De férias e com uma Net que decide estar no mesmo estado de espírito do que eu, soube agora da morte de Froilan Gonzalez, o "Touro das Pampas". Conhecido também por "El Cabezón", especialmente para os seus amigos, aos 90 anos, e depois de uma vida bem vivida, o piloto argentino, que guiou pela Ferrari, e deu a sua primeira vitória na história da marca na Formula 1, decide que esta era a sua hora de sair de cena. O seu desaparecimento acontece precisamente vinte anos depois de outro campeão mundial, James Hunt, decidiu sair da vida e entrar para a História.
Entre 1950 e 1957 (com mais uma corrida em 1960), o piloto argentino participou em 26 corridas. Nâo esteve na corrida inaugural do Mundial de Formula 1, na Grã-Bretanha, porque a Ferrari decidiu não ir a Silverstone, preferindo estrear-se na corrida seguinte, no Mónaco. Mas ele ficou na história pelos feitos que deu à Ferrari. Se Alberto Ascari poderia ser o grande piloto do Commendatore no seu tempo, Froilan Gonzalez era o piloto certo no lugar certo. Foi o piloto certo no momento em que a Ferrari conseguiu bater os invencíveis Alfa Romeos, de Nino Farina e Juan Manuel Fangio. E o palco dessa mítica vitória foi Silverstone, na Grã-Bretanha. Ferrari disse depois de "parecia que tinha matado a minha própria mãe" - Enzo Ferrari tinha saído da Alfa Romeo a mal, em 1939 - e os ingleses tinham descoberto um novo ídolo do automobilismo. Tanto que, em 1972, quando a Formula 1 chegou à Argentina, Jackie Stewart procurou Gonzalez para lhe pedir um autógrafo.
Mas essa não tinha sido a primeira vez que ele tinha dado nas vistas. Algum tempo antes, em paragens argentinas, tinha lidado a armada Mercedes, que tinha voltado à competição depois de a FIA ter levantado a suspensão da Alemanha das competições automobilisticas. Decorria o mês de fevereiro e os argentinos decidiram elaborar a Copa Perón, onde os velhos "Flechas de Prata", construidos em 1939, eram, onze anos depois, carros temiveis. E tinham a seu lado o seu grande piloto, Juan Manuel Fangio. Gonzalez, com o seu Ferrari, contrariou o favoritismo e conseguiu bater toda a gente, nas duas corridas que constituiram essa prova. Para saber de mais, recomendo o post escrito pelo Paulo Abreu, do Volta Rápida.
Gonzalez não foi só piloto da Ferrari. Guiou pela Maserati em 1952 e 53, antes de fazer outra memorável prova em 1954, no mesmo país e no mesmo local, contra outro adversario: a Mercedes, guiado pelo seu compatriota e amigo Juan Manuel Fangio. Estreado na corrida anterior, o seu dominio parecia que iria levar a Formula 1 a nova era. Mas dominio nem sempre significava invencibilidade, e com um carro "streamliner" que poderia ter dominado nas retas de Reims, nas curvas de Silverstone era prejudicial, no sentido que Gonzalez fora melhor do que Fangio, batendo-o e conseguindo a sua segunda - e última vitória na sua carreira. E todos eles no mesmo local.
Aquela vitória não tinha sido a unica: algumas semanas antes, em Le Mans, ele e o francês Maurice Trintignant tinham sido os vencedores das 24 horas, numa concorrência com marcas como Jaguar ou Mercedes, por exemplo. Até hoje, era o mais antigo vencedor vivo.
Há quase dois anos, o jornal "i" conseguiu fazer uma entrevista a "El Cabezon", onde o jornalista Rui Miguel Tovar perguntou a ele como era correr naquelas eras quase esquecidas qual foi o seu sentimento após ter conseguido tão importante vitória para a Scuderia. Era os 60 anos da primeira vitória da Ferrari na Formula 1 e Fernando Alonso tinha acabado de vencer o GP da Grã-Bretanha, em Silverstone.
Na parte final, Gonzalez contou o que aconteceu nos momentos após a corrida, e comparando com 2011: "A diferença é que o Alonso voltou de avião, com certeza, e eu de carro, um Alfa 1900, guiado pelo Juan [Fangio]. Além de nós, a minha mulher. Fomos até Milão. Lá, onde vivíamos, agarrei no Fiat Millecento e desci até Modena para saudar o viejo Ferrari. Ele estava animado, diz que chorou de alegria, e enviou um telegrama de ''condolências'' a Orazio Satta-Puglia, director desportivo da Alfa Romeo."
- E o Froilán, como se sentia?
-"Mais contente que o Diabo."
Ars lunga, vita brevis, Froilan Gonzalez.
Na parte final, Gonzalez contou o que aconteceu nos momentos após a corrida, e comparando com 2011: "A diferença é que o Alonso voltou de avião, com certeza, e eu de carro, um Alfa 1900, guiado pelo Juan [Fangio]. Além de nós, a minha mulher. Fomos até Milão. Lá, onde vivíamos, agarrei no Fiat Millecento e desci até Modena para saudar o viejo Ferrari. Ele estava animado, diz que chorou de alegria, e enviou um telegrama de ''condolências'' a Orazio Satta-Puglia, director desportivo da Alfa Romeo."
- E o Froilán, como se sentia?
-"Mais contente que o Diabo."
Ars lunga, vita brevis, Froilan Gonzalez.
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