(continuação do episódio anterior)
Os concorrentes ficaram distribuídos por três categorias: carros com mais de 650 quilos, carros entre 250 e 650 quilos e motocicletas. Houve 14 inscrições: Benedito Ferreirinha (Bólide), H. S. Abbot (Locomobile), S. Camargo (Locomobile), Eugénio de Aguiar (moto Werner), A. Martins (Clement), Giuseppe Bordino (Fiat), António Paula de Oliveira (moto Buchet), Francisco Martinho (Richard), Baptista (moto Heresta), Afonso de Barros (Darracq), Trigueiros de Martel (moto Werner), Dr. Tavares de Melo (Darracq), José Bento Pessoa (moto Werner), e o francês Edmond (Darracq). Os carros pertenciam ao Infante D. Afonso, a César Marques, ao Dr. Egas Moniz, a Eugénio de Aguiar e a Trigueiros de Martel.
A organização marcou a prova para o dia 26 de outubro, um domingo, mas cedo eles foram alertados sobre a possibilidade das várias cidades organizarem as suas feiras nesse dia, logo, com imensa gente ao longo do percurso, e isso faz com que adiassem para o dia seguinte. Houve quem quisesse que a chegada acontecesse em Cascais, mas porque na altura a estrada estava pejada de passagens de nível, isso foi logo colocado de parte.
A partida começou com dez dos catorze inscritos presentes, com o sr. Edmond a chegar atrasado para a corrida. O Dr. Tavares de Melo, proprietário do Darracq, pretendia correr com ele até Coimbra, onde entregaria o carro ao piloto francês, mas os organizadores decidiram que isso não seria autorizado. Assim, o proprietário escolheu participar "por fora", com o seu tempo a não contar para a classificação geral.
A passagem dos carros foi recebida por grande entusiasmo pelas cidades e aldeias do qual passaram os carros, sem incidentes durante o percurso, aparte de "apenas alguns cães mortos e um ou dois abalroamentos sem importância", como seria escrito depois no relatório oficial. Como seria de esperar, o primeiro carro a chegar à meta, no Campo Grande, foi o do dr. Tavares de Melo, já com Edmond a bordo, com o tempo de doze horas, 24 minutos e cinco segundos. Uma hora depois entrava o italiano Giusseppe Bordino, conduzindo o Fiat do infante D. Afonso, sendo assim o vencedor oficial da corrida. Afonso de Barros foi o segundo, no seu Darracq, na frente de antónio Paula de Oliveira, na sua moto Buchet. Estes três foram os únicos a chegar à meta no tempo establecido, que eram de dez horas.
(continua no próximo capítulo)
AS PRIMEIRAS CORRIDAS EM SOLO PORTUGUÊS
Enquanto corridas deste tipo aconteciam um pouco por toda a
Europa no inicio deste século, Portugal não escapava à febre automobilistica de
então. Já havia entusiastas pelo automobilismo, uma delas bem ilustre: D.
Afonso de Bragança, o popular "Arreda", que gritava enquanto
circulava com o seu Fiat nas ruas de Lisboa. Com o proliferar dos automóveis um
pouco por todo o país, principalmente nas grandes cidades, um grupo de
jornalistas entusiastas teve a ideia, em meados de 1902 de promover corridas
nos moldes do que acontecia em França, com um objetivo: fundar uma associação
automobilística nacional semelhante ao ACF.
A primeira corrida, ao contrário do que aconteceu em muitos
lados, foi de circuito: A 17 de agosto de 1902, no Hipódromo de Belém e na
sequência de um aliciante programa desportivo - que incluiu um jogo de futebol
entre uma equipa de portugueses e outra de ingleses, várias corridas de
bicicletas e uma de motos - acontecia a primeira competição oficial reservada a
automóveis. Três concorrentes estavam presentes: Albert Beauvalet participava
num Panhard, o americano H. S. Abbott, num Locomobile e Alfredo Vieira em
Darracq. A corrida consistia em dez voltas ao traçado, num total de 12.200
metros.
No final dessa curta corrida, a vitória caberia ao
americano Abbott, ao volante do seu Locomobile a vapor. Este condutor
profissional encontrava-se então na Europa, ao serviço da marca americana, que
era na altura a líder de vendas nos Estados Unidos, como consequência da sua
estratégia de implantação no lado de cá do Atlântico, que passava por inscrever
viaturas suas nas competições que se disputavam nos diferentes países do Velho
Continente.
