quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Bólides Memoráveis - Ford RS200 (1985-86)

A Ford teve sempre uma longa história no automobilismo, especialmente nos ralis. Modelos como o Escort e o Focus – e agora, o Fiesta – fazem com que a marca americana seja uma das indissociadas aos ralis desde há mais de 50 anos. O Escort de primeira geração, saído em 1968, bem como o de segunda geração, que apareceu em 1975, fizeram as delicias de dezenas de pilotos, desde Roger Clark a Ari Vatanen, continuando a correr ate a meados dos anos 80, dando títulos mundiais em 1981, com o finlandês ao volante.

Contudo, com a chegada do Grupo B, a marca foi apanhada desprevenida, e quando se esforçou por apanhar os concorrentes, fez um carro de raíz, mas acabou por ser noticia pelos piores motivos e o final do Grupo B fez com que não alcançasse o sucesso pretendido. Hoje falo do Ford RS200.

Em 1983, com o arranque dos Grupo B, a Ford estava a desenvolver um modelo de ralis baseado na terceira geração do Escort, lançado três anos antes. Ele seria chamado de Escort 1700 RS e teria tração traseira, tal como os dois anteriores modelos. Contudo, a meio de 1983, quando o Grupo B já tinha arrancado e os rivais já desenvolviam os seus modelos, a Ford teve de abandonar o projeto, frustrado com os problemas aparentemente irresolúveis de tração que esse modelo tinha. Como não queriam ficar de fora deste novo tempo nos ralis, depois de alguma reflexão, decidiram fazer um projeto do zero com tração às quatro rodas, com um chassis feito em fibra de vidro: o RS200.

Desenhado por Tony Southgate, que tinha construído a sua reputação na Formula 1, e com um chassis construído na Reliant, o carro tinha um motor de 1.8 litros com cerca de 400 cavalos em condições de corrida. Contudo, com o baixo peso do chassis (1050kg) fazia com que alcançasse os 0 aos 100 em 3.8 segundos.

Contudo, apesar da boa relação peso-potência, era pouco potente em relação à concorrência, e apesar de terem andado mais de um ano a ser desenvolvido na Grã-Bretanha, quando se estreou, no rali da Suécia de 1986, com Stig Blomqvist e Kalle Grundel aos comandos, não conseguiram mais do que um terceiro posto, por parte deste último.

Entretanto, a portuguesa Diabolique, a mais importante equipa de ralis do país, tinha também decidido adquirir um modelo RS200, dada a sua longa história com o modelo Ford. Joaquim Santos iria guiá-lo no Rali de Portugal, para depois tentar a sua sorte no campeonato nacional, contra o Renault 5 Turbo de Joaquim Moutinho.

O carro dele iria ter a assistência da Ford, ao lado de Blomqvist e Grundel, mas no primeiro dia, quando o rali passava pela Serra de Sintra, Santos e o seu navegador despistaram-se encontra um grupo de espectadores, matando três e ferindo mais 40. Por essa altura, o rali de Portugal era conhecido pela quantidade de espectadores que tinha nas bermas, colocando-se cada vez mais em perigo perante a crescente velocidade dos carros do Grupo B. Os pilotos de fábrica decidiram boicotar o resto do rali, retirando-se.

A Ford só voltaria para o Rali da Acrópole, com Grundel e Blomqvist, mas não chegaram ao fim, e só voltariam para o Rali RAC, com quarto carros alinhados. Para além dos suecos, mais outro, Stig Andervang, e o britânico Mark Lovell, vencedor nesse ano do campeonato britânico de ralis. Ali, o melhor foi Grundel, terminando na quinta posição.

Pelo meio, nos campeonatos nacionais, o carro passou pelo melhor e pelo pior. Se na Grã-Bretanha, Lovell levou o carro para o título nacional, na Alemanha, as coisas acabaram mal para o suíço Marc Surer, quando a 1 de junho desse ano, durante o Rally Hesse, perdeu o controlo do carro, embatendo fortemente contra uma árvore. O facto do carro ter volante à direita salvou Surer, mas o seu navegador, Michel Wyder, teve morte imediata.

No final de 1986, a FIA decidiu banir os Grupo B e o RS200 teve de ser retirado dos ralis, numa altura em que o motor estava a ser desenvolvido por Brian Hart, no sentido de ter ainda mais potência para se nivelar perante a concorrência. A versão “Evolution” teria um motor de 2.2 litros, com uma potência a variar entre os 510 e os 815 cavalos, dependendo dos turbocompressores, e isso vinha incluindo com melhores suspensões e componentes mais resistentes. A versão foi dada como nado-morta, mas teve vida no rallycross, onde pilotos como o norueguês Martin Schanche venceram corridas com ela, e em 1991, o título europeu.

Para além disso, houve a versão de estrada (tinham de ser feitos 200 exemplares para ser validado) e um desses modelos foi suficientemente modificado para que pudesse participar no Pikes Peak International Hillclimb, no inicio do século, onde por três vezes foi pilotado por… Blomqvist.


Ficha Técnica:


Modelo: Ford RS200
Projetista: Tony Southgate
Motor: Ford Cosworth 1.8 de quarto cilindros em linha
Pneus: Michelin
Pilotos (Mundial): Stig Blomqvist, Kalle Grundell, Joaquim Santos, Mark Lovell, Stig Andervang
Ralis: 5
Vitórias:0 
Pontos: 20 (Grundell 20) 

Sem comentários: