Sempre achei os comissários de pista uma classe à parte, porque são o último resquício de apaixonados pelo automobilismo, seja ele a Formula 1, ou outra competição automóvel qualquer. A diferença entre um fã normal, como eu e você, e eles é que sabem o que fazer em caso de colisão ou qualquer objeto que esteja na pista, porque foram treinados para isso. O Paulo Abreu ou o Marcel Araujo dos Santos, vulgo o "Tintin", sabem explicar melhor do que eu, porque foram - e são - comissários de pista, que adora o que fazem e sacrificam tempo às suas famílias para poderem estar nos circuitos, quase na primeira fila, e a ajudar quem mais precisa.
O automobilismo é perigoso e o "risco zero" é um mito do qual as pessoas devem estar conscientes. Nada está a salvo de uma fatalidade, por muita segurança que exista. É certo que se aperfeiçoa, mas nada se pode fazer quando um comissário deixa cair um rádio comunicador, escorrega na pior altura possível, centímetros de um trator que rebocava um carro de Formula 1, acabando por o matar. É a primeira vez em doze anos que houve um acidente fatal num fim de semana de Grande Prémio, e tal como tinha acontecido em 2000, em Monza, e em 2001, em Melbourne, a vitima foi um comissário de pista, a tal pessoa que está na primeira fila a assistir a tudo.
Um testemunho impressionante do que aconteceu foi o recolhido pelo Luiz Fernando Ramos, vulgo o Ico, que falou com Diego Mastroianni, voluntário nesse GP do Canadá, e falou no seu blog o que aconteceu.
“Eu sabia o portão que abririam no final da prova para entrarmos na pista e ver a cerimonia do pódio e me posicionei ali nas voltas finais. Os fiscais com a grua recuperaram o carro da Sauber depois do acidente e ficaram no canto esperando a corrida acabar. Depois eles começaram a ir devagar em direção aos boxes. Tinha a grua e alguns fiscais, uns atrás, uns do lado e um na frente que ficava equilibrando um pouco o carro porque ele fica pendurado por um ponto só e balança muito.", começa por descrever.
"Tudo aconteceu muito rápido. Eu era o primeiro na correria das pessoas entrando na pista. Quando eu vi, ele tropeçou, caiu e acho que a pessoa que estava dirigindo a grua não teve tempo de reagir. Depois, rapidamente eles pararam a grua e os outros foram ver o que aconteceu. Eu tive a reação de parar e ver se eu poderia ajudar, mas logo já se criou um entorno com seguranças e eu não tinha o que contribuir. Foi uma fatalidade que aconteceu em questão de segundos. Fiquei por quase uma hora sem sair do lugar ali de tão chocado que eu fiquei com a cena. É muito triste mas, enfim, foi realmente um infortúnio muito grande”.
Ao contrário do que alguns possam pensar, esta gente não é amadora. São pessoas continuamente treinadas para estas situações, que sendo apaixonadas, tentam fazer o seu melhor num fim de semana que é extremamente exigente, e em muitos aspectos, a troco de nada ou quase nada. Só mesmo para ver os carros de perto. São heróis anónimos que merecem todo o nosso respeito e admiração. O que aconteceu ontem pode perfeitamente acontecer uma empresa qualquer, numa situação qualquer, em qualquer parte do mundo, todos os dias. É muito raro e é um tremendo azar. Isto vai demonstrar que por muito bons ou perfeitos que sejamos, o mundo que nós conhecemos é naturalmente imperfeito. Caso contrário, o Universo tal como o conhecemos, nem sequer existia.
No final, curvo-me em tributo ao comissário, que tal os dois últimos há mais de doze anos, pagaram o preço mais alto de todos por querer estar onde mais queria estar, quando poderiam estar noutros lados, totalmente a salvo e junto dos que mais amam.
3 comentários:
Escrevo aqui, o que já tinha feito no 'post' do Facebook no Motorart...
Uma das minhas licenças de Comissário diz que o "desporto motorizado é perigoso" e ao ver esta foto, nunca como agora esta frase me bateu tanto no íntimo. Este caso é daqueles de 'um num milhão' porque se passa em fim-de-festa sem competição em pista mas demonstra que o acaso e o infortúnio acontecem quando menos esperamos.
Todos nós que lá andamos 'dentro' já apanhamos alguns sustos de nos deixar inquietos... de nos fazer recordar e de aprendermos rapidamente que somos sempre um potencial 'alvo'... mas a paixão, a adrenalina, a vibração do corpo ao passar de mais uma máquina, os sons e os cheiros...
... fazem-nos sempre regressar corrida após corrida. Mo entanto aqui se prova, infelizmente, pelas fatalidades dos últimos anos que a actividade de Comissário de Pista é bem mais perigosa que a de Piloto de F1.
Ao meu 'colega' comissário canadiano, só me resta desejar que descanse em paz...
Triste. Mas fatalidades acontecem em qualquer ramo de trabalho.
Espero que a organização ampare a família como se deve.
Foi meio absurdo o que aconteceu. Mas quando é a hora, por mais estranho que tenha sido, não pode voltar atrás.
Que a familia dele tenha forças para superar o drama.
Enviar um comentário