terça-feira, 22 de junho de 2021

A imagem do dia


E a pensar que tudo isto aconteceu por causa de um jogo de futebol.

Em junho de 1986, o mundo estava de olhos postos no México, em pleno Mundial de futebol, e na véspera da corrida, aconteciam os jogos dos quartos de final. Se a Argentina batia a Inglaterra com um golo ilegal de Diego Maradona - que nem o outro golo, considerado com o melhor da história de um campeonato do mundo, o conseguiu olvidar esse outro golo infame - já o Brasil tinha pela frente a França, e ambas eram das melhores equipas do momento. No caso francês, era o atual campeão da Europa, e guiados por Michel Platini, os brasileiros, então treinados por Telé Santana, tinham gente como Zico, Sócrates, Toninho Cerezo e Careca, entre outros.

O jogo fora nivelado, e acabou nos penalties, porque Zico, que teve um penalti a seu favor, permitiu a defesa de Joel Bats, o guarda-redes francês. E claro, nessas coisas, é uma questão de sorte e azar, e a fava caiu no colo dos brasileiros, que tiveram de esperar mais quatro anos para ver se conseguiam o tetra.

Esse jogo aconteceu num sábado, e alguns três mil quilómetros mais acima, nas ruas de Detroit, a Formula 1 estava ali a correr. Os vencedores provocavam os vencidos, e estes queriam ter algo para vingar. E um deles era Ayrton Senna, que tinha sido algo das provocações dos franceses da Renault, que forneciam os motores do seu Lotus.

Ora, ele largava da pole, numa corrida que iria ser complicada. Aguentou a pressão de Nigel Mansell no inicio da corrida, mas depois, na volta 5 falhou uma marcha e deixou que o britânico o passasse. Recuperou três voltas depois, quando Mansell começou a ter problemas nos travões do seu Williams. Ia afastar-se do pelotão quando sofreu um furo lento e teve de ir às boxes, caindo para oitavo. 

Senna voltaria ao comando no final da volta 38 quando Nelson Piquet parou para meter pneus. E as coisas estavam mais aliviadas para ele na volta 42, quando o seu compatriota se despistou e embateu no muro de proteção. E calmamente, caminhou para a meta, conseguindo a sua segunda vitória do ano e quarta da sua carreira. 

No final, alguém deu a Senna uma bandeira brasileira - ou ele pediu - e ele fez o resto da pista com ela na mão. E a grande ironia naquela tarde é que iria subir ao pódio com dois franceses: Jacques Laffite, no seu Ligier-Renault, e Alain Prost, no seu McLaren-TAG Porsche. E de uma certa maneira, ao agitar aquela bandeira, símbolo do orgulho restaurado depois do que acontecera no dia anterior, e ainda por cima, superior a dois pilotos franceses, foi provavelmente a vingança perfeita. E o começo de uma tradição.   

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