quarta-feira, 23 de junho de 2021

A imagem do dia


Michele Mouton faz hoje 70 anos. A melhor mulher-piloto da história dos ralis comemora esta data no ano em que passam 40 anos sobre a sua primeira vitória - e a primeira de uma mulher numa prova do WRC - quando ela foi a melhor no Rali de Sanremo de 1981, ao lado da sua navegadora, a italiana Fabrizia Pons.

Mas o melhor ano dela foi a temporada de 1982, quando a bordo do Audi Quattro, conseguiu três vitórias e o vice-campeonato. Contudo, houve dois momentos importantes para a piloto. A primeira, poderia ter acabado muito mal. A segunda, foi um momento muito frustrante. 

Primeiro, em Monte Carlo, quando Mouton ia entre os primeiros quando chegou à 12ª especial da prova. Ali, quando o carro escorregou numa camada de gelo, a piloto perdeu o controlo do seu carro e bateu forte contra o muro a 110 km/hora, com o carro destruído e a dupla magoada, com contusões na navegadora e lesões no joelho direito por parte de Michele. Foi o susto, verdade, mas depois regressou para a prova seguinte, na Suécia, onde acaba na quinta posição.

E depois, as vitórias em ralis difíceis. Primeiro, em Portugal, em março, e depois, em junho, na Acrópole (a foto que ilustra este post), nas difíceis classificativas gregas, onde os carros que chegam ao fim são os vencedores. Mas é a partir dali que o resto do mundo começa a ver Mouton como... candidata ao título. Sim, uma mulher!

E mais ainda quando em setembro, ela vence um rali do Brasil onde apenas seis carros chegam ao final. A quatro provas do seu termino, que poucos ainda tinham dúvidas do seu carro, era verdade. Mas pensavam que seria nas mãos de Bjorn Waldgaard, Hannu Mikkola e Stig Blomqvist, por exemplo, não de uma mulher. E quem queria fazer de tudo para evitar que ela triunfasse era Walter Rohrl. Que não era piloto de outra marca alemã, a Opel.

O "showdown" acabou por acontecer na Costa do Marfim, um dos dois ralis africanos do calendário e um dos mais destruidores. E a Audi... nem era para lá ir, mas como o campeonato estava em jogo, inscreveram os seus carros. E para ela, ainda tinha mais um motivo para triunfar: o seu pai estava a morrer de cancro. Tinha sido ele, dono de uma loja de flores, que incentivara a sua filha a prosseguir a sua paixão automobilística, e mesmo no seu leito de morte, disse para dar o seu melhor e tentar o título.

Ela e a sua navegadora, Fabrizia Pons, lá foram para a savana. Correram com 30ºC e cem por cento de humidade, 70ºC dentro dos seus habitáculos (!) e imenso pó, e no primeiro dia cumpriram... 1200 quilómetros de especiais, com ela uma hora na frente da prova face a Rohrl. Imaginam uma coisa destas hoje em dia no WRC? Pois... 

Mesmo com problemas no seu carro, depois de dois dias, Mouton tinha tudo controlado, apesar de problemas com problemas de transmissão. A Audi fazia de tudo para que ela pudesse arrancar e correr. Houve problemas com a injeção elétronica, e foi tudo substituído o mais depressa possível. Mas a 600 quilómetros do fim, quando Rohrl estava em cima dela para a passar e ficar com a liderança, despista-se e o carro fica muito danificado. Ainda tentou continuar, mas cinco quilómetros mais adiante, baixou os braços. 

Rohrl disse depois que teria aceitado o vice-campeonato para Mikkola, mas não para Mouton porque era uma mulher. Anos depois, corrigiu as suas afirmações, mas nunca corrigiu a sua apreciação dela: era uma piloto tão boa como eles todos. E quando foi segunda classificada no Rally RAC, de uma certa forma, o título mundial estava realmente ao seu alcance. 

Mouton pendurou o capacete em 1986, no Rali da Córsega, mas pouco antes, tinha vencido no Pikes Peak, num Audi Quatto II. Afirmou que depois dos Grupo B, não haveria mais nada a correr. Dedicou-se a montar o Race of Champions e agora é dirigente da FIA dedicada aos ralis. E claro, Feliz Aniversário!  

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