Ele nunca falou com ninguém sobre isso, mas você podia ver a dor em seus olhos cada vez que ele pensa sobre o acidente em Imola." Claire Williams, 2019.
Não queria acabar este dia sem falar de Frank Williams e Ayrton Senna. Aqui na foto, os três - Senna, Williams e Patrick Head - no fim de semana do GP do Brasil de 1994. Toda a gente sabe que a primeira experiência do brasileiro a bordo de um carro de Formula 1 foi em Donigton Park, em 1983, a bordo de um Williams FW08B, com o número 1, e então guiado por Keke Rosberg.
Foi uma tarde agradável, onde Senna aproveitou bem a oportunidade e correu como se fosse o seu carro de Formula 3. E os tempos foram tão impressionantes que Williams ficou de olho nele, suspeitando que ele tinha material para ser campeão.
Os anos passaram, e a Williams se tornou grande. Senna andou na Lotus e McLaren, mas em 1992, o brasileiro viu que eram eles os melhores, com Nigel Mansell e Riccardo Patrese. Se querias ganhar, tinhas de estar naqueles carros que tinham tudo: suspensão ativa, caixa de velocidade semiautomática, controlo de tração... e nos treinos, davam "calendários" à concorrência. Até Senna, o "poleman", deveria pensar quando é que daria à concorrência com aqueles carros?
Chegou a dizer que "competiria de graça" para Williams. Ele não precisava disso. Mas naqueles tempos, era complicado. Mansell não queria concorrência, e já tinha assinado com Alain Prost, que agradava à Renault, sua parceira e termos de motores. Isso iria acontecer em 1993, e Senna penou mais um ano com um chassis que andava com motor Ford V8, semelhante aos dos Benetton, mas conseguiu cinco vitórias. Com o quarto título mundial na mão, foi-se embora e nem sequer quis competir em 1994, apesar de ter contrato para essa temporada.
Senna estava feliz: finalmente iria ter essa chance. O contrato seria por três temporadas, suficiente para conseguir o que achava ser o suficiente para apanhar e ultrapassar os cinco títulos de Juan Manuel Fangio. E depois de ter tudo - as poles, as vitórias, os títulos - iria para a Ferrari fechar a sua carreira.
Mas as regras tinham sido modificadas para impedir o dominio da Williams e conter os custos. Significava que não havia mais controlo de tração e suspensão ativa. E o FW16, desenhado por Adrian Newey, não era tão eficaz como os anteriores. E Senna sofreu: andava sempre atrás de Michael Schumacher, no seu Benetton, excepto na qualificação, e nunca pontuou, nem em Interlagos, nem em Aida.
Imola esperava-se que as coisas mudassem um pouco. O brasileiro conseguiu a pole, mas a qualificação ficara marcada pelo acidente mortal de Roland Ratzenberger, no seu Simtek. E na corrida, no inicio da sexta volta, depois de algumas voltas dabaixo do Safety Car por causa de um acidente na partida entre o Benetton de J.J. Letho e o Lotus de Pedro Lamy, Senna bateu no muro na Tamburello e um pedaço da suspensão entrava no seu capacete, causando um ferimento mortal.
Williams seguiu para o hospital assim que pode. E foi aí que soube da gravidade da situação e do seu final inevitável. O seu coração ficara partido. Pela segunda vez na sua carreira, um os seus pilotos morria. Lembrou-se de Piers Courage e do seu acidente em Zandvoort, quase 24 anos antes. E para piorar as coisas, sempre quis dar o melhor carro para ele. E o destino foi-lhe violento. E para piorar as coisas, as autoridades italianas decidiram investigar sobre as circunstâncias o acidente. Surgiram indicações sobre a coluna de direção, modificada a pedido de Senna, e que poderia ter sido quebrado antes do acidente. No final, descobriu-se que a quebra foi depois do acidente, não antes.
Williams e Newey foram declarados culpados por negligência e condenados a pena suspensa. E nos anos a seguir, nenhum deles gostou de falar sobre o acidente e o carro. Para ambos, foi um duplo pesadelo: tinham o melhor piloto e não conseguiram dar o que pretendiam. E pior: ele morreu num dos seus carros. Daí o desgosto que os acompanhará até ao final dos seus dias.
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