Depois deste evento, Zeferino Cândido, diretor do jornal
"A Época", decidiu reunir um conjunto de jornalistas entusiastas na
sala de redação do seu jornal, a 6 de setembro de 1902, para discutir a prova e
os seus moldes. À reunião compareceram nomes como Anselmo de Sousa, Álvaro
de Lacerda, Carlos Calixto, Júlio de Oliveira, Eduardo Noronha e Henrique
Anachoreta. Ali, decidiu.se que a prova aconteceria entre as cidades de
Figueira da Foz e Lisboa, numa distância de 150 quilómetros. Os concorrentes
teriam de pagar uma taxa de dez mil reis (para os carros) e de cinco mil réis
para as motos, e não podiam passar pelas cidades a mais de dez quilómetros por
hora.
Os concorrentes ficaram distribuídos por três categorias: carros com mais de 650 quilos, carros entre 250 e 650 quilos e motocicletas. Houve 14 inscrições: Benedito Ferreirinha (Bólide), H. S. Abbot (Locomobile), S. Camargo (Locomobile), Eugénio de Aguiar (moto Werner), A. Martins (Clement), Giuseppe Bordino (Fiat), António Paula de Oliveira (moto Buchet), Francisco Martinho (Richard), Baptista (moto Heresta), Afonso de Barros (Darracq), Trigueiros de Martel (moto Werner), Dr. Tavares de Melo (Darracq), José Bento Pessoa (moto Werner), e o francês Edmond (Darracq). Os carros pertenciam ao Infante D. Afonso, a César Marques, ao Dr. Egas Moniz, a Eugénio de Aguiar e a Trigueiros de Martel.
A organização marcou a prova para o dia 26 de outubro, um domingo, mas cedo eles foram alertados sobre a possibilidade das várias cidades organizarem as suas feiras nesse dia, logo, com imensa gente ao longo do percurso, e isso faz com que adiassem para o dia seguinte. Houve quem quisesse que a chegada acontecesse em Cascais, mas porque na altura a estrada estava pejada de passagens de nível, isso foi logo colocado de parte.
A partida começou com dez dos catorze inscritos presentes, com o sr. Edmond a chegar atrasado para a corrida. O Dr. Tavares de Melo, proprietário do Darracq, pretendia correr com ele até Coimbra, onde entregaria o carro ao piloto francês, mas os organizadores decidiram que isso não seria autorizado. Assim, o proprietário escolheu participar "por fora", com o seu tempo a não contar para a classificação geral.
A passagem dos carros foi recebida por grande entusiasmo pelas cidades e aldeias do qual passaram os carros, sem incidentes durante o percurso, aparte de "apenas alguns cães mortos e um ou dois abalroamentos sem importância", como seria escrito depois no relatório oficial. Como seria de esperar, o primeiro carro a chegar à meta, no Campo Grande, foi o do dr. Tavares de Melo, já com Edmond a bordo, com o tempo de doze horas, 24 minutos e cinco segundos. Uma hora depois entrava o italiano Giusseppe Bordino, conduzindo o Fiat do infante D. Afonso, sendo assim o vencedor oficial da corrida. Afonso de Barros foi o segundo, no seu Darracq, na frente de antónio Paula de Oliveira, na sua moto Buchet. Estes três foram os únicos a chegar à meta no tempo establecido, que eram de dez horas.
Contudo, apesar de tão poucos a chegarem, a iniciativa foi um sucesso. No
inicio de 1903, esse grupo foi contactado pelo conselheiro Carlos Roma du
Bocage, que estava na frente de outro grupo de entusiastas, no sentido de
fundar uma clube automobilistico. Entabulam negociações e a 15 de abril de
1903, na sede da Real Sociedade Portuguesa de Geografia, é aprovado o projeto
de Estatutos e fundado o Real Automóvel Clube de Portugal (depois Automóvel
Clube de Portugal), cujo simbolo é desenhado pelo próprio Rei D. Carlos e cuja
direção seria ocupada por Carlos Roma du Bocage, com o Infante D. Afonso como o
presidente da Assembléia Geral e Carlos Calixito seria o primeiro
secretário-geral.
(continua no próximo capítulo)
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