Como leram ontem - caso não tenham lido, podem aproveitar aqui - depois da Ferrari, Mauro Forghieri, o mítico engenheiro italiano falecido na terça-feira, aos 87 anos em Modena, a sua terra natal, colocou as suas impressões digitais noutra marca italiana, a Lamborghini, dando-lhe um cunho competitivo. A marca, então controlada pela Chrysler, desenvolveu o motor 3512, um V12, e o colocou em carros de Formula 1 entre 1989 e 1993, com resultados modestos, correndo em equipas como a Lotus, Ligier, Larrousse e Minardi.
Mas para além dessas equipas, houve uma quinta, que poderia ter sido a oficial da marca, caso a Chrysler quisesse. Mas não se interessou muito, e foi mais uma aventura que outra coisa. E tudo começou com um mexicano fugitivo.
Em 1990, Fernando Gonzalez Luna, anunciou que iria meter-se na Formula 1. Afirmou que tinha 20 milhões de dólares de lado e teria ambições altas. Aproximou a Lamborghini para não só ter seus motores, como encomendou um chassis, desenhado por Forghieri e Mário Tolentino, que desenhara os carros da Alfa Romeo em 1984 e 1985. O carro estava pronto no verão de 1990, e esperava-se que fosse apresentado no GP do México desse ano, mas entretanto... Gonzalez Luna fugiu com o dinheiro.
Mas apesar das contrariedades, o projeto continuou. Ainda por cima, para a temporada de 1991, a Lamborghini iria fornecer motores apenas à Ligier, pois os contratos com a Lotus e Larrousse iriam acabar. A equipa continuou a ser montada, com Carlo Patrucco como diretor principal, com a consultadoria de Daniele Audetto, ex-Ferrari, e até Dave Morgan, um ex-piloto, na equipa como engenheiro de corrida. A Lamborghini, algo contrariada, decidiu injetar dinheiro na equipa para fazer a sua estreia, mas colocou uma condição: não seriam a equipa de fábrica. Daí se chamarem de "Modena Team SpA".
Mas os "tiffosi" preferiam outro nome: "Lambo". E para piorar as coisas, nesse ano Modena era o apelido do piloto Stefano Modena, que corria... pela Tyrrell. Confuso, não é?
Quanto a pilotos, com Mauro Baldi a desenvolver o carro, no alinhamento final calharam o italiano Nicola Larini e o belga Eric van de Poele. E iriam ser a segunda equipa a estrear-se na Formula 1, ao lado da Jordan, mais bem estruturada, com um bom chassis e um motor Ford V8.
A sua estreia, em Phoenix, não foi má. Larini qualificou-se e acabou a corrida num digno sétimo lugar, embora fora dos pontos. Duas corridas mais tarde, em Imola, o outro piloto, van de Poele, conseguiu qualificar-se e numa corrida à chuva, o belga cruzou a meta no início da última volta no quinto lugar, com dois pontos quase assegurados. Contudo, um problema no sistema de injeção de combustível o fez parar a algumas centenas de metros da meta. Classificou-se no nono posto, e o maior beneficiário da sua desistência foram... os Lotus. Mais concretamente Mika Hakkinen, que conseguiu ali os seus primeiros pontos da carreira.
Mas apesar destes resultados pontuais, a performance decaiu com o passar da temporada. A Lamborghini não quis mais injetar dinheiro na equipa, a concorrência avançou - a outra estreante, a Jordan, conseguiu 13 pontos nessa temporada - a única boa noticia foi o facto de terem saído da pré-qualificação na segunda metade do ano. Mas tirando isso, Larini qualificou-se em quatro das oito corridas e o melhor que conseguiu foram dois 16º lugares, em Budapeste e Monza, aqui com cinco voltas de atraso para o vencedor.
Apesar da situação complicada, Forghieri tentou viabilizar o projeto para 1992. Contratou Sergio Rinland para desenhar um chassis, tentou uma fusão com a Larrousse, tentou também juntar-se do projeto da Reynard para salvar a equipa, e pensou num motor Judd V8 e até mais um ano com os Lamborghini de 12 cilindros, mas no final, não deu em nada. No final de 1991, a equipa fechou as portas, sem dinheiro para continuar depois de uma temporada.
Hoje em dia, há um chassis no museu da Lamborghini, em Sant'Agata Bolognese.
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