Ou seja, desde o primeiro momento da temporada de 1998, Rosset foi "persona non grata" na equipa do Tio Ken. E com alguma razão, porque era o piloto mais lento do pelotão, ao ponto de ficar acima dos temidos 107 por cento. Não se qualificou por cinco vezes, e uma delas, no Monaco, levou a que os mecânicos da sua equipa trocarem as letras do seu nome e o chamarem de "TOSSER", um insulto no calão britânico.
Mas Rosset era assim tão mau? Afinal de contas, tinha sido vice-campeão de Formula 3000, em 1995, pela Super Nova, batido apenas pelo italiano Vicenzo Sospiri.
Nascido a 27 de julho de 1968 em São Paulo e herdeiro de uma firma de roupa interior, começou a correr em monolugares em 1991, pela Formula Opel Euroseries, antes da Formula 3 britânica, em 1993, onde acabou em quinto na temporada de 1994. No final de 1995, já vice-campeão da Formula 3000, tentou a sua sorte na Formula 1, juntando-se a Jos Verstappen na Footwork Arrows.
Contudo, logo no começo, o próprio Rosset disse que a equipa vivia numa fase de transição depois de ter sido comprada por Tom Walkinshaw, e não havia muito dinheiro para peças, e preferiram apostar no neerlandês, muito mais rápido que o brasileiro, que tinha um bom patrocinador e quase nunca teve a chance de batê-lo.
Seguiu-se a Lola Mastercard, que, bem... prometeu muito e foi demasiado horrível para ser verdade. Mais de 11 segundos mais lento que o resto do pelotão, apenas aguentou uma corrida antes de arrumarem as coisas e pararem de brincar às equipas de Formula 1 nas vésperas do GP do Brasil, a segunda corrida do ano. Não correu no resto da temporada, mas no inicio de 1998, estava de volta, para ser o companheiro de "Tora" Takagi.
Nem tudo foi mau. Por exemplo, Rosset consegui ser o oitavo no GP do Canadá, numa corrida marcada pela chuva. Mas, apesar de ter cruzado a meta com uma volta de atraso para o vencedor, apenas conseguiu ter dois pilotos atrás de si, um deles o Sauber de Pedro Paulo Diniz, seu compatriota, e o Williams de Jacques Villeneuve. E acabou por ser o melhor lugar da equipa naquela que viria a ser a sua última temporada na Formula 1.
Contudo, o mal já estava feito. Chegou-se a pensar ser substituído pelo dinamarquês Tom Kristensen, o futuro "rei" de Le Mans, e chegou a haver um "shootout". Ele e Takagi andaram com tempos idênticos, enquanto Kristensen foi meio segundo mais lento, mas com um motor mais velho. Anos depois, em 2019, Rosset disse que ele andou com o mesmo carro, apenas com alguns ajustes para se adaptar à condução.
Na Alemanha, Rosset bateu forte durante os treinos livres, lesionando-se e não podendo participar no resto da sessão. Essa foi a razão da sua não-presença nesse Grande Prémio, ganho por Mika Hakkinen. E foi o primeiro dos seus três acidentes sérios. O segundo foi na Bélgica, quando não conseguiu ver o desastre que estava a acontecer na sua frente - o carro que se atira ao "mosh" de carros é ele - e no Japão, onde outro acidente nos treinos causa uma lesão no pescoço, que o impediu de se qualificar para a corrida.
No final, Rosset contou que a equipa preferia o Takagi porque queria ganhar os favores da Honda. "Eles queriam que ficasse bem na fotografia... logo, eu não era bem-vindo. Tenho a certeza que ninguém foi atrás de mim", concluiu.
Depois disso, abandonou a competição para se concentrar no negócio de família. Mas dez anos depois, regressou à competição, correndo em Porsches no Brasil e sendo tricampeão da categoria em 2010, 2013 e 2015. E os carros que ele andou, o Footwork e o Tyrrell, tem pelo menos um dos exemplares na sua casa.
E acerca da sua careira, afirma: "O que as pessoas dizem de mim, não me incomoda muito".
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