terça-feira, 5 de novembro de 2019

A imagem do dia

Há 30 anos, acontecia uma das corridas mais molhadas da história da Formula 1. Em Adelaide, uma lotaria escolhia não os melhores, mas sim os mais capazes de sobreviver nessas condições. E se Thierry Boutsen mostrou que, pela segunda vez na sua carreira, se dava muito bem à chuva, outros mostravam-se de fora inesperada. Tão inesperada que a sua percepção mudou a partir desse dia.

Satoru Nakajima tinha 36 anos naquele 5 de novembro de 1989. Sepre tinha sido piloto da Lotus até então, embora ali já tinha assinado pela Tyrrell na temporada de 1990, já que a equipa fundada por Colin Chapman estava a deslizar para a sua decadência definitiva, apesar de uma temporada decente com o modelo 101, desenhado por Mike Coulghan e Frank Dernie. Mas o Judd V10 não era o Honda Turbo e a não qualificação no GP da Bélgica dos seus dos pilotos mostrou isso.

E mais: Nakajima não tinha pontuado até ali. Um sétimo posto em Portugal tinha sido o seu melhor resultado, mas nessa altura, não contava para os pontos. 

A qualificação fora "in extremis", pois tinha sido o 23º na grelha. E no dia da corrida, houve confusão, não só por causa das condições atmosféricas, como também as tentativas dos pilotos de que a corrida não acontecesse, e Alain Prost, na sua última corrida pela McLaren, decidiu até nem sequer voltar a sentar-se no carro na segunda partida, depois da sua primeira interrupção com bandeiras vermelhas. Apesar dos protestos, a vontade da FOCA e os organizadores levou a melhor.

Nakajima detestava circuitos citadinos e correr à chuva, e tinha as suas razões. Mas venceu os seus receios e sentou-se no carro. Era a última vez que faria isso nessa temporada. Mas tudo poderia ter acabado mal, se tivesse ficado na primeira volta, depois de um despiste na primeira chicane e ter cruzado a meta num distante último posto.

Sete pilotos tinha,-se retirado nas primeiras sete voltas, e quando Ayrton Senna se despistou na volta 13, depois de bater na traseira do Brabham de Martin Brundle, as desistências tinham-se elevado para doze. Mais três aconteceram no final da volta 19, quando Nelson Piquet também bateu na traseira do Osella de Piercarlo Ghinzani. Era um "destruction derby" à chuva, mas entre os seus pingos, Nakajima sobrevivia. E já se aproximava dos pontos.

Quando Eddie Cheever desistiu, na volta 42, apenas oito carros rodavam no asfalto. Seriam esses que chegariam à meta, e nessa altura, o piloto japonês era quarto. E ele aproximava-se de Ricciardo Patrese, o terceiro. Ele tentou ir buscá-lo, e foi nessa altura que, na volta 64, fez a sua volta mais rápida, também numa altura em que a chuva tinha diminuído um pouco. Contudo, a chance de ser o primeiro japonês no pódio não aconteceu. Mas tinha feito história.

Nakajima abandonou a Formula 1 no final de 1991, mas a sua performance desse dia ficou na memória, por ter sido a mais fantástica de alguém improvável.

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