Neste domingo, a minha prima foi ter comigo e perguntou-me sobre ralis. Eu sei que ela não liga nenhuma ao automobilismo, mas tinha uma razão para tal: ela trabalha no bar do hospital de Leiria e na sexta-feira, foi ali onde encaminharam o Carlos Vieira, depois do seu acidente na primeira especial do Rali Vidreiro. E lá expliquei do que sabia do acidente, do estado de saúde do piloto, daquilo que sabia.
Nesta sociedade que vivemos - não interessa o país A ou B, é a sociedade e os tempos que vivemos - o automobilismo é algo do qual é seguido por uma franja de fãs. E quando o resto da sociedade descobre o automobilismo, é por causa de uma desgraça. E o acidente que ele sofreu na sexta-feira colocou os ralis no mapa. Pelos piores motivos.
E ele sofreu imenso. Continua em risco de vida. Sofreu, para além das fraturas, um rompimento numa veia perto do coração, do qual teve de ser operado com urgência. Da maneira como descreveram isso, e da maneira como ele bateu na árvore - foi um embate lateral, diga-se - lembrei-me do acidente de Allan Simonsen, há cinco anos, nas 24 Horas de Le Mans, e que acabou por o matar. Não pelo acidente em si, mas porque o embate lateral com o seu Aston Martin na Tetre Rouge, causou uma ruptura num vaso sanguíneo perto do coração que lhe causou uma perda de sangue fatal.
O acidente dele foi o mais grave em 30 anos. A última vez que aconteceu um acidente fatal num rali nacional foi num Rali das Camélias, em 1988, quando o Ramiro Fernandes - um piloto daqui de Leiria que conheço pessoalmente - embateu com o seu Lancia Delta contra uma casa abandonada que servia de bancada provisória a alguns espectadores. Um deles caiu do telhado e acabou por morrer. Agora, põe-se tudo em causa. Por exemplo, a segurança do carro. Isso é relativo. Basta verem as imagens do carro do Kris Meeke depois do seu acidente aqui em Portugal, onde parte do capot ficou amassado. Se formos por aí, não tem a ver connosco, é com os fabricantes e com a FIA.
Aliás, até digo isto: se os carros - sejam de ralis, Formula 1, Turismos ou outra categoria - tem características de segurança do qual muitos criticam por achar "demasiadamente segura" e porque "estragam a beleza", é por causa de precisamente, momentos como este, onde tudo que pode correr mal, acontece. E só se espera que sobrevivam para poder contar a história. E para salvar vidas, tem de custar o que custa, porque sei dos que criticam todos estes dispositivos por serem caros, também.
A organização? Daquilo que sei, todos cumpriram com as regras em termos de espectadores e serviços de emergência, não há nada a apontar.
A única coisa que se pode apontar é a estrada de alcatrão naquela zona. Sendo eu de Leiria, conheço muito bem aquelas estradas dentro do Pinhal do Rei, como chamam os marinhenses. É uma estrada estreita - cabem dois carros lado a lado com alguma dificuldade - aquele asfalto deve ser mais velho que eu, e já entrei no clube dos quarentões. A degradação desse asfalto é inevitável, e para piorar as coisas, é no meio de uma floresta, onde o pinheiro é rei. Em suma, realcatroar aquela estrada seria a única coisa do qual apontaria o dedo. Mas é assim porque é uma estrada secundária, que é por onde andavam na especial do Pinhal do Rei, que causou o acidente do Carlos Vieira.
O que posso afirmar é que foi um acidente infeliz, do qual esperamos que ele recupere logo, porque é um excelente piloto, sei que é um excelente pessoa e é uma mais valia para os ralis e para o automobilismo nacional.
Para finalizar, recomendo ler o artigo que o José Manuel Costa escreveu hoje no Autosport. Está bem escrito e ele é boa pessoa, também faz perguntas pertinentes e desmistifica alguns mitos.
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