A Coreia do Norte é o país mais fechado do mundo. Se não o é, é dos mais fechados, mas não acredito que haja um país ainda mais fechado do que esse. E como sabem por estes dias, Kim Jong-il foi-se no passado dia 17, vítima de ataque cardíaco e o seu funeral foi ontem, debaixo de neve, na capital, Pyongyang.
O mais interessante neste país que cultivou os valores estalinistas até à exaustão - o culto da personalidade e os "gulags", para não falar das grandes fomes que assolaram o país nos últimos quinze anos - e de orgulhosamente falar do "juche", ou seja, a autodeterminação em tudo, incluindo em termos de produção - ver carros ocidentais no cortejo fúnebre é no mínimo, surreal. Ou então, podemos dizer que a elite norte-coreana tem bom gosto...
Explico: o carro que levou o caixão do Querido Líder é um bem americano Cadillac de 1976, com o caixão no tejadilho, para que a população, que apanhava um frio glacial, pudesse chorar à vontade à passagem do féretro do "Querido Líder". Depois, veijo o cortejo de Mercedes Classe S e uns modestos Volkswagen Passat, estes certamente fabricados na China. E dos veículos militares, para além dos tanques russos, tinham Mercedes Classe G a fazer guarda de honra.
Assim sendo, com tantas manifestações da cultura ocidental, fica-se a perguntar: então e os ZIL russos? Onde andam os Ladas, os Volgas, os GAZ construidos na gloriosa era soviética? Nas sucateiras de Pyongyang? Ou será que ali já se nota a influência do pragmatismo chinês, mesmo no regime mais fechado do mundo, onde só se passa, quase até ao enjoo, as marchas militares e as enormes bandas? De uma certa forma, é um mistério... mas que é uma ditadura como qualquer outra, é. E todos os ditadores tem gostos excêntricos. Basta pensarmos no Muhammar Khadaffi, no Mobutu Sesse Seko, no Saddam Hussein...
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