quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Ford versus Ferrari - A verdade por trás do filme (parte 5)

(continuação do capitulo anterior)


SEGUNDA TENTATIVA EM LE MANS


Depois das esperanças da Ford, nas nãos de Shelby, e dos novos protótipos quer do lado americano, quer do lado italiano, ambos se defrontavam novamente em Le Mans. Depois dos carros vermelhos terem sido os mais velozes em abril com John Surtees a fazer o tempo mais rápido, a Ford iria voltar a carga com mais carros, quer os preparados pela Shelby American, quer os oficiais, com o motor de 7 litros que Ken Miles tinha testado e desejado a sua posse nesta corrida. Desejo conecedido: ele iria alinhar nesse carro ao lado de Bruce McLaren. Outro carro de sete litros estaria presente, com Chris Amon e Phil Hill a guiá-lo.

Outros dois Shelby American estariam presentes, mas eram Daytona Coupé. Um, que seria guiado por Dan Gurney e Jerry Grant, e outro por Bob Johnson e Tom Payne.

Mais GT40, todos com o motor de 4,7 litros, estariam presentes. Um da Ford Advenced Vehicules, e que seria conduzido pela dupla britânica John Whitemore e Innes Ireland, outro da Scuderia Fillipinetti, guiado por Herbert Muller e Ronnie Bucknum, outro da Rob Walker Racing Team, com Bob Bondurant e Umberto Maggioli ao volante, e um GT40 Spyder, inscrito pela Ford France e que seria guiado por Jo Schlesser e Guy Ligier, o futuro fundador da equipa com o mesmo nome. 

Do lado da Ferrari, havia a inscrição oficial de dois 330 P2 Spyder, um guiado pelo britânico Mike Parkes e o francês Jean Guichet e o outro por John Surtees e Ludovico Scarfiotti. A Ferrari também tinha inscrito um 275 P2 para Lorenzo Bandini e Gianpiero Biscaldi, e havia um Dino 166P para os italianos Mario Casoni e Giancarlo Baghetti.

E os privados com Ferraris eram muitos, desde os da Maranello Concessionaires - um 365P2 para Jo Bonnier e David Piper e um 250LM para Lucien Bianchi e Mike Salmon - passando pelo da Nort American Racing Team - um 365 P2 Spyder para Pedro Rodriguez e Nino Vacarella e um 250 Lm para Masten Gregory e o jovem austríaco Jochen Rindt - acabando nos belgas da Ecurie Francochamps, com Willy Mairesse e Jan Blaton a guiar um 275 GTB e Gerard Lenglois von Ophem e Leon Dernier num 250 LM.

Os Ford andaram bem nos treinos, com Phil Hill a fazer o melhor tempo, na frente do Ferrari de Surtees. Isso foi o suficiente para que os americanos decidissem transmitir em direto a partida da corrida, com Hill a fazer os comentários das primeiras voltas, enquanto Amon estava ao volante. 

Na partida, a Ford perdeu o comando, não para um Ferrari, mas para um Maserati. O carro guiado pelo suíço Jo Siffert, inscrito pela privada J. Simone, e partilhado pelo alemão Jochen Neerspach, voava nas Hunaudriéres, mas cedo foi ultrapassado pelas Fords, Quatro voltas depois, perdeu o controle do seu carro na Tetre Rouge e sofreu danos permanentes, apesar de o ter conseguido arrastá-lo até às boxes. Na frente, os Ford de Amon e McLaren comandavam, seguido pelo Ferrari de Surtees.

Ao fim de duas horas, Ken Miles - que tinha entrado no lugar de McLaren - liderava, com três Ferraris atrás dele, todos ainda na mesma volta. Phil Hill, que também tinha trocado de lugar com Amon, começou a ter problemas de embraiagem, e atrasou-se na classificação geral. Pouco depois, foi o próprio Miles que parava nas boxes de vez, vencido pela caixa de velocidades.


O PILOTO FANTASMA


Os Ferrari voltavam a ter o monopólio do pódio, mas entre eles não estava o carro da NART, guiado por Masten Gregory, que teve problemas no distribuidor, perdendo meia hora nas boxes e voltando na 18ª posição. Rindt já se tinha vestido e ia embora do circuito quando o impediram de fazer isso, pois Gregory, o "Kansas City Flash", não iria desistir.

Nascido a 29 de fevereiro de 1932, Gregory tinha uma particularidade: corria com óculos. Herdeiro de uma fortuna na área dos seguros, cedo decidiu ser piloto, influenciado pelo seu irmão mais velho julgando que com isso teria uma vida veloz e um final prematuro. Contudo, aos 33 anos, tinha tido passagens pela Formula 1 - um pódio logo na sua primeira corrida, no Mónaco - correndo quase sempre por equipas privadas, excepto em 1959, quando foi piloto oficial da Cooper. Na Endurance, até andou bem, e até então, tinha sido quinto na edição de 1961 das 24 Horas, a bordo de um Porsche 718. No ano anterior, tinha estado num dos GT40 ao lado de Richie Ginther, mas não chegaram ao fim.

Era verdade que os Ferrari oficias estavam a dominar, mas por esta altura estavam a ter problemas com os discos dos travões e nas suspensões. O carro de John Surtees perdeu meia hora e caiu na classificação geral, e quem andavam bem... eram os velhos 250LM, com os privados na frente. O francês Pierre Durmay, no seu próprio Ferrari, emparelhado por Puierre Gosselin, liderava, seguido de Gregory, no Ferrari da NART, que fazia uma corrida de pedal a fundo, sem nada a perder. Pela manhã, Gregory tinha parado inesperadamente porque tinha condensação nos seus óculos de competição, e quando foram buscar Rindt para ir correr.. não o encontraram.

Só anos depois é que se soube o que aconteceu: Ed Hugus, piloto de reserva naquele ano, foi-lhe pedido para guiar no lugar de Rindt, enquanto não o encontravam para guiar. Isso era fora do regulamento, porque Hugus não estava inscrito como co-piloto e Gregory não poderia voltar à pista, pois já tinha saído do carro. Ele fez todo um "stint" e no final, o americano voltou a correr, porque até ali, não tinham encontrado o jovem austríaco. Quando o fizeram, já estava perto do fim, e deixaram Gregory no carro para recolher a banderia de xadrez, mais um americano a triunfar... numa máquina Ferrari. E um piloto fantasma, que revelou tudo depois de morto, em 2009.

(continua)

Sem comentários: