quinta-feira, 16 de junho de 2016

Bólides Memoráveis - Mazda 787 (1990-91)

Na semana antes das 24 Horas de Le Mans, e no conjunto de biografias que fiz sobre muitos dos carros que polvilharam as grelhas de partida das corridas de Endurance nos anos 80 e 90, falo do primeiro carro japonês a vencer a clássica de La Sarthe, o Mazda 787B. O último dos carros com motores rotativos, ele foi protagonista de uma das vitórias mais inesperadas da história do automobilismo, tudo graças a um aproveitamento dos regulamentos e a uma decisão do diretor de equipa para ser mais agressivo do que o habitual.

Desenhado por Nigel Stroud, o Mazda 787 era uma evolução do chassis anterior, o 767, mas com algumas excepções. Os radiadores tinham mudado de lugar, e na traseira, tinha, colocado "gurney flaps" no sentido de ter maior "downforce". As portas foram redesenhadas para que se pudessem colocar devidamente os radiadores para arrefecer o motor rotativo. O chassis era de fibra da carbono e de kevlar, com os painéis a serem afixados na carroçaria.

O motor rotativo era poderoso: com 2616cc, tinha quatro cilindros, montado de forma longitudinal. Tinham uma caixa de cinco velocidades provenientes da Porsche, tudo isto num chassis que pesava 830 quilos, no final.

O 787 estreou-se em abril de 1990, no circuito de Fuji, durante o campeonato japonês de Endurance, com Yoshimi Katayama, Pierre Dieudonnée e Dave Kennedy no carro novo. Depois dessa corrida, um segundo chassis foi construído, para as 24 Horas de Le Mans, e o carro esteve várias semanas a testar, preparando-se para a clássica da La Sarthe, com Jacky Ickx ao volante.

Quando estiveram prontos em junho, a Dieudonée e Kennedy juntou-se o sueco Stefan Johansson, enquanto que no segundo carro alinharam o franco-belga Bertrand Gachot, o alemão Wolker Weidler e o britânico Johnny Herbert. A Mazda alinharia um velho 767 para uma tripla totalmente japonesa de Yoshimi Katayama, Yojiro Terada e Takashi Yorino. Contudo, ambos os 787 não chegaram ao fim devido a problemas com uma fuga de óleo e um problema elétrico, que causou um principio de incêndio. Tempos depois, descobriu-se que os problemas aconteceram devido ao calor emitido pelo motor rotativo. O 767 foi até ao fim, terminando num modesto 20º lugar.

Depois de Le Mans, a Mazda decidiu retirar os 767 para correr com os 787 no Japão e na ronda japonesa no Mundial de Endurance, com o seu melhor resultado um sétimo posto nos 1000 km de Fuji. O esforço foi modesto em 1990, mas no ano seguinte, a marca decidiu investir mais no seu desenvolvimento.

Nesse ano de 1991, a Mazda decidiu que iria ter um carro para todo o campeonato mundial, com mais dois para o campeonato japonês. Para o campeonato mundial, iriam correr Dieudonée, Kennedy e o brasileiro Maurizio Sandro Sala. A gestão do 787 ficaria a cargo da francesa ORECA e tinham conseguido convencer - com a ajuda de Ickx - a FIA para os admitir naquela temporada na classe C2, mesmo sabendo que eram trezentos quilos mais leves do que os restantes carros do pelotão, como a Jaguar, Peugeot ou a Sauber-Mercedes.

Em Suzuka, o carro novo foi mais eficaz do que o velho, e acabou a corrida na sexta posição - e quaeto na classe C2 - a melhor do carro até então. Foram depois sétimos em Monza, e não chegaram ao fim em Silverstone, antes de se concentrarem nas 24 Horas de Le Mans.

Na clássica de La Sarthe, a marca japonesa inscreveu três carros, com mais um de reserva. Um chassis mais antigo foi para Dieudonée, Terada e Yorino, enquanto que os mais novos estavam com a tripla Sandro Sala, Johansson e Kennedy, e o terceiro carro, numero 55, que iria ser guiado por Weidler, Herbert e Gachot.

Nenhum dos três carros teve uma qualificação fantástica, Weidler, Herbert e Gachot foram apenas 19º na grelha e foi o melhor dos Mazda, mas a eficiência em termos de consumo e a decisão na véspera de Ohaschi, o "manager" da marca japonesa, de instruir aos pilotos do carro 55 de guiar como se fosse uma corrida de curta duração contribuiu para o resultado final. 

Nas primeiras horas, o Mazda era o terceiro, atrás dos Sauber C11, um deles guiado pela tripla constituída por Michael Schumacher, Fritz Kreutzpointer e Karl Wendlinger. Contudo, quando Wendlinger se despistou, atrasando-se, o carro da Mazda passou para o segundo lugar. As coisas não pareciam mudar até a meio da manhã, quando Alain Ferté teve problemas no seu Sauber C11 e foi às boxes. Isso colocou o Mazda no primeiro posto, para espanto de toda a gente!

No final, Herbert levou o carro até ao fim e depois foi retirado para o centro médico, pois estava desidratado devido a uma intoxicação alimentar. Weidler e Gachot foram os únicos no pódio, para celebrar a primeira vitória de um carro japonês em La Sarthe.

Depois da vitória em Le Mans, o carro prosseguiu, quer no campeonato japonês, quer no campeonato mundial. A sua última corrida foi em Autopolis, quando ficaram no nono e décimo posto. Posto isto, retiraram o 787B para ser substituido pelo RX-792P, que não era mais do que um Jaguar XJR-14 modificado, com um motor Judd V10.

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