sexta-feira, 18 de março de 2011

Algumas impressoões sobre José Carlos Pace

Não faço ideia como é que "Môco" é recordado no Brasil. Quero acreditar que alguém se lembrará nele neste dia. Não sei se as gerações mais novas saibam que o Autódromo de Interlagos tem o seu nome, ou se sabem, qual é a razão porque se chama assim e não outro. Na minha opinião, era um excelente piloto que aproveitou a oportunidade que teve da melhor maneira possivel. Acho que só uma vitória na carreira, no Autódromo de Interlagos, sob aquele calor de Janeiro de 1975, é demasiado pouco para aquilo que merece. Mas é isso que os livros de história o irão registar.

Naqueles tempos em que correr era perigoso e o sexo era seguro, José Carlos Pace era um piloto extremamente rápido. Tinha crescido a aprender com os melhores como o Bird Clemente, o Luiz Pereira Bueno e o Wilson Fittipaldi, e quando viu o sucesso que o irmão mais novo de Wilson tinha na Europa, foi atrás dele, primeiro na Formula

Quanto tem a oportunidade de chegar à Formula 1, consegue um lugar na equipa de Frank Williams. Nesse ano de 1972, este tem um March 711 e Pace faz o seu melhor nesse carro, conseguindo três pontos e algumas boas exibições, o suficiente para que John Surtees o convidasse para a sua equipa na temporada seguinte. Em 1973, o chassis TS14 é competitivo o suficiente para que na segunda metade da temporada marque duas voltas mais rápidas - uma delas no temivel Nurburgring - sete pontos e o seu primeiro pódio na Austria.

Mas cedo viu que a Surtees era uma "zona". Demasiados carros, demasiada desorganização, demasiado John Surtees na equipa, e no meio da temporada saiu da equipa. Bernie Ecclestone, patrão da Brabham, queria um bom piloto na Brabham para secundar Carlos Reutemann, e depois de dois maus pilotos, ficou com Pace. A escolha deu resultado no final desse ano, quando subiu ao pódio e fez mais duas voltas mais rápidas nessa temporada.

E no ano seguinte veio, por fim, o seu momento de glória. E logo em Interlagos, perante o seu publico, na sua cidade e batendo o seu compatriota, amigo e rival de sempre, Emerson Fittipaldi. Mas na corrida a seguir, passou da glória à anedota. Ainda por cima, quando tinha tudo para conseguir outra jornada gloriosa. Em Kyalami, tinha feito a pole-position com o seu Brabham e tudo indicava que era o claro favorito à vitória. Mas quando os seus mecânicos preparavam o seu carro, um deles deixou cair a chave dentro do carro, que -azar dos azares - ficou atrás do pedal do acelerador. O molho de chaves só foi descoberto no final da corrida, quando Pace acabou no quarto lugar e com a volta mais rápida. Podem imaginar a frustração daquele dia, não podem?

Depois dos fogachos de glória, mais luta. Ecclestone pensava que tinha feito o acordo do século ao arranjar motores flat-12 da Alfa romeo, mas tudo o que arranjou foram dores de cabeça para toda a gente. Para Gordon Murray, o projetista, e para Carlos Reutemann, que disse estar farto daquele motor, do carro e da equipa. Pace ficou e não fez mais do que tentar tirar o melhor partido do carro, mesmo que isso o fizesse ficar um pouco mais atrás no pelotão. Mas no inicio de 1977, as coisas já estavam a melhorar, pois nas três corridas em que participou, estava sempre nos lugares à frente. Ditas as coisas, tinham conseguido tirar "leite de pedra". Mas o Destino não quis mais, e claro, foi pena.

Pelo que se conta, um dos defeitos de Pace era a sua falta de forma. Era forte, mas não tão atlético assim. Aliás, alguns cuplam isso pelo fato de ter sido derrotado por Jody Scheckter no GP da Argentina de 1977, a primeira prova do ano. Mas ninguém podia dizer que não era corajoso. Azarado talvez, por causa de situações anedóticas como o de Kyalami.

Agora... pergunto-me, 34 anos depois do seu desaparecimento, que legado deixou na história do automobilismo brasileiro e mundial? Quero acreditar que tem o lugar que merece, sendo respeitado internacionalmente pelos seus pares pelos seus feitos na Formula 1 e no Brasil por aquilo que fez nos Turismos. Anos depois, Bernie Ecclestone disse que se não fosse por aquilo que aconteceu a Pace, não teria contratado Niki Lauda no ano seguinte. Talvez deva ser um dos melhores elogios que tenha encontrado por ai.

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