segunda-feira, 5 de maio de 2014

The End: Al Pease (1921-2014)

Aquele que muitos consideram como piloto mais lento da história, o canadiano Al Pease, morreu ontem na sua casa na localidade de Sevierville, no Tennessee americano. Tinha 92 anos de idade. Pease, britânico de nascimento e induzido no Canadian Motorsports Hall of Fame, participou nos três primeiros Grandes Prémios do Canadá a bordo de um Eagle de Formula 1, tendo em 1969 a "infâmia" de ser desclassificado... por ser um piloto demasiado lento! Mas as suas más participações na Formula 1 não podem apagar a sua longa e distinta carreira no automobilismo canadiano e americano, onde correu por mais de 30 anos, tripulando nas várias competições existentes em pista.

Nascido a 15 de novembro de 1921 na localidade britânica de Darlington, Al nasceu Victor Pease e foi para o Canadá após a II Guerra Mundial. No inicio dos anos 50, a bordo de um Riley, começou a participar em várias corridas locais. E em 1960, começou a guiar em MG's e Minis, vencendo diversas competições quer na zona de Toronto, como no Canadá inteiro, vencendo títulos quer a nivel regional, quer a nível nacional. Em 1964, graças a isso, foi votado o "Piloto do Ano" pelos seus pares, a Associação Canadiana de Pilotos. Em 1965, pegou num MG e foi correr nas 12 Horas de Sebring, onde terminou num modesto 32º posto da geral.

Em paralelo com as suas corridas nos Turismos, também correu em monolugares, especialmente num Lotus 23, onde foi oitavo no GP do Canadá de 1963, então uma corrida extra-campeonato. Em 1967, tinha assinado um acordo com a Castrol canadiana, onde participava em corridas com um modelo 47 da Lotus. Uma delas, a USAC Telegram Trophy, ele acabou por vencer. Mas foi também nesse ano que as coisas ficaram interessantes para Peasem quando soube que o Canadá iria ter o seu Grande Prémio de Formula 1, no circuito de Mosport, nos arredores de Toronto.

Inscrito, conseguiu adquirir um chassis Eagle, e arranjaram um motor Climax de quatro cilindros em linha, e inscreveram-no na corrida, apesar de ele ter na altura... 45 anos. Pouco menos do que a idade de Juan Manuel Fangio quando se retirou da competição. Na corrida, com um carro pouco competitivo, Pease conseguiu ser o 16º classificado numa grelha de 19 carros, 7,7 segundos mais lento do que Jim Clark, o "poleman" daquela corrida.

A corrida foi para lá de bizarra: graças à combinação de lentidão, bateria desligada, piões e as más condições atmosféricas, Pease terminou a corrida... a 43 voltas do vencedor, Jack Brabham. Pease teve a sua bateria alagada devido às péssimas condições atmosféricas, e perdeu seis voltas de inicio devido aos seus problemas com a bateria. Contudo em vez de desistir, decidiu continuar a correr, e a meio da corrida, decidiu instalar uma nova bateria, para ver se continuava a correr. Ele fez, mas depois disso e dos piões, da sua lentidão em pista, o resultado final foi este. Um prémio para a sua persistência, era certo.

Em 1968, estava de volta com o mesmo patrocinador e o mesmo carro. A corrida canadiana era noutra pista, a de Mont-Tremblant, no Quebec canadiano, e Pease qualificara-se no último lugar, a 15,8 segundos (!) do poleman, o austríaco Jochen Rindt. Contudo, quando desmontavam o motor para ver se havia algum problema com ele, pois ele se queixava da "falta de potência" (!), verificaram que havia... uma chave de fendas dentro do motor. Este foi totalmente desmontado, mas não ficou pronto a tempo da corrida, e ele foi obrigado a vê-lo da bancada.

Em 1969, Pease estava a correr na Formula 5000 e na Formula A canadiana, com um Lola T140. Com alguns resultados interessantes, como um terceiro lugar em Mosport - apesar de ter 47 anos(!), voltou para nova tentativa, com o mesmo motor e o mesmo chassis, depois de este ter estado... numa exposição em Montreal. Com o numero 69 no seu dorsal, a história de Pease na Formula 1 vai ficar ainda mais estranha. Lento e com um carro cada vez mais desfazado, conseguiu um tempo onze segundos mais lento do que o "poleman", o belga Jacky Ickx. Mas não foi o mais lento, sendo 17º em 20 carros. O suiço Silvio Moser, por exemplo, foi o último da grelha no seu Brabham com um tempo de... 1 minuto e 41 segundos, mais de meio segundo mais lento do que Ickx.

E foi na corrida que houve os problemas. Apesar de ser uma "chicane móvel", a sua pouca velocidade nas curvas - e nas retas - fazia com que fosse um perigo para os outros concorrentes. O primeiro incidente foi quando conseguiu atirar o suiço Moser para as barreiras de proteção, e quando era passado, em vez de deixar o piloto em paz, entrava em lutas desnecessárias com esses pilotos. Um deles foi com o Matra-Cosworth de Jean-Pierre Beltoise, e ele acabou com a suspensão danificada resultado de uma luta desnecessária. E quando Pease quase ia fazendo a mesma coisa com outro piloto da Matra-Cosworth, Jackie Stewart, Ken Tyrrell, o patrão, viu o suficiente e protestou com a organização. Imediatamente, eles mostraram uma bandeira preta a Pease, por ser lento e ser um perigo aos outros.

Apesar de aqui ter acabado a sua carreira na Formula 1 - já tinha quase 50 anos - ele continuou a correr em 1970, num Brabham BT23 na Formula 5000. Pouco tempo depois, acabou por terminar a sua carreira, mas voltou a competir entre 1983 e 1988 em carros clássicos no Canadá. Por esta altura, já estava retirado em Servierville, no Tennessee, onde de dedicava ao restauro de carros antigos, mas com o reconhecimento dos seus confrades. 

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