segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A imagem do dia (II)

A 4 de outubro de 1970, uma Formula 1 ainda em choque assistiu ao regresso da Lotus à competição, precisamente 29 dias após o desaparecimento prematuro de Jochen Rindt. E viu a uma equipa totalmente reformulada. Com Rindt morto, John Miles, o segundo piloto da marca, decidiu abandonar a equipa e o automobilismo, achando que o carro que guiava era demasiado perigoso, e também porque teve medo de ser o próximo a morrer. 

Assim sendo, Colin Chapman teve de promover a primeiro piloto uma pessoa que tinha entrado na equipa quase três meses antes, e que ano e meio antes, corria num Formula Ford! O piloto era Emerson Fittipaldi, mas ele precisava de um segundo piloto para o complementar. O escolhido foi um piloto sueco de 29 anos, com experiência na Formula 3 e Formula 2, e que tempos antes, tinha sido instrutor de condução a um compatriota seu, de seu nome Ronnie Peterson. Até aquele dia, poucos ouviram falar de Reine Wisell, e muitos ficaram de olhos arregalados para saber o que é que ele poderia fazer para que assegurasse que Rindt fosse o campeão.

Naquele dia, Jacky Ickx e a Ferrari conseguiu o seu objetivo, ao fazer a pole-position, ao lado de Jackie Stewart, com Emerson no terceiro posto e Wisell no nono lugar, nada mal para um estreante. A corrida foi primeiro dominada por Stewart nas primeiras voltas, que se afastou dos Ferrari e depois do BRM de Pedro Rodriguez, parecendo que iriam impedir que o piloto belga não alcançasse o pleno necessário para apanhar Rindt. E para piorar as coisas, na volta 57, o tubo de combustível rompido o fez ir às boxes e o atrasou ainda mais.

A vitória de Emerson começou com os azares dos outros. Primeiro, na volta 76, Stewart teve problemas com uma rutura na linha de óleo, e na volta 82 encostou de vez às boxes. Sucedeu-lhe Pedro Rodriguez, mas na volta cem, ele teve de ir às boxes para reabastecer. As desvantagens do motor V12 da BRM...

E foi assim que Emerson deu ao Brasil a sua primeira vitória na Formula 1. E mostrou ao mundo um país cheio de amantes de velocidade e excelentes pilotos. E com isso, Jochen Rindt tinha a certeza de que era o campeão do mundo, mesmo depois de morto, pois Jacky Ickx chegou ao fim no quarto posto, atrás de Emerson, Rodriguez e... Wisell. Iria ser o único pódio do piloto sueco.

Anos depois, ao recordar esse momento, afirmou: "Estava a caminho da meta quando vi Colin Chapman aos saltos e a atirar o seu chapéu. Ele tinha-o feito por Jim Clark, Graham Hill e Rindt, e só dizia para mim mesmo: 'Ele está a fazer por mim, ganhei a corrida, ganhei o GP dos Estados Unidos!' E era inacreditável". Emerson disse depois que, quando chegaram ao hotel com os 50 mil dólares do prémio, tiveram de colocar um armário na porta, por terem medo de serem roubados!

 Mas naquela tarde, em Watkins Glen, o Brasil começava a descobrir a Formula 1.

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