollywood, com um entusiasta das corridas, de seu nome Steve McQueen no papel principal.

Se ainda não chegaram lá, falo-vos do homem que, com a ajuda de outros dois Johns, Williment e Horseman de apelido, marcou uma era na Endurance dos anos 60 e 70. Ao volante de máquinas como o Ford GT40 e o Porsche 917, e sob o patrocínio da Gulf Racing, com a sua palete de cores azul bebé com uma faixa laranja, as cores da petrolífera americana Gulf. E hoje, se estivesse vivo, faria cem anos. O homem do dia é John Wyer.

Nascido a 11 de Dezembro de 1909 em Kiddermaster, em Inglaterra, pouco se sabe dos primeiros anos de vida, a não ser que foi piloto no final dos anos 30, até que a II Guerra Mundial terminou a sua carreira como piloto. Vai trabalhar para a Aston Martin, onde a partir de 1949, quando se torna no chefe do departamento de competição da Aston Martin. Durante a década de 50, os carros da marca inglesa andaram essencialmente nas provas de Endurance, especialmente o modelo DBR1, onde conseguiu feitos como três vitórias consecutivas nos 1000 km de Nurburgring, de 1957 a 59, em carros pilotados por lendas como Jack Brabham, Stirling Moss, Jack Fairman e Tony Brooks, e mais importante ainda, a vitória nas 24 horas de Le Mans, em 1959, num carro tripulado por Carrol Shelby e Roy Salvadori. A Aston Martin também esteve envolvido na Formula 1 em finais de 1959, mas o facto do seu modelo DBR4 ter sido pouco desenvolvido, para além de ter um motor à frente, numa época de transição para os motores traseiros, fez falhar o projecto. Aí, Wyer pouco teve a ver com isso.


Trabalhando até 1963 na construtora britânica, quando saiu, foi para a Ford, que nessa altura ainda estava no rescaldo do fracasso da oferta de compra da Ferrari. Jurando vingança contra Enzo Ferrari, o seu presidente, Henry Ford II (neto do fundador) decidiu investir pesadamente na concepção de um modelo capaz de bater os Ferraris, que dominavam a prova mais importante da Resistência. Foi assim que nasceu o modelo GT40, desenhado por Eric Broadley, fundador da Lola, e John Wyer foi contratado para ser o director de pista destes carros. Apesar de inicialmente, o carro não ter chegado ao fim na edição de 1964 da prova, aos poucos, a fiabilidade do carro foi melhorando, ao ponto de em 1965 ganhar corridas e em 1966 bater finalmente a Ferrari nas 24 horas de Le Mans, monopolizando o pódio.


No final do ano, a Ford retirou-se oficialmente da competição, mas continuou a fabricar modelos. Contudo, Wyer decidiu-se por nova aventura, aliando-se a mais duas pessoas: John Horseman e John Willemont. Os três formaram a John Willimont Automotive (JWA), cuja base era em Slough, cem quilómetros a oeste de Londres. Willemont era o proprietário, Wyer tomava conta da parte desportiva e Horseman era o engenheiro, que desenvolvia os protótipos. Contudo, como as iniciais de Wyer e Willemont eram idênticos, e como Wyer era o homem que comandava os carros nas boxes, muitos julgavam que o “JW” era ele. Em 1967, a equipa conseguira o importante apoio da petrolífera americana Gulf Oil, cujas cores faziam uma combinação inusitada: azul bebé e laranja. Os carros tinham essa pintura, com uma faixa laranja no meio. Era só o começo da lenda.


Nesse ano, a JWA decidiu modificar um Ford GT40 e rebatizou-o de Gulf-Mirage M1. Guiado por pilotos como Jacky Ickx e Dick Thompson, o carro teve vida curta, mas o suficiente para ganhar os 1000 km de Spa-Francochamps. Em 1968, A então CSI (antecessora da FIA) decidiu dividir a classe de Endurance em dois: os Protótipos teriam motores até 3000 cc, iguais aos da Formula 1, enquanto que os “Sportscars” teriam motores de 5000 cc, caso o número fosse igual ou superior a 50 unidades. Para a primeira classe, a JWA construiu um Mirage M2, com motores BRM V12, enquanto que para a segunda classe, foram buscar os GT40, já com quatro temporadas de uso, mas que dominavam as pistas.


No primeiro caso, quer o chassis, quer o motor se revelaram problemáticos, mas no segundo, o sucesso foi tal que venceram o Mundial de Sport-Protótipos daquele ano e as 24 horas de Le Mans, num Ford GT40 conduzido pelo belga Lucien Bianchi e o mexicano Pedro Rodriguez. No ano seguinte, repetiram o sucesso, desta vez com Jacky Ickx ao volante, numa das chegadas mais disputadas de sempre da competição, e que foi também a primeira das cinco vitórias para o lendário piloto belga.


