sexta-feira, 23 de junho de 2023

Apreciação critica de "Furacão Hamilton"


Apesar de ser um leitor - e escritor - confesso não ter neste momento na minha biblioteca imensos livros de automobilismo. Contudo, ultimamente, tenho conseguido acesso a alguns e creio que agora, neste verão, seja a altura ideal para perder algum tempo nas suas leituras e para, no final, fazer aquilo que chamo de "apreciação critica" sobre elas.  

Primeiro que tudo, conhecia antecipadamente este livro, e conheço o seu autor. O Sérgio é um jornalista experimentado - mais de 35 anos no meio - e competente, mas também sou o primeiro a reconhecer que ele nunca escreveu algum livro sobre automobilismo, e ainda mais, uma biografia de um piloto. Logo, aventurar-se numa coisa destas é passear em campo incógnito. Mas no final, pode-se afirmar que o trabalho era fácil e cumpriu o mínimo requerido. Mas não deslumbra, e explico o porquê nas linhas abaixo.    

De facto, para começar, o título é adequado. Lewis Hamilton é um furacão, e tem o material dos campeões. Esforçou-se bastante nesse campo, e com a ajuda do pai, que se sacrificou bastante para que tivesse karts adequados para o seu desenvolvimento como piloto, convenceu a McLaren que valia a pena apostar nele para desenvolver a sua carreira e ir para os monolugares. E foi ao serviço da McLaren que se estreou na Formula 1 em 2007 e deslumbrou, quase ganhando o campeonato do mundo, e pelo caminho, perturbou um Fernando Alonso que julgava ter a equipa na mão. Ganhou no ano seguinte, por um ponto, e o título foi decidido... na última curva da última volta, ao ponto de a Ferrari e Felipe Massa terem celebrado o título... por 20 segundos. 

O livro fala de alguns dos segredos do piloto britânico (trabalha bem sob pressão, encara tudo como um prazer, fica em grande forma depois de um tempo de relaxamento...) e fala também sobre como ele foi seduzido pela Mercedes, em meados de 2012, e como Niki Lauda teve um papel importante para o convencer - bem como Ross Brawn, o diretor técnico da equipa. E como o pedido de igualdade em termos de material foi o suficiente para bater Nico Rosberg, e como ele tenta sempre encontrar forças nas fraquezas. É um livro interessante, explicativo e honesto.

Contudo, ele tem um grande problema. Aliás, acho que isso é um grande defeito de todo este tipo de biografias desportivas: é uma obra em progresso, ou seja, a carreira do piloto ainda está a decorrer, ainda não pendurou o capacete ou avançou para outras coisas na sua vida. Em suma, tu mal pegas nesta livro, sabes à partida que está incompleto. Foi escrito no final de 2019, e tu sabes que não fala do título de 2020, o heptacampeonato, do duelo de 2021 com Max e o final controverso de Abu Dhabi, e claro, a decadência do material da Mercedes, que pouco pode fazer contra uma Red Bull imparável. E evidentemente, um Hamilton que já caminha para os 40 anos e a grande dúvida se ele ainda terá a chance de conseguir um oitavo campeonato e assim bater Michael Schumacher. Falta tudo isso, daí achar que, sendo honesto, é prematuro e está incompleto. Estará sempre. 

Será que o autor pegará no libro numa edição futura e acrescentará tudo isso? Resta esperar. Mas a minha opinião pessoal é esta: fazer biografias de gente jobem e em atividade não é a coisa certa. Arriscar e fazer algo que terá uma validade curta é um risco. A pressa é inimiga a perfeição. Mas apesar de tudo, um título em português sobre um determinado piloto é interessante. 

Dentro em breve pretendo fazer outra apreciação critica, de outra biografia. Até lá!   

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