O episódio do Pace Car acidentado ontem em Detroit pode ter sido cómico (e foi), mas isso remeteu a um incidente que aconteceu 47 anos antes, nas 500 Milhas de Indianápolis, e levou a alterações. Um episódio sério, mas não trágico, do qual vale a pena recordar e a razão pelo qual hoje em dia temos pilotos profissionais a guiar carros destes na Formula 1, por exemplo.
Até 1971, quem guiava o Pace Car era alguém dos concessionários locais, que prestigiavam a corrida com os seus carros. Na era dos Big Three, dos "muscle cars", GM, Ford e Chrysler gostariam de ter um dos seus modelos para valorizar a marca e fazer que alguns dos 300 mil espectadores - e dos milhões que viam na TV - a entrar nos seus concessionários no dia seguinte e comprar um Mustang, Corvette ou um GTO.
Nesse ano, o carro escolhido foi um Dodge Challenger, mas ao contário do habitual, não foram as marcas a fornecer uma série de carros - a era dos "muscle cars" estava a chegar ao fim, apesar do primeiro choque petrolífero acontecer dois anos depois - mas som uma série de concessionários da zona de Indianápolis a fornecer o carro. Quem o guiava era Eldon Palmer, o chefe de um desses concessionários, um amador.
Para se preparar para a corrida, colocou um cone laranja para ter referências de travagem no fundo das boxes. Contudo, no dia da corrida, ele não existia, e sem saber Palmer passou nesse local a 125 milhas por hora (quase 190 km/hora)... e não travou. Pior: ele levava como passageiros Tony Hulman, o presidente do circuito, o astronauta John Glenn (segundo americano no espaço e o primeiro em órbita) e o jornalista da ABC, Chris Schenkel.
Palmer carregou nos travões - que eram de tambor e não de disco, muito mais eficientes - e o carro se despistou, contra um palanque cheio de fotógrafos, ferindo 29 deles. Felizmente, não morreu ninguém, apesar de haver alguns feridos graves. Dos passageiros no carro, apenas Hulman ficou magoado no tornozelo.
A administração tomou medidas para evitar que a condução do Pace Car fosse feita por amadores. A partir dali, os pilotos teriam de ser ou ex-pilotos ou alguém com experiência no automobilismo. Troy Hulmann, que vencera em 1952, foi o primeiro piloto a guiar o carro, uma tradição que depois foi seguida por outros como Mário Andretti e Emerson Fittipaldi.
Quanto ao carro, foi restaurado no inicio do século, pertence a um coleccionador particular e é exibido ocasionalmente.
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