Lembro-me bem desse dia porque estava na casa da minha avó... e o velho aparelho a preto e branco não funcionou lá muito bem. Aliás, o meu verão de 1985 foi algo frustrante porque andei a ter umas férias grandes, e levando connosco a nossa televisão Grundig a cores, e no tempo do analógico, ficar sem sinal era mais frequente do que esta nova geração imaginava. E quando fiquei sem internet no domingo, o pior dia para acontecer, lembrei-me desse verão e de algumas das corridas que acabei por não ver. E o GP de França de 1985 foi o que não vi porque nesse dia, o aparelho de televisão a preto e branco dos meus avós - um Telefunken, para terem uma ideia - falhou-me porque a emissora da Lousã não trabalhou no momento exato.
E o que aconteceu enquanto me sentava na mesa com os graúdos, frustrado por não ver a corrida? Ora, a caravana da Formula 1 estava em Paul Ricard para um caloroso GP de França, onde pilotos e máquinas assavam no asfalto do sul, perto de Marselha, com o Mediterrâneo no horizonte. E ali, era uma corrida de resistência, naquele calor de julho.
E foi o que aconteceu. Nelson Piquet passou para o comando na volta onze, depois de seguir o poleman Keke Rosberg, provavelmente ainda a celebrar o nascimento do seu filho Nico, e dali não mais saiu até à meta. Os pneus Pirelli, num ano onde parecia que os Goodyear iriam dominar, iriam ter o seu dia, enquanto o resto lutava para ter aderência naquele tipo de asfalto. Isto, enquanto não se retiravam com turbos quebrados, motores a deitarem fumo e caixas de velocidades a não funcionar... Ayrton Senna, por exemplo, retirou-se na volta 27 quando a sua caixa quebrou e o óleo escorregou para os pneus traseiros, levando-o a despistar-se com aparato.
Rosberg trocou de pneus a meio da corrida e cavalgou até ao topo, chegando a passar Prost para ser segundo na corrida, mas isso só o fez na última volta, insuficiente para apanhar Piquet, que mesmo assim ficou a 6,6 segundos. Em jeito de consolação, ficou com a volta mais rápida, mas a ua performance no fim de semana mostrou que era veloz. Contudo, o prémio da persistência tinha de ser dado a Piquet, que levou tudo até ao fim, sem falhas.
E ali, ficou na história. Era a primeira vitória de Piquet e da Brabham naquele ano, mas iria ser a última da equipa. E precisamente no mesmo país - mas não no mesmo circuito - que 21 anos antes, o americano Dan Gurney dava a primeira vitória a "Black Jack". No final, o brasileiro apontava ao chapéu negro, para dar crédito a quem devia a vitória aquela tarde calorosa de julho.
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