Contudo, o Ford GT40 já acusava a idade, e novos modelos estavam ao virar da esquina. Um deles era o Porsche 917, estreado nesse mesmo ano, e que demonstrava potencial, apesar dos habituais problemas de juventude, nomeadamente arranjar uma solução para a instabilidade traseira que sofria o seu modelo. Wyer e a JWA adquiriram dois modelos 917, e trabalharam para melhorar o modelo. Algum tempo depois, quando testavam o modelo em Zeltweg, descobriram que encurtando a cauda, o carro ganhava maior atrito no contacto com a pista, resolvendo o problema de instabilidade do qual padecia. Assim sendo, apresentaram uma versão com uma cauda mais curta (Kurzheck), em contraste com o modelo convencional, mais longo (Langheck). O modelo ficou pronto para a temporada de 1970, com dois carros. O suíço Jo Siffert e o mexicano Pedro Rodriguez conduziam cada um o seu carro, tendo como parceiros pilotos como o finlandês Leo Kinnunen (Rodriguez) e o inglês Brian Redman (Siffert).


Nesse ano, contra modelos como o Ferrari 512 e o Alfa Romeo T33, nenhum dos dois carros da equipa chegou ao fim, mas o modelo que adoptaram foi o vencedor, graças á inscrição dos austríacos da KG Salzburg, guiados pelo alemão Hans Hermann e o britânico Richard Attwood, que bateu o 917L de Gerard Larrousse e de Willi Kahunsen, que tinha as cores da Martini. Mas se na realidade foi assim, no cinema foi diferente: nessa corrida estavam a ser feitas filmagens para um filme de Hollywood que tinha como actor principal um entusiasta das corridas chamado Steve McQueen. E não só era um dos actores mais requisitados do seu tempo, como era também um corredor nas horas vagas. Tinha sido segundo classificado nas 12 Horas de Sebring daquele ano, em parelha com o seu compatriota Peter Revson. Nessa corrida, inscreveu-se com um 917K da JWA, tendo como parceiro o escocês Jackie Stewart. Contudo, foi proibido de participar quando a produtora não quis cobrar o seguro de vida de McQueen. Sendo assim, assistiu às corridas nas boxes, e filmou o resto no 917K da Gulf. No filme, o 917K de McQueen… não ganha. Estreado em 1971, não foi um sucesso comercial na altura, mas nos dias de hoje alcançou o estatuto de filme de culto.


Mas apesar da JWA falhar Le Mans com este modelo, noutras competições, era a máquina dominadora noutras competições, às mãos de Siffert, Rodriguez, Redman e Kinnunen, entre outros. Venceu por duas vezes provas como os 1000 km de Spa-Francochamps, as 24 Horas de Daytona, os 1000 km de Monza, os 1000 km de Zeltweg. Outras provas, como os 1000 km de Brands Hatch, os 1000 km de Buenos Aires, as 6 Horas de Watkins Glen, entre outros, também foram ganhas por carros da JWA.


No final de 1971, o regulamento dos 5 Litros iria ser abolido, tornando obsoletos os modelos 917. Sendo assim, Wyer e Willimont adoptaram o regulamento dos 3 litros, e voltaram a fabricar os seus modelos Gulf-Mirage. Inicialmente, adoptaram o habitual motor Cosworth de 3 litros, que fazia imenso sucesso na Formula 1, mas cedo descobriram que este motor não era adequado para as provas de Endurance. O motor fora aperfeiçoado para durar mais, enquanto que se construía um modelo novo. O Gulf-Mirage M6 teve sucesso limitado, mas em 1974 foi introduzido o modelo GR8. com maior sucesso, correu a partir desse ano, tendo como pilotos o belga Jacky Ickx, o britânico Derek Bell, o francês Jean-Pierre Jassoud, e o australiano Vern Schuppan, entre outros.


Em 1975, a JWA inscreveu dois carros para a edição desse ano das 24 horas de Le Mans, que tinha sido excluída do Campeonato do Mundo de Sport-Protótipos devido ao facto da Automobile Club de L’Ouest (ACO), que organizava a prova, ter colocado num numero máximo de voltas para reabastecimento, no rescaldo da primeira crise petrolífera. Ickx e Bell conduziam um carro, enquanto que outro era guiado pela dupla Schuppan e Jassoud. Para Ickx, esta tinha sido a sua segunda vitória na mítica pista francesa. Para Wyer, esta vitória foi o culminar de uma longa carreira na Endurance, pois nessa altura já tinha 66 anos de idade.


Quanto a temporada de 1975 terminou, decidiu vender a equipa para a Grand Touring Cars, que pertencia ao americano Harley Cluxton, que anos dpeois se tormou num coleccionador de automóveis de competição. Quanto a Wyer, retirou-se para Scottsdale, no Arizona, onde acabou por morrer em 1989.


Fontes:

http://en.wikipedia.org/wiki/John_Wyer

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