Acho um feito saber que num único fim de semana - dois dias, portanto - a Caterham conseguiu alcançar cerca de metade do objetivo proposto. É o sinal de que a vaquinha - dito de modo mais moderno, "crowdfunding" - de uma equipa de Formula 1 é o magneto perfeito para fazer algo que bem vistas as coisas, não é mais do que um milagre. Com o rabo de fora.
Imaginem a seguinte situação: queremos estar numa corrida, mas precisamos de determinado valor. E temos uma semana para consegui-lo. O que fazemos? Apelamos ao público para que nos ajude, dando o que puderem. E divulguem nos meios possiveis e imaginários. As redes sociais são o sitio ideal, e foi o que aconteceu. com o "hashtag" #RefuelCaterhamF1, desde a sexta-feira à tarde, a equipa juntou mais de um milhão de libras, cerca de metade do valor proposto de 2,3 milhões de libras, para poderem ir à última corrida do ano, em Abu Dhabi.
Colocados no endereço Crowdcube (https://www.crowdcube.com/caterham/), o dinheiro conseguido foi um grande feito, demonstrando que as pessoas estão interessadas na Formula 1. Mas essa movimentação poderá ter sido uma tentativa desesperada, cujo desfecho poderá não ser o pretendido. Há aquela ideia de que este dinheiro poderá não ser mais do que uma maneira de receber dinheiro para pagar as dívidas e fechar as portas de vez, e claro, no fim de semana do Brasil, a ideia foi acolhida com hostilidade por parte de Christian Horner, o patrão da Red Bull, só demonstrando o desejo que "quanto menos concorrentes, melhor".
E ao longo do fim de semana, achei injusto de como é que um projeto como estes arranjaria mais dinheiro do que outros projetos automobilísticos como a da Brabham. Como é que este último, que lutava para conseguir as quatro mil libras necessárias para alcançar as 250 mil que precisavam, e o projeto da Caterham conseguia esse numero numa questão de minutos? Felizmente, a Brabham conseguiu isso no domingo à noite, mas aquele milhão de libras teria dado muito jeito para que David Brabham montasse mais rapidamente o regresso do nome da família ao automobilismo. E provavelmente teria muito mais futuro do que este da Caterham.
Mas pode haver outro tipo de explicação. E dou como exemplo um post sobre este assunto neste blog:
"'Crowdfunding' é normalmente usado para arrecadar dinheiro para uma causa particular. Se é para uma instituição de caridade, ou a obtenção de um novo projeto do zero, você normalmente sabe onde é que o seu dinheiro está indo. Vou manter este parágrafo relativamente curto.
Vejamos o Projeto Brabham. Eles querem:
'A Brabham Racing irá inicialmente competir no FIA World Endurance Championship de 2015, que inclui as prestigiadas 24 Horas de Le Mans. O maior sonho é trazer esse mesmo modelo para a Fórmula 1 e, potencialmente, outras séries como a FIA Formula E Championship.'
Até agora, 2.628 apoiantes levantaram 247,930 libras. Isso é uma média de suporte de 94,34 libras. Eu posso ver no site Indiegogo quem apoiou o Projeto Brabham. As doações variam de um a dez mil libras, como seria de esperar. O Projeto Brabham é uma jornada, e por fazer parte do Projeto Brabham, você começa a fazer parte dessa jornada. Este é um esforço de equipa. Projeto Brabham tem um objetivo final. Tem um alvo. Pode acontecer, pode não acontecer. Eles tem ambição.
Por outro lado, a Caterham. Ela quer:
'A Caterham F1 Team está lançando o desafio # RefuelCaterhamF1 para alimentar a equipa para ir correr em Abu Dhabi e esperamos que mais além disso. A equipa está dando tanto os fãs e patrocinadores uma oportunidade única de ser a força motriz por trás da equipa via crowdfunding seu retorno à grade em troca de uma recompensa unica na vida.
Até agora, 1.845 apoiadores levantaram 1.057.102 libras. Isso é uma média de 572,96 libras por apoiador. Imediatamente, soaram os sinos de alarme. Ou os fãs de Fórmula 1 são extremamente ricos, ou algo de desonesto está acontecendo. Eu também questionaria exatamente o que aconteceria depois de Abu Dhabi. Onde é que esses 2.300.000 de libras irão dar? O que é frustrante é que, no site da CrowdCube, eu não posso ver que tem apoiado o esforço para financiar a Caterham.
E tem mais: segundo dizem nesse mesmo blog, os atuais administradores da Caterham são conselheiros financeiros... da Crowdcube. Isto pode não querer dizer nada, mas esses números poderão ter um pouco de "gato escondido com o rabo de fora...". E para vos ser honesto, até esta sexta-feira, nunca tinha ouvido falar da Crowdcube...
Mas no final, é o nome que conta. Formula 1. E isso até move montanhas. Mais vale ser mendigo por lá (ou burlão) do que ser rei noutros lados...
No final - e como gosto de ver as coisas com o copo meio cheio - é uma boa demonstração das potencialidades que isto poderá ter. Pode-se imaginar uma equipa de Formula 1 média - ou pequena - que atraia a atenção dos fãs, angariando fundos e criar uma ligação afetiva. Isso já existe, claro: chama-se "mershandising", mas a diferença entre um e outro é que no primeiro, não fazem um apelo num site especifico, não gravam videos, não colocam pilotos a apelar ao coração, não fazem t-shirts ou vendem partes dos carros a determinado preço, ou dizem aos adeptos que a troco de algo, podem ter o seu nome no chassis do carro. E isso têm impacto.
Em suma: mesmo que que não dê certo, muitos observarão o caso e poderão pensar em colocar em projetos semelhantes. Poderá ficar uma lição para o futuro, demonstrar o poder popular para a mobilização, se tocar no nervo certo. Mas sem aldrabices.
1 comentário:
Aí pode ter coisa...
Algo parecido apareceu na série Breaking Bad, onde Walter White lavava dinheiro através de um site criado por seu filho para arrecadar dinheiro com o objetivo de ajudar a pagar a quimioterapia do pai.
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